São Paulo, segunda-feira, 30 de novembro de 2009

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Próxima primeira-dama prevê Congresso mais negociador

DA ENVIADA A MONTEVIDÉU

Na qualidade de senadora mais votada nas eleições do último dia 25 de outubro, caberá a Lucía Topolansky, 65, tomar o juramento de posse do presidente do Uruguai eleito ontem, José Mujica -segundo indicam pesquisas de boca de urna. Topolansky estará cara a cara com o homem que governará o Uruguai pelos próximos cinco anos e por quem se apaixonou em 1972, quando ambos eram militantes de esquerda. Companheiros desde então, casaram-se apenas em 2005. "Nunca dei importância aos papéis, mas ele pediu", disse a senadora à Folha, na sede do MPP (Movimento de Participação Popular), sigla que comanda e que integra a Frente Ampla, que elegeu Mujica. A senadora diz que terá que ser "rígida" para não distorcer a relação Executivo-Legislativo na gestão do marido, e prevê uma nova relação entre governo e oposição no Congresso, com menos atritos. (SA)

 

FOLHA - Como pretende lidar com a expectativa de seu desempenho como primeira-dama?
LUCÍA TOPOLANSKY - Sou uma militante política e tenho compromisso com meu eleitorado, mas não tenho problema com a questão protocolar. É uma desgraça que se tem que cumprir. Não há nenhum problema nisso e me tomará o tempo necessário, mas minha principal tarefa estará no Senado.

FOLHA - Como imagina que será a relação governo-Congresso?
TOPOLANSKY - Há uma mudança em relação à oposição. Sob Tabaré, para conseguir maiorias especiais, tínhamos que negociar com o Partido Nacional, que era o principal opositor e decidiu fazer uma oposição muito negativa. Isso gerou muito atrito. Agora, podemos prescindir do Partido Nacional, porque ele diminuiu e o Colorado e o Independente cresceram. Negociar com o Colorado será suficiente para obter maiorias especiais. E o Partido Colorado, que governou o Uruguai por mais de 90 anos, é mais negociador, tem mais cultura de governo.

FOLHA - Teme ser vista como uma ponte de acesso ao presidente?
TOPOLANSKY - Isso me preocupa muito. É um problema. Mujica conhece o Parlamento de dentro e foi um grande negociador com a oposição em seus 15 anos no Parlamento. Tabaré não conhecia o Parlamento e algumas vezes teve dificuldade com a lógica parlamentar. Mujica vai ter outro tipo de diálogo com o Parlamento, mas isso tem que ser feito por meio do vice-presidente [que acumula a Presidência do Senado]. Não quero dar a impressão de estar passando por cima do vice-presidente, mas como convivo com o presidente vão me ver assim. Vou ter que ser muito rígida para não distorcer as relações na Presidência e da Presidência com o Legislativo.

FOLHA - Como imagina que deve ser a relação entre Uruguai e Brasil sob Mujica?
TOPOLANSKY - A América Latina tem que se posicionar como um bloco e achamos que o Brasil tem que desempenhar o papel que a Alemanha desempenhou para a União Europeia. Argentina e México poderiam cumprir esse papel, mas não têm tanta disposição interna.
A América Latina tem muito a ganhar, ainda mais no momento em que cresce a demanda de alimentos na Ásia. Deveríamos conformar algo como a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) dos alimentos.


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