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CUBA
Intelectuais reunidos em Paris manifestam decepção com o silêncio do presidente brasileiro em relação a direitos humanos na ilha
Críticas a Lula marcam ato contra Fidel
DA REDAÇÃO
Diversos intelectuais, entre eles
o ex-ministro da Cultura espanhol Jorge Semprún e o cineasta
Pedro Almodóvar, se reuniram
ontem no ato "Cuba Sim, Castro
Não", em Paris, para protestar
contra violações de direitos humanos na ilha.
O encontro, organizado pela
ONG Repórteres Sem Fronteiras
(RSF), foi marcado por críticas à
visita do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva à ilha na semana passada, quando evitou falar sobre
direitos humanos e ignorou um
pedido de audiência com familiares de presos políticos.
Em entrevista à France Presse, o
secretário-geral da RSF, Robert
Menard, disse estar "aterrorizado
com tanta covardia". Menard havia escrito a Lula antes de sua visita a Cuba para pedir que ele se
reunisse com familiares dos cerca
de 80 dissidentes presos em março pelo regime do ditador Fidel
Castro.
"Ninguém pediu muita coisa a
Lula, apenas que manifestasse publicamente sua discordância
[com as prisões] e que recebesse
os familiares", disse Menard.
O governo cubano tem alegado
que esses dissidentes faziam parte
de uma conspiração para derrubar Fidel, com apoio do governo
norte-americano.
Na semana passada, pouco antes de embarcar para Cuba, Lula
havia dito que não falaria sobre a
questão dos direitos humanos em
Cuba, alegando se tratar de um
assunto interno do país.
"Não é boa política um chefe de
Estado se meter em assuntos internos de outro país. Vou tratar
dos interesses do Brasil. Não vou
dar palpite em política interna de
outro país", disse Lula, na última
quinta-feira.
Realizado num teatro, o ato
também contou com os atores
franceses Pierre Arditi e Catherine Deneuve, entre outros artistas
e intelectuais.
Frustração
Semprún, que presidiu o ato,
disse estar "totalmente decepcionado e frustrado com a visita de
Lula a Cuba e pelo fato de que não
tenha aproveitado sua influência
atual, enorme e merecida, na
América Latina e nos países
emergentes para dizer a Fidel Castro o que pensa sobre os direitos
humanos".
"Na primeira ocasião que tiver,
quando vir pessoalmente o ministro da Cultura, Gilberto Gil, falarei
sobre minha decepção", disse
Semprún. Para ele, o silêncio de
Lula se deve ao fato de que "parte
de seus companheiros de governo
e partido foram exilados em Cuba
e conhecem a Cuba solidária".
Para Semprún, no entanto, isso
não serve de desculpa: "A política
não é sentimental. Política é tomar posição e saber que o apoio
populista que pode ser dado em
alguns setores da América Latina
é um apoio que contribui para
perder influência nos setores mais
amplos da América Latina", disse
o ex-ministro.
A escritora cubana Zoe Valdés,
radicada em Paris, também qualificou de "negativo o fato de que
Lula não tenha se reunido com
Blanca Reyes, mulher do jornalista e poeta Raúl Rivero", detido no
ano passado e em seguida condenado a 20 anos de prisão.
"O mínimo que ele poderia ter
feito era enviar uma mensagem
de apoio. Era o dever de um presidente eleito democraticamente",
disse a escritora, que negou, no
entanto, que a visita de Lula tenha
sido um apoio a Fidel.
"Ele visitou para dizer que tinha
de fazer um ajuste nas relações
econômicas entre os dois países e
pedir que Cuba pagasse o que deve ao Brasil", disse Valdés.
Já o escritor cubano Eduardo
Manet disse que "não tinha nenhuma esperança de que Lula se
manifestasse de maneira firme".
"Sou a favor do povo cubano e
contra Castro", disse o cineasta
espanhol Pedro Almodóvar, que
viajou de Madri a Paris apenas para participar do encontro.
Almodóvar voltou a criticar a
prisão de dissidentes em Cuba. "A
mim me parece ingenuidade de
Castro pensar que ninguém iria
saber [das prisões] ao se aproveitar de uma guerra tão grande",
em alusão à ocupação do Iraque.
Com agências internacionais
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