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Eleição de Honduras divide o governo Lula
Setores políticos abrem divergência com o diplomático e começam a defender reconhecimento do pleito de ontem
Enquanto chanceler Celso
Amorim ironiza a votação,
tese de que Brasil já fez o
que podia para defender
volta de Zelaya ganha força
Arnulfo Franco/Associated Press
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EXCEÇÃO
Tropa de choque ataca carro demanifestantes pró-Zelaya emSan Pedro Sula, a segundamaior cidade deHonduras e única emque
foi registrado grande protesto (cerca de 500 pessoas) contra a eleição, reprimido ontemcomgás lacrimogêneo e jatos de água
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Apesar do tom contundente
do Itamaraty e da área diplomática do Planalto, setores políticos do próprio governo já começam a defender que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
recue tacitamente e adote o reconhecimento gradual do resultado das eleições de ontem
em Honduras.
Conforme a Folha apurou,
ministros e assessores avaliam
que a eleição é a porta de saída
para a crise, criando uma situação de fato e a perspectiva de
um novo governo escolhido
por voto direto.
Nessa avaliação, o governo
Lula já fez tudo o que poderia
fazer para defender a volta ao
poder do presidente deposto
Manuel Zelaya e para ratificar
uma posição pela democracia e
contra qualquer golpe de Estado na região, num movimento
integrado por todos os países
das Américas e também pela
União Europeia. Agora, é hora
de deixar a situação se resolver
por gravidade.
Apesar disso, a área diplomática, liderada pelo chanceler
Celso Amorim e pelo assessor
especial da Presidência, Marco
Aurélio Garcia, mantinha ontem mesmo a resistência a reconhecer os resultados do pleito, sob a alegação de que, como
Zelaya não foi reconduzido ao
cargo, a eleição é ilegítima e
sem valor.
Em Genebra, Amorim foi
irônico em conversa com jornalistas brasileiros: "Estou
mais interessado no resultado
do jogo do Real Madrid, porque
essa eleição não é legítima".
Quanto à permanência do
presidente deposto Manuel Zelaya na Embaixada do Brasil
em Tegucigalpa, ele afirmou
que o presidente não está lá como "hóspede", como já fora dito antes pela diplomacia brasileira. "Ele está lá abrigado sob
nossa proteção. O fato em si foi
reconhecido pela ONU e pede a
proteção da embaixada e das
pessoas sob sua proteção", afirmou, citando parecer do organismo no início da crise.
O reconhecimento ou não do
resultado da eleição de Honduras jogou o Brasil e os Estados
Unidos em lados opostos.
O governo Lula bateu pé contra a legitimação internacional
da eleição, já o de Barack Obama concluiu que não havia
condições reais para a recondução de Zelaya e que a única
forma de tirar o país da crise e
do isolamento seria apoiar o
eleito, abrindo uma porta para
um recomeço institucional.
Do lado do Brasil, estão Venezuela, Bolívia e Equador, por
exemplo. Do lado americano, a
Colômbia, o Peru e mais recentemente a Costa Rica, que teve
papel de destaque nas tentativas de acordo entre o governo
deposto de Zelaya e o governo
golpista de Roberto Micheletti.
A questão poderá parar na
OEA (Organização dos Estados
Americanos), caso o Brasil se
mantenha irredutível e liderando a corrente contra a eleição. Neste caso, seriam necessários dois terços dos votos para expulsar Honduras do organismo, de onde já está suspenso desde o golpe de Estado.
A questão de Honduras é um
dos pontos de divergência entre o Brasil e os EUA e foi o centro do telefonema de uma hora
de duração entre Amorim e a
secretária de Estado americana, Hillary Clinton, na quinta-feira passada.
Colaborou LUCIANA COELHO , de Genebra
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