Comissão responsável pela eleição, que é ligada ao atual presidente, contraria diretriz da ONU para prevenir fraudes

Nova votação foi marcada para 7 de novembro após a invalidação de mais de 1 milhão de votos, que foram fraudados no primeiro turno

DA REDAÇÃO

A Comissão Eleitoral Independente (CEI) afegã anunciou ontem que irá abrir centros de votação para o segundo turno da eleição presidencial, marcado para 7 de novembro, em número maior do que na primeira votação, decisão que contraria recomendações da ONU para evitar novas fraudes.
O anúncio evidencia a divisão existente entre a CEI, responsável por organizar a votação e ligada ao presidente do país, Hamid Karzai -que tenta a reeleição-, e observadores internacionais, que cobram uma votação com maior credibilidade no momento em que os EUA reavaliam sua estratégia para a guerra no país, que já dura oito anos.
As fraudes que marcaram o primeiro turno, em 20 de agosto, fizeram com que uma comissão apoiada pela ONU invalidasse mais de 1 milhão de votos, o suficiente para forçar Karzai a enfrentar novamente nas urnas seu ex-ministro do Exterior Abdullah Abdullah.
Grande parte das irregularidades foi atribuída às chamadas "seções eleitorais fantasmas", que não chegaram a ser abertas, mas que enviaram votos para apuração pela CEI. Por isso, as Nações Unidas recomendaram a redução do número de centros de votação para permitir que todas tenham monitoramento adequado.
Ontem, a CEI disse que planeja abrir 6.322 centros de votação em 7 de novembro, contra 6.167 do primeiro turno, segundo o subchefe da comissão, Zekria Barakzai. Mas ele não informou se isso representará um maior número de seções eleitorais -no primeiro turno, foram cerca de 24 mil.
Além de não estar claro se a CEI terá funcionários em número suficiente para trabalhar em todos esses centros, há também a preocupação com a segurança. Ontem, o Taleban reforçou a ameaça de realizar ataques para atrapalhar a votação. Anteontem, extremistas invadiram uma hospedaria no centro de Cabul utilizada por funcionários eleitorais e mataram cinco membros da ONU.
Por isso, os funcionários do organismo receberam ontem ordens para "restringir seus movimentos" nos próximos dias. O porta-voz da missão da ONU, Aleem Siddique, disse que ao menos nove sobreviventes do ataques foram levados para Dubai (Emirados Árabes).

Luto
Os preparativos para o segundo turno da eleição presidencial afegã são feitos enquanto o presidente dos EUA, Barack Obama, avalia se enviará mais soldados ao país.
Ontem, antes do amanhecer, Obama presenciou o impacto do conflito em primeira mão. Ele foi à base aérea de Dover, em Delaware, onde viu a chegada dos restos mortais de 18 soldados que morreram recentemente no Afeganistão -o primeiro presidente americano a fazê-lo em 18 anos. Mais tarde, ele afirmou que teve sua visão da guerra mudada pelo que chamou de um "lembrete do extraordinário sacrifício" das tropas e de suas famílias.

Com agências internacionais

Texto Anterior: Entrevista: "Brasil não seria estúpido a ponto de fazer bomba"
Próximo Texto: Ataques em Bagdá: Iraque prende 60 agentes de segurança
Índice