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México quer investigar "sumiço" de ilha
Senado pede a governo que apure ausência de Bermeja, mapeada nas águas territoriais mexicanas desde o século 14
Segundo estudos, área onde ficava ilha "desaparecida" é rica em petróleo; localização poderia proporcionar maior extensão das fronteiras
LUÍS FERRARI
DA REDAÇÃO
Deputados e senadores mexicanos querem que o governo
investigue a desaparição de
uma ilha no golfo do México.
De acordo com o pedido protocolado no Senado local, ao
qual a Folha teve acesso, a ilha
Bermeja, que era situada ao
norte da península de Yucatán,
figurava em mapas como parte
integrante do território mexicano desde o século 14.
Mas, em 1997, uma embarcação da Marinha, munida das
coordenadas da Bermeja "não a
localizou, caso inédito, porque
tal ilha aparece em documentos, como um guia turístico dos
EUA na internet, abastecido
com dados da CIA", conforme
relata o ofício, assinado pelo
senador situacionista Luis Alberto Coppola Joffroy.
Silente quanto às dimensões
da ilha, o texto subscrito por
outros cinco integrantes da Câmara alta, descreve o efeito que
seu reconhecimento teria para
o México. "A importância da
ilha está no estabelecimento
dos limites marítimos entre
EUA e México, nos chamados
"hoyos de dona" do Golfo do
México, caracterizados pela
presença de grandes jazidas de
petróleo, gás e minerais. Localizar e resolver o caso da ilha
Bermeja permitiria ao México
estabelecer sua fronteira mais
ao norte e conquistar uma
maior parte [de águas territoriais] frente aos EUA."
Para reforçar o pedido de investigação ao governo federal,
que ainda não se pronunciou,
Coppola cita estimativas da
Universidad Nacional Autônoma (Unam), de que, no entorno
das coordenadas da ilha Bermeja, há 22,5 bilhões de barris
de óleo cru.
A controvérsia surge no momento em que o México experimenta uma queda em suas reservas comprovadas de petróleo. Em 1987, segundo a British
Petroleum, o país tinha 54,1 bilhões de barris no subsolo. No
ano passado, eram 12,2 bilhões.
"A maior parte da zona petroleira beneficia o vizinho ao
norte, ao ignorar a ilha Bermeja, que definiria a fronteira e a
exploração de sua riqueza em
favor do México. Hoje, segundo
se diz, a Bermeja está a 40 ou
50 metros abaixo da superfície
do mar. Um fenômeno natural
de tal magnitude não pode passar despercebido", pondera o
pleito do senador.
Hoje, a medição dos limites
do mar territorial mexicano é
feita a partir dos recifes Los Alcranes, localizados mais ao sul.
"Parece coisa de telenovela",
disse Coppola à agência de notícias espanhola Efe. "Já não é
uma ilhota, nem um atol sequer. Se a destruíram, houve
negligência de alguém, e é isso
que queremos saber", completou o senador, cujo pedido de
investigação foi reforçado na
semana passada.
Na última terça-feira, o deputado Elías Cárdenas, presidente da Comissão Marítima
da Câmara, pediu que a Unam
investigue o sumiço da ilha.
Tanto no documento apresentado ao Senado quanto na
entrevista concedida à Efe,
Coppola mencionou suspeitas
de que a imersão tenha sido
provocada pela ação humana. E
citou "acordos estranhos" entre México e EUA no passado.
"Entregar o petróleo"
Não foi o único a invocar tais
pactos. Em 1997, o então presidente da Comissão de Relações
Exteriores do Senado mexicano, José Angel Conchello -cuja solitária atuação em defesa
da Bermeja é citada por Coppola- publicou o artigo "Entregar
o petróleo?" sobre a ilha.
Na época, segundo seu relato,
enquanto os EUA e o México
debatiam a divisão dos campos
petrolíferos, pactuada em um
tratado assinado apenas no ano
2000, uma empresa americana
promovia perfurações exploratórias na área.
"Tudo parece indicar que o
governo mexicano já cedeu o
usufruto da enorme riqueza petroleira da região às transnacionais dos EUA, incluindo um
convênio secreto para entregar
a quarta jazida de petróleo e gás
mais importante do mundo à
voracidade americana", registrou Conchello, morto em um
acidente de carro em 1998.
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