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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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EUROPA

Manifestantes realizam "flash mobs" no metrô e danificam anúncios; indústria da propaganda reage com processos e mea-culpa

Franceses fazem campanha antipublicidade

LAURENCE GIRARD
DO ""LE MONDE"

Militantes antipublicidade que denunciam a ""mercantilização da cultura e dos espíritos" têm promovido "flash mobs" (manifestações organizadas pela internet) no metrô parisiense para operações de rabiscar anúncios.
Em 17 de outubro, mais de 200 pessoas, incluindo estudantes, professores, pesquisadores, militantes ou simples simpatizantes, percorreram as linhas de metrô com pincéis atômicos e latas de tinta, cobrindo os cartazes publicitários expostos nas plataformas.
Calmos e organizados, os batalhões que partiram de diferentes pontos de Paris seguiam orientações estritas, como a de não degradar o material e manter-se em grupos, para o caso de uma intervenção policial. Seus slogans, entre eles ""a publicidade faz mal à sua saúde", permaneceram visíveis por vários dias para os usuários do metrô.
No dia 7 deste mês a operação foi repetida, desta vez com um número maior de militantes.
A agência de publicidade Métrobus reagiu abrindo uma queixa, que cita também o provedor Internet Ouvaton, escolhido pelos militantes antipublicidade como seu domicílio virtual, solicitando os nomes dos internautas envolvidos. Um juiz deve pronunciar-se sobre a questão em dezembro.
""Não vou deixar de atacar aqueles que incitaram esta ação", afirmou o presidente da Métrobus, Gérard Unger, que avaliou os prejuízos provocados pela ação em quase 1 milhão, incluindo as indenizações e os custos de limpeza.
A operação surpreendeu por sua amplitude e se insere numa tendência que preocupa os publicitários. Há alguns anos já, várias associações vêm combatendo a publicidade. Elas seguem o exemplo da Resistência contra a Agressão Publicitária (RAP), por exemplo, ou do grupo Casseurs de Pub (caçadores de anúncios).
Outros grupos, como o La Meute (a matilha), denunciam sistematicamente o sexismo contido nos anúncios. O Paysages de France (paisagens francesas), de Grenoble, critica ""os cartazes e slogans que não respeitam o ambiente", diz seu fundador, Pierre-Jean Delahousse.
Processado por difamação, em 2002, pela agência Défi, filial do grupo Clear Channel Communication, o Paysages de France empreendeu um braço-de-ferro jurídico com ela. No episódio mais recente do embate, em 5 de novembro, o tribunal de instância superior de Dinan, em Côtes-d'Armor, se pronunciou a favor da associação, que exige a retirada dos outdoors instalados perto do local conhecido como La Rance. A agência apelou da decisão.

Mea-culpa
Os publicitários são sensíveis a essas críticas e ao eco que elas têm na opinião pública e nos jovens recém-formados, menos inclinados a ingressar na profissão.
Eles deram uma resposta a seus detratores na quarta-feira, na ocasião da Semana da Publicidade, quando concederam o prêmio Effie 2003 de eficiência publicitária à campanha antitabagista da agência BETC-Euro RSCG.
Em junho de 2002, uma mensagem foi difundida na imprensa e na televisão: ""Traços de ácido cianídrico, mercúrio, acetona e amoníaco foram detectados num produto de consumo corriqueiro. Para mais informações, ligue 0800 404 404, ligação gratuita".
As pessoas correram ao telefone -para descobrir que o produto era nada mais, nada menos do que o cigarro. O Instituto Nacional de Prevenção e Educação para a Saúde (Inpes) contabilizou 1 milhão de telefonemas suscitados pelo anúncio.
""É uma campanha interessante, pois coloca em cena informações que os consumidores não conheciam", destaca Rémi Babinet, diretor de criação da BETC Euro RSCG e novo presidente do Clube de Diretores Artísticos. Outras campanhas premiadas também tinham por objetivo, paradoxalmente, uma queda no consumo.
Também foi criado um serviço telefônico para receber reclamações contra imagens vulgares e sexistas em propagandas em revistas, pôsteres e anúncios de TV.
A indústria da propaganda francesa, que tradicionalmente trabalha com a premissa de que seios e nádegas vendem qualquer coisa, também concordou com um código mais rígido de conduta para manter "o respeito pela dignidade das mulheres".


Com "The Independent"

Tradução de Clara Allain


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