São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2011 |
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OPINIÃO No Estado imaginado por líderes como Gaddafi e Assad, não basta a sujeição CHRISTOPHER HITCHENS DA "SLATE" Foi particularmente satisfatório ver, na tomada da Praça Verde de Trípoli e da fortaleza de Gaddafi, o uso real de áreas que até agora estavam reservadas a uma maneira peculiar de humilhação -o comício em honra do líder. Imagine quatro décadas de participação compulsória em rituais como esse -beijar os pés do dono e gritar louvores em uníssono- tornada atividade cultural dominante. Gaddafi era viciado nessa encenação sadomasoquista. O mesmo, é claro, vale para Saddam Hussein. E continua ainda a valer para Bashar Assad. No Estado pavoroso tão apreciado por esses líderes de fantasia, não basta aquiescência ou sujeição. É preciso que a pessoa se torne participante plena em sua opressão e que aprenda a adorar a coletivização do entusiasmo compulsório. O colapso do sistema de Gaddafi é simbolizado pela derrubada de suas estátuas. Um estilo de cafonice e kitsch neofascista será o que sobrará para estudar. Quanto ao resto, há um histórico de aniquilação cultural Um país rico e de população muito pequena, e vejam seus dentes! Suas roupas! A patética mediocridade do povo, quando contrastada com os baús de fantasias de Gaddafi e com sua rede de palácios, terminou por se combinar à lembrança da cumplicidade forçada para produzir um sentimento real de repulsa e fúria. O levante deu a grande número de líbios a oportunidade de participar de um processo prolongado, dinâmico e espontâneo. Alguns comentaristas acreditam que essa extensão da participação seja positiva, por ensinar às diferentes facções a importância de trabalharem juntas. Mas é preciso contrastar a isso a paralisação prolongada da economia, as oportunidades prolongadas de saques e a disseminação descontrolada de armas. A necessidade de recomeçar do zero, depois de 42 anos tão impiedosos, é motivo para cautela. CHRISTOPHER HITCHENS é colunista das revistas "Vanity Fair" e "Slate" Tradução de PAULO MIGLIACCI Texto Anterior: Diário de Trípoli: Tiros para o alto, a alegria rebelde, são risco de vida Próximo Texto: Saiba mais: Bastião de Gaddafi serve à exportação Índice | Comunicar Erros |
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