São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

SABATINA FOLHA UOL ASNE SEIERSTAD

Autora de 'O Livreiro de Cabul' diz que escreverá sobre a Líbia


ESCRITORA NORUEGUESA AFIRMA QUE ATENTADOS EM SEU PAÍS FORAM RESULTADO DO EXTREMISMO E QUE A DIREITA LOCAL DEVE VIRAR ALVO DO SERVIÇO SECRETO


CARLOS MESSIAS
DE SÃO PAULO

Com traje discreto e pouca maquiagem, a jornalista e escritora norueguesa Asne Seierstad subiu ao palco do Teatro Folha, em São Paulo, no início da tarde de ontem.
Autora dos bestsellers "O Livreiro de Cabul" e "101 Dias em Bagdá", Asne falou sobre sua experiência de 18 anos cobrindo conflitos internacionais e também comentou os ataques terroristas, que deixaram 77 mortos, em seu país.
"Foi terrível ver de perto o que estávamos acostumados a ver em outros países, mas nunca no nosso", reconhece. "Tomávamos nossa segurança como garantida e percebemos que não era bem assim, mesmo entre nós."
Segundo a autora, o incidente gerou uma mudança de atitude na população norueguesa. "Duas semanas atrás, tivemos eleição. Ele [Anders Behring Breivik, o autor dos ataques] havia sido membro do Partido Progressista [de direita]", relembra.
"Seu eleitorado caiu vertiginosamente. Foi uma resposta da população. Pode ser concluído que nos preocupávamos só com o islamismo. Tínhamos muita inteligência sobre muçulmanos, mas nunca sobre nós mesmos. A partir de agora, direitistas devem cair no radar do serviço secreto."
De passagem pelo Brasil para participar da edição catarinense do Fronteiras do Pensamento, Asne Seierstad participou da Sabatina Folha UOL.
O encontro teve mediação de Paulo Werneck, editor da Ilustríssima. Também participaram o repórter de Mundo Samy Adghirni; a professora de história e cultura árabe da USP Arlene Clemesha e o editor de Internacional do UOL Notícias, Edilson Saçashima.
Asne revelou que está prestes a ir para a Líbia, onde deve trabalhar no seu próximo livro, sobre a Primavera Árabe. Também comentou o processo movido pelo afegão Shah Muhammad Rais, o personagem principal de "O Livreiro de Cabul".
Leia os principais trechos:

LÍBIA
Será a minha primeira vez, não sei muito bem o que esperar. Eu não queria ir para a Líbia direto, pois acho que a situação é mais interessante agora. Até hoje, todo mundo só falou sobre os rebeldes.
Acho que é o momento de enxergar os outros lados. Preciso observar pessoas comuns, ver o que eles sonham para a Líbia. Eles protestam contra Gaddafi, mas essas pessoas podem querer outras coisas que não um democrata. O grande desafio é entender que tipo de líder os líbios querem. Depois disso, claro, espero dar um furo. Adoraria que ele caísse enquanto eu estiver lá.

REDES SOCIAIS
Não acho que possam ser responsabilizadas pelos protestos na Tunísia e no Egito. Quer dizer, não basta apertar o botão de "curtir" no Facebook, você realmente precisa estar lá. Mas claro que a internet teve papel instrumental em unir os manifestantes.

INVASÃO OCIDENTAL
Sou radicalmente contra a invasão estrangeira. A maior parte dos afegãos vê isso como uma ocupação e seus atos denotam essa preocupação. Temos de pensar em outras formas de lidar com os conflitos no mundo árabe.

IMPARCIALIDADE
Como jornalista, meu objetivo é reportar o que eu vejo. Mas acho que somos reflexo da nossa criação. Cresci nos anos 70, sou filha de pais liberais e de mãe feminista. Nas minhas reportagens, muito embora eu seja objetiva, acredito que seja possível enxergar o meu ponto de vista nas entrelinhas. Em vez de procurar essa imparcialidade no meu trabalho, acho importante que o leitor procure autores de outros países e que tenham outros pontos de vista.

DIREITOS IGUAIS
Nas minhas reportagens, usei burca feita de nylon espesso, que não transpira. Também fica muito apertada na cabeça. Como jornalista, foi bom, pois pude observar situações que eu não poderia observar como eu mesma. Mas sou contra qualquer tipo de restrição, as pessoas deveriam poder vestir o que quiserem.
A burca se tornou um símbolo do quanto as mulheres afegãs são oprimidas e essa questão vai muito além do vestuário. No mundo todo, as mulheres nunca tiveram nada de graça. Cabe ao mundo ocidental ensinar as mulheres árabes a conquistarem poder.

O LIVREIRO E O PROCESSO
Passei três meses na casa dele e descrevi exatamente o que eu vi. Pelo visto, ele não gostou de como o retratei, mas, então, não deveria ter me mostrado tudo. Há quatro anos, só nos falamos por advogados. Mas acho ótimo que ele tenha escrito o livro ["Eu Sou o Livreiro de Cabul"].


Texto Anterior: Cuba: Em nova mudança, Raúl extingue Ministério da Indústria Açucareira
Próximo Texto: Frases
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.