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Oposição se une em final de campanha anti-Chávez
Partidos oposicionistas e líderes estudantis dividem palco a três dias do referendo
A legenda Podemos, porém, não participou do ato, que lotou avenida do centro de Caracas no último dia de propaganda contra governo
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
"Sin autobuses", como não
cansavam de gritar, dezenas de
milhares de manifestantes se
reuniram ontem no centro de
Caracas para encerrar a campanha contra a a reforma constitucional proposta pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, que será submetida a referendo no próximo domingo.
A maior concentração oposicionista do ano praticamente
lotou várias quadras da avenida
Bolívar durante toda a tarde, no
mesmo local onde o presidente
Hugo Chávez encerrará a sua
campanha hoje -tradicionalmente, com simpatizantes vindos do interior em ônibus pagos pelo Estado.
No palanque, lideranças estudantis e de partidos da oposição a Chávez participaram pela
primeira vez de um evento público juntos, revezando-se em
discursos pedindo votos contra
a reforma, que, entre outras
medidas, institui a reeleição indefinida para presidente.
Em evento realizado há três
semanas, lideranças estudantis
haviam impedido lideranças
políticas, como o governador
Manuel Rosales (Um Novo
Tempo), de subir no palanque.
Na ocasião, não houve sequer
chamados ao voto, expondo
uma divisão interna que só foi
resolvida na semana passada.
"Como estudantes, como jovens, como venezuelanos, pedimos que as pessoas votem e que
defendam seu voto", discursou
o líder universitário Stálin
González, da Universidade
Central da Venezuela (UCV), a
maior do país. Também esteve
lá Antonio Ledezma, líder do
radical Comando Nacional da
Resistência (CNR), que pregava a abstenção até anteontem e
não participa do Bloco do Não,
registrado no Conselho Nacional Eleitoral (CNE). O grupo
não reconhece a legitimidade
do governo Chávez.
O ex-prefeito de Caracas
(1996-2000) foi a única liderança a levantar a possibilidade
de que haja irregularidades no
domingo: "A única maneira de
o "sim" ganhar é por fraude",
discursou Ledezma.
A grande ausência ficou por
conta do partido Podemos.
Apesar de inscrito oficialmente
no Bloco do Não, nenhuma liderança da agremiação, que
rompeu com Chávez no início
do ano por se recusar a aderir
ao Partido Socialista Unido da
Venezuela (PSUV), foi ao ato.
O principal incidente foi a
determinação do CNE para que
fosse retirada uma grande faixa
com a imagem e uma frase do
herói da independência, Simón
Bolívar, sob pena de ter a transmissão ao vivo por TV proibida.
Pela legislação venezuelana, as
campanhas eleitorais não podem utilizar símbolos pátrios.
A frase de Bolívar, que tem sido exaustivamente usada pela
oposição ao longo da campanha, diz: "Nada é tão perigoso
como deixar um mesmo cidadão permanecer um longo tempo no poder".
Usando camisas com a já histórica frase "Por qué no te callas?" (com grifo no "não"), o
casal de empresários Roberto
Ortega, 35, e Mariela Jimenez,
38, disse que se opõe à reforma
porque não querem "um presidente vitalício". Ortega diz que
votará no domingo, mas acredita que o "sim" ganhará por
fraude. "Chávez só ganhou de
verdade a primeira eleição, em
todas as outras houve fraude."
Para ele, caso Chávez vença,
haverá a partir de segunda-feira "uma guerra civil".
Cobertura
Apesar da evidente participação de dezenas de milhares de
pessoas, a TV estatal VTV fez
uma cobertura sem transmitir
os discursos e tentou mostrar
que havia pouca participação.
"Estou vendo a avenida Bolívar com umas 500 pessoas",
disse à VTV Diosdado Cabello,
governador chavista de Miranda. Ele acusou a emissora Globovisión de fazer "um jogo de
câmeras" para mostrar que havia bastante gente.
Além da reeleição indefinida,
o projeto de reforma aumenta
as atribuições do Executivo, como o poder de criar novas unidades territoriais, e traz benefícios sociais, como a redução da
jornada de trabalho de 44 para
36 horas semanais.
A maioria das últimas pesquisas eleitorais mostra uma
vantagem do "não", mas analistas advertem que Chávez pode
revertê-la graças à sua capacidade de mobilização.
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