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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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CUBA

Intelectuais reunidos em Paris manifestam decepção com o silêncio do presidente brasileiro em relação a direitos humanos na ilha

Críticas a Lula marcam ato contra Fidel

DA REDAÇÃO

Diversos intelectuais, entre eles o ex-ministro da Cultura espanhol Jorge Semprún e o cineasta Pedro Almodóvar, se reuniram ontem no ato "Cuba Sim, Castro Não", em Paris, para protestar contra violações de direitos humanos na ilha.
O encontro, organizado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), foi marcado por críticas à visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à ilha na semana passada, quando evitou falar sobre direitos humanos e ignorou um pedido de audiência com familiares de presos políticos.
Em entrevista à France Presse, o secretário-geral da RSF, Robert Menard, disse estar "aterrorizado com tanta covardia". Menard havia escrito a Lula antes de sua visita a Cuba para pedir que ele se reunisse com familiares dos cerca de 80 dissidentes presos em março pelo regime do ditador Fidel Castro.
"Ninguém pediu muita coisa a Lula, apenas que manifestasse publicamente sua discordância [com as prisões] e que recebesse os familiares", disse Menard.
O governo cubano tem alegado que esses dissidentes faziam parte de uma conspiração para derrubar Fidel, com apoio do governo norte-americano.
Na semana passada, pouco antes de embarcar para Cuba, Lula havia dito que não falaria sobre a questão dos direitos humanos em Cuba, alegando se tratar de um assunto interno do país.
"Não é boa política um chefe de Estado se meter em assuntos internos de outro país. Vou tratar dos interesses do Brasil. Não vou dar palpite em política interna de outro país", disse Lula, na última quinta-feira.
Realizado num teatro, o ato também contou com os atores franceses Pierre Arditi e Catherine Deneuve, entre outros artistas e intelectuais.

Frustração
Semprún, que presidiu o ato, disse estar "totalmente decepcionado e frustrado com a visita de Lula a Cuba e pelo fato de que não tenha aproveitado sua influência atual, enorme e merecida, na América Latina e nos países emergentes para dizer a Fidel Castro o que pensa sobre os direitos humanos".
"Na primeira ocasião que tiver, quando vir pessoalmente o ministro da Cultura, Gilberto Gil, falarei sobre minha decepção", disse Semprún. Para ele, o silêncio de Lula se deve ao fato de que "parte de seus companheiros de governo e partido foram exilados em Cuba e conhecem a Cuba solidária".
Para Semprún, no entanto, isso não serve de desculpa: "A política não é sentimental. Política é tomar posição e saber que o apoio populista que pode ser dado em alguns setores da América Latina é um apoio que contribui para perder influência nos setores mais amplos da América Latina", disse o ex-ministro.
A escritora cubana Zoe Valdés, radicada em Paris, também qualificou de "negativo o fato de que Lula não tenha se reunido com Blanca Reyes, mulher do jornalista e poeta Raúl Rivero", detido no ano passado e em seguida condenado a 20 anos de prisão.
"O mínimo que ele poderia ter feito era enviar uma mensagem de apoio. Era o dever de um presidente eleito democraticamente", disse a escritora, que negou, no entanto, que a visita de Lula tenha sido um apoio a Fidel.
"Ele visitou para dizer que tinha de fazer um ajuste nas relações econômicas entre os dois países e pedir que Cuba pagasse o que deve ao Brasil", disse Valdés.
Já o escritor cubano Eduardo Manet disse que "não tinha nenhuma esperança de que Lula se manifestasse de maneira firme".
"Sou a favor do povo cubano e contra Castro", disse o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, que viajou de Madri a Paris apenas para participar do encontro.
Almodóvar voltou a criticar a prisão de dissidentes em Cuba. "A mim me parece ingenuidade de Castro pensar que ninguém iria saber [das prisões] ao se aproveitar de uma guerra tão grande", em alusão à ocupação do Iraque.


Com agências internacionais

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