São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 2002

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RÚSSIA

Pesquisa revela apoio dos russos ao presidente; políticos também o elogiam, mas pedem investigação sobre a morte de 117 reféns

85% aprovam a ação de Putin em teatro

DA REDAÇÃO

A conduta do presidente Vladimir Putin diante da tomada de um teatro em Moscou por terroristas tchetchenos aumentou sua já alta popularidade entre os russos e recebeu ontem manifestações de apoio de políticos.
Segundo a primeira pesquisa conduzida desde a tomada do teatro, na quarta-feira passada, 85% dos russos apóiam as decisões do presidente durante o sequestro, que terminou no sábado com a morte de pelo menos 117 dos cerca de 750 reféns e da maior parte dos cerca de 50 sequestradores.
Só 10% dos ouvidos na sondagem, conduzida pela VTsIOM, disseram ser críticos à conduta de Putin. Antes da crise, sua popularidade já era de mais de 70%, reforçando seu favoritismo na eleição presidencial de 2004.
Políticos da União de Forças de Direita (SPS) também elogiaram a atuação do presidente, mas exigiram a abertura de uma investigação parlamentar sobre o cerco.
"Putin agiu de forma absolutamente correta ao se recusar a conversar com terroristas. Se tivesse [conversado", teria sido uma demonstração de pura fraqueza e irresponsabilidade, teria significado o fim da Rússia", disse Boris Nemtsov, da SPS.
A investigação, segundo a SPS, tentaria responder à questão de como tantos tchetchenos fortemente armados conseguiram se movimentar livremente por Moscou e tomar um teatro lotado.
Os EUA, que também já elogiaram a atuação de Putin durante o cerco ao teatro, voltaram a criticar ontem o mistério em torno do gás letal usado quando soldados de elite entraram no local no sábado.
"Pelo que sabemos, foi um opiáceo", disse o embaixador americano na Rússia, Alexander Vershbow. "Lamentamos que a falta de informação [sobre o gás] tenha contribuído para a confusão depois que a operação para libertar os reféns terminou. Com um pouco mais de informações, pelo menos alguns reféns a mais poderiam ter sobrevivido."
Acredita-se que 115 das 117 mortes de reféns tenham sido provocadas pelo gás.
Autoridades russas recusaram-se a revelar qual gás foi usado, até mesmo a médicos que trataram os reféns, e não forneceram nenhum antídoto. Para alguns especialistas ocidentais a substância usada foi o agente BZ, que atua no sistema nervoso, e não opiáceos.
Opiáceos agem especificamente sobre os receptores da dor, mas um de seus efeitos colaterais é a sonolência, e doses altas podem causar falência respiratória, disse um médico de Moscou à Reuters.
Outra crítica veio da organização Anistia Internacional, que lançou ontem uma campanha de combate às violações dos direitos humanos na Rússia.
"Quando as pessoas ao redor do mundo pensam sobre violações de direitos humanos na Rússia, elas pensam na [guerra na] Tchetchênia", disse Irene Khan, secretária-geral do grupo. "Mas o que é muito menos conhecido é que o mesmo clima de impunidade que marca a situação na Tchetchênia infelizmente permeia todo o sistema penal da Rússia."
A Anistia afirmou que a tomada do teatro em Moscou "era um lembrete horripilante da situação não resolvida na Tchetchênia".
Apesar de condenar a tomada de reféns, a organização pede que Putin não use a "guerra ao terrorismo" para realizar ainda mais violações de direitos humanos.
A guerra na Tchetchênia teve um papel-chave na eleição de Putin, anteriormente um pouco conhecido chefe dos serviços de inteligência, há dois anos.
Sua promessa de aniquilar os terroristas na região obteve apoio maciço da população, que tenta de tudo, de subornos a atestados médicos falsificados, para livrar seus filhos da convocação para lutar na Tchetchênia.
Mas, em um sinal de que a guerra na república separatista está longe de terminar, separatistas derrubaram ontem um helicóptero militar perto da capital tchetchena, Grozny, matando quatro soldados russos.
A Rússia enviou ontem à Dinamarca uma lista com os nomes de supostos terroristas que participavam do Congresso Mundial Tchetcheno, concluído ontem em Copenhague com a adoção de uma proposta de acordo que põe a segurança da população na frente da independência da república e a condenação da tomada de reféns no teatro de Moscou.
"Se há terroristas, naturalmente serão presos", disse ontem o ministro das Relações Exteriores dinamarquês, Stig Moeller.
A Rússia pediu anteontem que a Dinamarca cancelasse o congresso, que reuniu cerca de uma centena de líderes separatistas tchetchenos e defensores dos direitos humanos russos e ocidentais por dois dias, e prendesse os "terroristas" que participavam dele.
A Dinamarca manteve o evento, dizendo que a liberdade de reunião e expressão eram direitos garantidos pela Constituição do país, e pediu provas de que havia terroristas entre os participantes.


Com agências internacionais


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