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Próxima primeira-dama prevê Congresso mais negociador
DA ENVIADA A MONTEVIDÉU
Na qualidade de senadora
mais votada nas eleições do último dia 25 de outubro, caberá
a Lucía Topolansky, 65, tomar
o juramento de posse do presidente do Uruguai eleito ontem,
José Mujica -segundo indicam
pesquisas de boca de urna.
Topolansky estará cara a cara
com o homem que governará o
Uruguai pelos próximos cinco
anos e por quem se apaixonou
em 1972, quando ambos eram
militantes de esquerda.
Companheiros desde então,
casaram-se apenas em 2005.
"Nunca dei importância aos papéis, mas ele pediu", disse a senadora à Folha, na sede do
MPP (Movimento de Participação Popular), sigla que comanda e que integra a Frente
Ampla, que elegeu Mujica.
A senadora diz que terá que
ser "rígida" para não distorcer
a relação Executivo-Legislativo
na gestão do marido, e prevê
uma nova relação entre governo e oposição no Congresso,
com menos atritos.
(SA)
FOLHA - Como pretende lidar com
a expectativa de seu desempenho
como primeira-dama?
LUCÍA TOPOLANSKY - Sou uma militante política e tenho compromisso com meu eleitorado,
mas não tenho problema com a
questão protocolar. É uma desgraça que se tem que cumprir.
Não há nenhum problema nisso e me tomará o tempo necessário, mas minha principal tarefa estará no Senado.
FOLHA - Como imagina que será a
relação governo-Congresso?
TOPOLANSKY - Há uma mudança
em relação à oposição. Sob Tabaré, para conseguir maiorias
especiais, tínhamos que negociar com o Partido Nacional,
que era o principal opositor e
decidiu fazer uma oposição
muito negativa. Isso gerou
muito atrito.
Agora, podemos prescindir
do Partido Nacional, porque ele
diminuiu e o Colorado e o Independente cresceram. Negociar
com o Colorado será suficiente
para obter maiorias especiais.
E o Partido Colorado, que governou o Uruguai por mais de
90 anos, é mais negociador,
tem mais cultura de governo.
FOLHA - Teme ser vista como uma
ponte de acesso ao presidente?
TOPOLANSKY - Isso me preocupa
muito. É um problema. Mujica
conhece o Parlamento de dentro e foi um grande negociador
com a oposição em seus 15 anos
no Parlamento. Tabaré não conhecia o Parlamento e algumas
vezes teve dificuldade com a lógica parlamentar.
Mujica vai ter outro tipo de
diálogo com o Parlamento, mas
isso tem que ser feito por meio
do vice-presidente [que acumula a Presidência do Senado].
Não quero dar a impressão de
estar passando por cima do vice-presidente, mas como convivo com o presidente vão me
ver assim. Vou ter que ser muito rígida para não distorcer as
relações na Presidência e da
Presidência com o Legislativo.
FOLHA - Como imagina que deve
ser a relação entre Uruguai e Brasil
sob Mujica?
TOPOLANSKY - A América Latina
tem que se posicionar como um
bloco e achamos que o Brasil
tem que desempenhar o papel
que a Alemanha desempenhou
para a União Europeia. Argentina e México poderiam cumprir esse papel, mas não têm
tanta disposição interna.
A América Latina tem muito
a ganhar, ainda mais no momento em que cresce a demanda de alimentos na Ásia. Deveríamos conformar algo como a
Opep (Organização dos Países
Exportadores de Petróleo) dos
alimentos.
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