São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2011

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Finanças islâmicas crescem no mundo

Operações que respeitam a `sharia' são vistas como alternativa ética ao mercado tradicional e sobem 15% ao ano

Malásia concentra 64,5% desse mercado, estimado em US$ 100 bilhões; especulação e juros são proibidos

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

Não pode ter "gharar". "Riba", também não. Diz o ditado: "al maal li i'mar al ardh".
O mercado financeiro islâmico, regido pelas leis da sharia (regras religiosas), tem o próprio jargão econômico. "Gharar" é especulação. "Riba", juros. Ambos são proibidos para respeitar o ditado: "o dinheiro serve ao desenvolvimento do mundo". Um outro termo desse mercado tem ganhado destaque: sukuk -as operações financeiras que remuneram investidores sem pagar juros ou envolver especulação.
A Malásia concentra dois terços desse mercado, estimado em US$ 100 bilhões, emitindo sukuks para financiar megaprojetos no país. No último dia 14, o governo da Malásia lançou o primeiro desses títulos atrelado ao yuan (moeda chinesa), em um valor equivalente a R$ 140 milhões.

ÉTICA
A emissão de sukuk vem crescendo 15% ao ano, não apenas por diversificar investimentos, mas também por oferecer uma espécie de alternativa ética ao mercado financeiro convencional.
"São pessoas reais, ativos reais, projetos reais e empregos reais -e não o vapor do 'subprime' e dos derivativos que não criam valor real", diz à Folha Daud Abdulla, presidente da Universidade Global de Finanças Islâmicas.
"É uma mobilização de capital eficiente para o benefício da economia real", diz.

MANOBRA
Apesar das loas que recebe de seus partidários, o mercado financeiro islâmico ainda se restringe a um montante limitado de operações. O Brasil já operou nessa seara, mas não com sukuk. Há expectativa, porém, de que o país se torne polo regional da prática na América Latina.
Isso enquanto investidores tradicionais se acostumam a um aparato distinto daquele em que costumam operar. "Para obedecer aos princípios religiosos e, ainda assim, oferecer produtos atrativos, os bancos islâmicos têm de montar operações muitas vezes complexas", afirma Ahmed Sameer el Khatib, que pesquisa finanças islâmicas na Faculdade de Economia e Administração da USP.
Entre as estratégias possíveis, está a criação de uma empresa, capitalizada por meio de sukuk (veja ao lado). O investidor que comprar esses títulos se torna uma espécie de acionista. Ele é remunerado não com juros, mas "leasing" (como um aluguel), recebendo de acordo com os rendimentos da firma.

RENOMEAR
Além de ser uma movimentação complicada, não é consenso entre islâmicos que todo esse aparato evite, de fato, a cobrança de juros. "É uma indústria controversa", diz Angela Martins, diretora do Banco Pine -que nem por isso deixa de ser entusiasta da prática. "Há a tentativa de fazer as operações de uma maneira mais justa." Autora do livro "A Banca Islâmica" (ed. Qualitymark), Martins é uma das únicas especialistas nesse mercado no Brasil. Ela trabalhou antes no banco árabe ABC.
"É um desafio porque, em sua maioria, as grandes instituições islâmicas estão 'contagiadas' pela cobrança de juros", afirma a especialista.


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