São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 2002

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IGREJA

Publicação de documentos de 1922 a 1939 não deverá encerrar polêmica sobre o papa Pio 12, diz comunidade judaica italiana

Vaticano decide abrir arquivos pré-Segunda Guerra

DA REUTERS

Numa tentativa de responder a acusações de que o papa Pio 12 teria permanecido em silêncio enquanto sabia que o Holocausto estava ocorrendo, o Vaticano afirmou ontem que abrirá arquivos secretos do período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial (1939-45).
Os arquivos -que incluem documentos de 1922 a 1939, quando Eugenio Pacelli era núncio apostólico em Berlim antes de se tornar o papa Pio 12- começarão a ser abertos ao público em janeiro, disse o cardeal Jorge Mejia.
"É claro que os arquivos são de grande interesse da mídia", afirmou ele, numa entrevista coletiva. O Vaticano havia dito em fevereiro que liberaria parte dos documentos desse período.
Estudiosos e grupos judaicos de todo o mundo há anos pedem ao Vaticano que abra os arquivos relacionados a Pio 12 datados de antes e durante o seu pontificado, encerrado com a sua morte, em 1958.
Alguns o acusam de ter feito muito pouco para impedir o Holocausto, no qual a Alemanha nazista cometeu um genocídio de 6 milhões de judeus.
O Vaticano argumenta que Pio 12 não condenou em público com maior contundência os crimes nazistas porque temia agravar a situação dos católicos, assim como a dos judeus, na Alemanha e em países ocupados pelas tropas de Hiltler.
"Não há dúvida de que a abertura desses arquivos é uma decisão importante. O problema é que eles nem mesmo mencionam o período mais importante, que é aquele da guerra propriamente dita", disse Amos Luzzatto, diretor da União das Comunidades Ítalo-Judaicas.
"E não importa o quanto abram os seus arquivos, há uma coisa que nunca encontrarão: uma declaração pública e aberta contra o anti-semitismo durante a guerra", acrescentou.
O cardeal Mejia disse que o Vaticano tem também planos de publicar uma série de seis CD-ROMs com todas as cartas mandadas ao Vaticano por pessoas que procuravam por prisioneiros de guerra e desaparecidos entre 1940 e 1946.
Ainda não está claro, entretanto, quando a igreja pretende abrir os seus arquivos secretos, do mesmo período, que reúnem os documentos que os grupos judaicos mais desejam ver.


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