São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008

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México quer investigar "sumiço" de ilha

Senado pede a governo que apure ausência de Bermeja, mapeada nas águas territoriais mexicanas desde o século 14

Segundo estudos, área onde ficava ilha "desaparecida" é rica em petróleo; localização poderia proporcionar maior extensão das fronteiras

LUÍS FERRARI
DA REDAÇÃO

Deputados e senadores mexicanos querem que o governo investigue a desaparição de uma ilha no golfo do México.
De acordo com o pedido protocolado no Senado local, ao qual a Folha teve acesso, a ilha Bermeja, que era situada ao norte da península de Yucatán, figurava em mapas como parte integrante do território mexicano desde o século 14.
Mas, em 1997, uma embarcação da Marinha, munida das coordenadas da Bermeja "não a localizou, caso inédito, porque tal ilha aparece em documentos, como um guia turístico dos EUA na internet, abastecido com dados da CIA", conforme relata o ofício, assinado pelo senador situacionista Luis Alberto Coppola Joffroy.
Silente quanto às dimensões da ilha, o texto subscrito por outros cinco integrantes da Câmara alta, descreve o efeito que seu reconhecimento teria para o México. "A importância da ilha está no estabelecimento dos limites marítimos entre EUA e México, nos chamados "hoyos de dona" do Golfo do México, caracterizados pela presença de grandes jazidas de petróleo, gás e minerais. Localizar e resolver o caso da ilha Bermeja permitiria ao México estabelecer sua fronteira mais ao norte e conquistar uma maior parte [de águas territoriais] frente aos EUA."
Para reforçar o pedido de investigação ao governo federal, que ainda não se pronunciou, Coppola cita estimativas da Universidad Nacional Autônoma (Unam), de que, no entorno das coordenadas da ilha Bermeja, há 22,5 bilhões de barris de óleo cru.
A controvérsia surge no momento em que o México experimenta uma queda em suas reservas comprovadas de petróleo. Em 1987, segundo a British Petroleum, o país tinha 54,1 bilhões de barris no subsolo. No ano passado, eram 12,2 bilhões.
"A maior parte da zona petroleira beneficia o vizinho ao norte, ao ignorar a ilha Bermeja, que definiria a fronteira e a exploração de sua riqueza em favor do México. Hoje, segundo se diz, a Bermeja está a 40 ou 50 metros abaixo da superfície do mar. Um fenômeno natural de tal magnitude não pode passar despercebido", pondera o pleito do senador.
Hoje, a medição dos limites do mar territorial mexicano é feita a partir dos recifes Los Alcranes, localizados mais ao sul.
"Parece coisa de telenovela", disse Coppola à agência de notícias espanhola Efe. "Já não é uma ilhota, nem um atol sequer. Se a destruíram, houve negligência de alguém, e é isso que queremos saber", completou o senador, cujo pedido de investigação foi reforçado na semana passada.
Na última terça-feira, o deputado Elías Cárdenas, presidente da Comissão Marítima da Câmara, pediu que a Unam investigue o sumiço da ilha.
Tanto no documento apresentado ao Senado quanto na entrevista concedida à Efe, Coppola mencionou suspeitas de que a imersão tenha sido provocada pela ação humana. E citou "acordos estranhos" entre México e EUA no passado.

"Entregar o petróleo"
Não foi o único a invocar tais pactos. Em 1997, o então presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado mexicano, José Angel Conchello -cuja solitária atuação em defesa da Bermeja é citada por Coppola- publicou o artigo "Entregar o petróleo?" sobre a ilha.
Na época, segundo seu relato, enquanto os EUA e o México debatiam a divisão dos campos petrolíferos, pactuada em um tratado assinado apenas no ano 2000, uma empresa americana promovia perfurações exploratórias na área.
"Tudo parece indicar que o governo mexicano já cedeu o usufruto da enorme riqueza petroleira da região às transnacionais dos EUA, incluindo um convênio secreto para entregar a quarta jazida de petróleo e gás mais importante do mundo à voracidade americana", registrou Conchello, morto em um acidente de carro em 1998.


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