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EUA propõem acordo para volta de Zelaya
Texto articulado por enviado de Obama endossa posição de presidente deposto de que Congresso deve decidir sobre retorno
Em entrevista, Shannon fora menos enfático no apoio à restituição de hondurenho; Micheletti não deu resposta até conclusão desta edição
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Os EUA propuseram ontem à
tarde um novo acordo para a
restituição do presidente deposto de Honduras, Manuel
Zelaya, durante a retomada das
negociações. O presidente deposto aceitou imediatamente a
proposta, que prevê, como ele
quer, a sua volta ao Executivo
condicionada à aprovação do
Congresso. Já o governo interino, de Roberto Micheletti, não
havia se pronunciado até o fechamento desta edição.
A nova redação -articulada
por Thomas Shannon, secretário-assistente de Estado dos
EUA para o hemisfério Ocidental e enviado de Obama a Tegucigalpa-, à qual a Folha teve
acesso, mantém 29 de novembro como a data das eleições
presidenciais, legislativas e regionais e dá à Organização dos
Estados Americanos (OEA) o
papel de supervisora do processo, como estava previsto no
Acordo de San José, proposta
feita em julho pelo presidente
da Costa Rica, Óscar Arias, e retomada nas últimas semanas.
A grande alteração é um detalhe: no lugar de mencionar o
nome de Zelaya, o acordo fala
em restauração dos Poderes à
sua conformação anterior a 28
de junho, dia da deposição. Em
tese, Micheletti voltaria à Presidência do Congresso.
Micheletti vinha exigindo
nas negociações que a restituição de Zelaya fosse também
submetida à Corte Suprema de
Justiça, que já havia se pronunciado contra o Acordo de San
José, em agosto.
O presidente deposto defendia que fosse só o Congresso,
como prevê a proposta original
do acordo. Zelaya avalia que,
apesar de terem apoiado o golpe, os deputados aprovarão sua
volta, já que mais da metade
tentará a reeleição e há o temor
de que o resultado da eleição,
se realizada sob Micheletti, não
seja reconhecido internacionalmente.
No domingo, segundo assessores de Zelaya, Micheletti
propôs que o acordo sobre a
restituição fosse enviado só ao
Congresso, mas sem a assinatura dos dois lados. O presidente deposto não aceitou.
Entrevista
Enquanto atuava pela restituição de Zelaya nos bastidores, Shannon foi menos enfático na defesa da volta do presidente deposto em público. Em
entrevista concedida por videoconferência a jornalistas
em Washington, afirmou que a
solução para a crise deve ser
doméstica e que a comunidade
internacional deve respeitá-la,
seja ela qual for.
Indagado pela Folha se os
EUA continuavam de acordo
com o grupo de países da região
liderados por Brasil e México
para os quais a volta de Zelaya
ao poder é pré-requisito para a
validade das eleições, Shannon
respondeu que o time americano estava focado agora no acordo. "No nosso ponto de vista, a
comunidade internacional não
pode discutir com o que os
hondurenhos decidirem eles
próprios", disse o diplomata.
"Temos de respeitar a habilidade de os hondurenhos de chegarem a um acordo dentro do
diálogo nacional."
Citando a Carta Democrática
da OEA (Organização dos Estados Americanos), com base na
qual o regime golpista foi suspenso da entidade, o diplomata
disse que neste momento "procura-se um caminho para respeitar esses princípios de maneira pragmática, que reconheça a realidade".
"Em outras palavras", afirmou, "não se trata de a OEA e a
comunidade internacional tentarem impor uma solução. Nós
já vimos isso falhar em outros
lugares, sabemos que, para ser
duradouras e pacíficas, as soluções têm de ser enraizadas em
solo hondurenho". Mais adiante, indagado novamente sobre
se com isso os EUA não estavam recuando de sua posição
inicial, o diplomata americano
disse que não.
"A questão da restituição [de
Zelaya] tem sido central não só
para os EUA, mas para toda a
comunidade internacional",
afirmou. "Mas reconhecemos
que estamos operando num
ambiente em que, no fim das
contas, os hondurenhos é que
terão de tomar sua decisão."
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