São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2010

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WikiLeaks escancara isolamento do Irã

Documentos mostram pressão de países árabes para atuação militar dos EUA contra regime de Ahmadinejad

Em telegrama de 2008, rei saudita pede ao governo de George W. Bush "que corte a cabeça da serpente"

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

A nova avalanche de documentos confidenciais revelados pelo site WikiLeaks escancarou com todas as letras o temor de alguns dos principais líderes árabes com o programa nuclear do Irã.
O vazamento mostra o que até agora estava restrito aos bastidores: a forte pressão árabe para que os EUA ataquem instalações iranianas.
Não é surpresa que Israel tenha elogiado a publicação. Tampouco que o Irã tenha desqualificado a iniciativa.
Entre os cerca de 250 mil telegramas diplomáticos dos EUA que começaram a ser divulgados pelo WikiLeaks no domingo, estão mensagens que ilustram o conhecido temor de líderes árabes com a perspectiva da bomba atômica iraniana. Com fervor jamais revelado publicamente.
Em um telegrama de 27 de dezembro de 2005, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, é descrito como "desequilibrado" e "louco" por comandantes militares dos Emirados Árabes Unidos ao então chefe do Comando Central norte-americano, general John Abizaid.
Chama a atenção a insistência da Arábia Saudita, um dos países mais influentes da região, para que os EUA considerem uma ação militar. Num telegrama de 2008, o rei saudita, Abdullah, pede ao governo Bush "que corte a cabeça da serpente".
Outros países da região exibem o mesmo alarme. Em comum, a aversão ao presidente iraniano e a preocupação de que os EUA ataquem antes que Israel o faça.
Em uma mensagem de julho de 2009, o ministro da Defesa dos Emirados Árabes, príncipe Mohamed bin Zayed, prevê um ataque israelense até o fim daquele ano e alerta para o perigo de apaziguar o Irã. "Ahmadinejad é Hitler", diz Bin Zayed.
Os governos do mundo árabe mantiveram o silêncio ontem, mas a imprensa repercutiu o vazamento, prevendo que causará turbulências nas relações com o Irã.
O presidente iraniano reagiu com desdém, acusando os EUA de orquestrarem o vazamento: "O Irã e os países da região são amigos".
Uma das informações novas, contidas num telegrama de fevereiro deste ano, é a avaliação da inteligência dos EUA de que Teerã recebeu 19 mísseis da Coreia do Norte com alcance suficiente para atingir as capitais da Europa.
Para Israel, o vazamento prova que o país não está sozinho em sua preocupação com o regime iraniano.
"Pela primeira vez na história há um acordo de que o Irã é a ameaça", disse o premiê Binyamin Netanyahu.


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