São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Medida foi tomada após pressão dos EUA; líder palestino comemora, mas tanques permanecem em Ramallah

Israel levanta cerco de dez dias a Arafat

Ammar Awad/ Reuters
Arafat faz sinal de vitória depois de Israel levantar o cerco ao seu principal quartel-general em Ramallah


DA REDAÇÃO

Israel encerrou ontem o cerco de dez dias ao quartel-general do presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat, em Ramallah (Cisjordânia), após fortes pressões dos EUA. O líder palestino deixou o QG semidestruído distribuindo beijos e fazendo o "V" da vitória.
A retirada representou uma derrota para Israel, que havia afirmado que só suspenderia o cerco quando Arafat entregasse cerca de 50 militantes suspeitos de envolvimento com terrorismo.
Imediatamente após a retirada dos tanques israelenses, centenas de palestinos correram para o prédio onde Arafat ficou isolado. A bandeira palestina foi hasteada no topo do edifício, parcialmente demolido por Israel.
"Não posso acreditar que você ainda está vivo", disse a mulher de um dos guarda-costas de Arafat, uma das 200 pessoas que ficaram sitiadas. "Nós não achávamos que iríamos sobreviver, especialmente durante a primeira noite. Sentíamos como se a destruição estivesse avançando por todos os lados", respondeu o marido.
O recuo ocorreu pouco depois de o presidente dos EUA, George W. Bush, enviar uma mensagem ao primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, pedindo um rápido fim ao cerco a Arafat.
"O presidente está muito satisfeito com este avanço", declarou ontem Gordon Johndroe, porta-voz da Casa Branca, a respeito do recuo de Israel.
Entre os sacos de areia que protegiam a entrada do prédio -o único que as tropas israelenses deixaram de pé-, um Arafat abatido e sorridente fez a saudação da vitória.
Pouco antes de sair de lá, o líder palestino dissera aos repórteres que Israel não havia acatado a resolução do Conselho de Segurança da ONU, que no dia 24 solicitara um fim imediato do cerco.
"Isto não é uma retirada", disse Arafat. "Trata-se apenas de um recuo de uns poucos metros. Eles estão tentando iludir a comunidade internacional." Em seguida, o líder palestino reiterou o apelo de um "completo cessar-fogo".
Arafat pôde sair de Ramallah em poucas oportunidades desde dezembro, quando foi feito o primeiro cerco a ele.
Israel declarou que suas tropas permaneceriam nos arredores dos prédios destruídos a fim de evitar a fuga de dezenas de palestinos que ainda estariam nas construções. Mais dez tanques de Israel entraram em Ramallah para buscar suspeitos.
Em visita ao complexo onde Arafat esteve sitiado, o enviado da ONU para o Oriente Médio, Terje Roed-Larsen, disse: "O que ocorreu deve servir de oportunidade para que ambas as partes voltem a negociar e encontrem uma solução de paz".
Enquanto o Exército israelense procedia à retirada, Sharon embarcava em um avião para Moscou, onde tentará convencer as autoridades russas de que o Iraque está desenvolvendo armas de destruição em massa.
Nos últimos dias, o líder israelense enfrentou críticas em seu próprio país. Muitos analistas políticos consideraram um mau passo a ofensiva contra Arafat. Segundo eles, a operação teria arranhado a imagem de Israel diante da comunidade internacional.
Para tentar atenuar as tensões, Sharon enviou a Washington o seu chefe de gabinete, Dov Weisglass. O porta-voz do primeiro-ministro, Raanan Gissin, disse que Israel fará "tudo o que estiver ao alcance para ajudar os EUA em sua luta contínua contra o terrorismo internacional".
O cerco também causou tensões na coalizão liderada por Sharon, que reúne uma ala de direita, partidos religiosos e o Partido Trabalhista, de centro esquerda.
Pelo menos 1.572 palestinos e 601 israelenses já morreram desde o início da atual Intifada (levante palestino contra a ocupação israelense), há dois anos.

Com agências internacionais.


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