São Paulo, quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empresários dividem-se sobre solução

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para além da péssima repercussão no exterior, o governo Roberto Micheletti calculou mal o custo interno de baixar estado de sítio por 45 dias em Honduras -o qual prometeu revogar anteontem. Acabou vendo ganhar fôlego entre seus apoiadores no Congresso e no setor privado chamados mais intensos por uma solução negociada para a crise.
O grande temor é que a atual situação enterre de vez a possibilidade de que as eleições gerais marcadas para novembro venham a ser reconhecidas internacionalmente. A hipótese é o que mais preocupa os empresários ouvidos pela Folha.
"Após três meses de crise, nenhuma proposta pode ser rejeitada. Estou otimista", afirma Oscar Galeano, da diretoria da Cohep (Conselho Hondurenho de Empresas Privadas), a principal associação do setor produtivo.
Galeano, agora, não rejeita uma solução na qual Manuel Zelaya volte ao poder. Vê ainda em Micheletti uma posição menos intransigente. Diz que os empresários pressionam-o pelo fim do estado de sítio, argumentando que ele prejudicará até turnos das fábricas.
Galeano acredita que já há um canal de contato direto entre Zelaya e Micheletti, por meio do bispo católico Juan José Pineda, que esteve na embaixada brasileira no sábado.

Embaixador dos EUA
Uma proposta que inclui o retorno do deposto também foi sugerida ontem por Adolfo Facussé, presidente da Andi (Associação Nacional de Industriais) -embora a ideia tenha itens de difícil aceitação, como o oferecimento de uma vaga vitalícia de deputado a Micheletti.
Em comum entre os dois movimentos está o fato de que tanto o presidente da Cohep, Amílcar Bulnes, como Facussé, da Andi, reuniram-se com o embaixador dos EUA em Tegucigalpa, Hugo Llorens.
Llorens, um dos únicos altos representantes diplomáticos a permanecer no país, convidou à sua casa um pequeno grupo de empresários no domingo. Entre eles estavam Antonio Tavel, empresário de telefonia móvel -setor dominado por capital americano- e Facussé.
Agora defensor de uma saída negociada, Facussé diz que foi impedido de entrar nos EUA no mês passado, justamente por ter sido considerado por Washington um dos articuladores do golpe.
Estavam também com Llorens os quatro principais candidatos a Presidente -como os empresários, grupo interessado diretamente no reconhecimento das eleições.
Ontem foi a vez de mais empresários e Amílcar Bulnes almoçarem com o embaixador americano.
A articulação, porém, não tem a simpatia de todos. Santiago Ruiz, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Honduras, reclama das pressões de Llorens sobre os empresários por uma solução que envolva a volta de Zelaya ao cargo, mesmo "hipercondicionada".
"Com Zelaya esse país vai se tornar ingovernável. É preciso entender." Ruiz é integrante do Cohep e porta-voz de um setor que responde por 35% do PIB. Ele propõe o afastamento de Micheletti e que uma terceira pessoa seja indicada para a Presidência.


Texto Anterior: EUA sofrem pressão por uma posição uniforme sobre golpe
Próximo Texto: Repressão: ONU e OEA condenam medidas de regime golpista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.