São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Líder palestino, que está internado em hospital militar de Paris, será submetido a uma bateria de exames

Doença de Arafat ainda é um mistério

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Iasser Arafat, presidente da Autoridade Nacional Palestina, está internado desde as 13h30 de ontem no hospital militar Percy, nas imediações de Paris. Nada foi divulgado sobre seu estado de saúde. O hospital é, no entanto, um centro de excelência em hematologia, o que reforça a suspeita de que ele tenha leucemia ou algo semelhante.
Arafat chegou à França num avião Falcon 50, da Presidência da República francesa, no qual foram instalados equipamentos para atendê-lo durante o vôo. Uma equipe de médicos francesa o acompanhou. O avião aterrissou na base militar de Vilacoublay, de onde ele foi transferido de helicóptero ao hospital.
Arafat estava deitado em uma maca quando deu entrada no complexo de edifícios localizado no município de Clamart, a cerca de 4 km a oeste de Paris. O presidente Jacques Chirac, que se encontrava em Roma para a cerimônia de assinatura da Constituição européia, disse que a França recebeu o dirigente palestino em nome de sua "tradição de terra acolhedora". Deixou claro que não se tratava de um gesto político.
O cuidado de Chirac se justifica aparentemente em razão das reiteradas acusações do governo de Israel de que a França tem fechado os olhos para o crescimento do anti-semitismo.
A representante em Paris da Autoridade Nacional Palestina, Leila Chaid, disse que Arafat lhe pediu pessoalmente que agradecesse ao governo francês pelo translado para tratamento médico. Essa espécie de embaixadora palestina na França também disse que Arafat não tinha condições para ser tratado em Ramallah, onde Israel movia contra ele um cerco de dois anos e meio.

Acena
Arafat está doente há algumas semanas, e o seu estado de saúde se agravou muito nesta semana. Na quarta-feira e na quinta-feira, chegou-se a especular que a situação fosse irreversível.
O líder palestino desmaiou e chegou a ficar inconsciente por dez minutos, segundo relatos.
Porém, anteontem, o quadro se estabilizou, e o governo francês convidou Arafat para ir se tratar em Paris. O premiê israelense, Ariel Sharon, deu permissão para Arafat deixar o QG (Muqata) em Ramallah (Cisjordânia), com o direito de retornar no futuro caso se recupere -no dia anterior, Israel havia negado o direito.
Ao sair do QG na cidade palestina, Arafat acenou para centenas de palestinos e jornalistas que estavam do lado de fora. Em seguida, embarcou em um helicóptero para Amã (capital da Jordânia), de onde seguiu no avião francês para Paris.
O ministro palestino de Assuntos Civis, Jamil Tarifi, que estava no avião com Arafat, disse que o estado de saúde do líder palestino era bom. "Ele estava normal", disse o ministro, embora se especule em Israel, com base em informações de autoridades palestinas que preferem não se identificar, que Arafat esteja desorientado e delirante.
Em determinado momento na quinta-feira, Arafat não reconhecia nem mesmo o premiê Ahmed Korei e o número dois da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), Mahmoud Abbas (também conhecido como Abu Mazen). Nas ruas palestinas, ontem, a maioria das pessoas lamentava o estado de saúde de Arafat e torcia para que ele se recupere. Porém, nos últimos anos, a popularidade do líder palestino vem declinando.
Nos próximos dias, Arafat deve ser submetido a uma série de exames, e ainda não há previsão de quando será divulgado qual é exatamente a doença dele.
O hospital militar Percy é um imenso complexo que ocupa uma área equivalente a de dois estádios de futebol. Possui 12 entradas, todas elas guardadas por policiais militares. Uma cerca metálica impedia jornalistas e cinegrafistas, em torno de 40 pessoas, de se aproximarem da portaria.


Com agências internacionais


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