São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 2006

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Saddam Hussein, 69, é enforcado no Iraque

Ex-ditador foi condenado em 5 de novembro pela morte de 148 xiitas em 1982

Mídia não pôde presenciar o ato, mas receberá fotos do cadáver, que será sepultado em local sigiloso, afirma um assessor do governo local

DA REDAÇÃO

O ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, 69, foi enforcado na madrugada de hoje em Bagdá, após ter sido condenado em novembro pela morte de 148 xiitas, em 1982, confirmou o Ministério do Exterior do país.
Uma corte de apelação manteve a sentença de morte na terça-feira, e o governo iraquiano acelerou os trâmites para enforcá-lo até o final do ano e antes do feriado religioso de Eid al Adha, que começa hoje, coincidindo com a peregrinação anual a Meca.
A execução ocorreu pouco antes da 1h da madrugada no Brasil, o correspondente a próximo das 6h, em Bagdá.
O governo iraquiano manteve os detalhes da execução em sigilo, em meio a preocupações quanto a uma onda ainda maior de violência por parte de seus antigos seguidores.
Hora antes da execução, advogados de Saddam entraram com recurso num tribunal americano para impedir que seu cliente fosse entregue ao governo do Iraque.
Líderes curdos também tentaram adiar a execução para que o ex-ditador também fosse julgado pela acusação de genocídio contra a população curda no norte do país.
A condenação de Saddam, no dia 5 de novembro, foi elogiada pelo presidente americano, George W. Bush, como um triunfo para a democracia que ele prometeu impulsar no Iraque após a invasão, há quase quatro anos.
A última tentativa de adiar o enforcamento foi nos EUA, onde os advogados de Saddam tentaram uma ação. Mas a juíza distrital Colleen Kollar-Kotelly disse que Saddam não estava sob custódia americana e, portanto, fora de sua jurisdição.
A polícia iraquiana e militares americanos reforçaram desde a madrugada de ontem a segurança em Bagdá e em regiões com predominância sunita, grupo religioso do qual Saddam fazia parte. As medidas procuravam evitar manifestações de revolta, tão logo o enforcamento fosse anunciado.
O "New York Times" afirmou ontem que o momento da execução não seria previamente revelado pelo temor de atos de violência. Nowaffak Rubaie, assessor de segurança interna do governo iraquiano, disse que os jornalistas e câmeras de televisão não seriam convidados.
O enforcamento, adiantou ainda, seria registrado em videoteipe, mas "é pouco provável" que as imagens sejam tornadas públicas.
Rubaie disse ao "Times", de Londres, que o corpo do ex-ditador será sepultado num local sigiloso e que apenas no futuro o governo estudaria a possibilidade de entregá-lo à família.
Disse ainda que serão divulgadas apenas fotografias do cadáver, para comprovar que o enforcamento ocorreu.
A agência de notícias Reuters disse que o governo americano tinha interesse em que o enforcamento se desse rapidamente.
Saddam Hussein foi ditador entre julho de 1979 e abril de 2003, tendo sido capturado pelos Estados Unidos em dezembro daquele ano. Foi condenado no último 5 de novembro, pela morte de 148 xiitas, em 1982, num dos episódios de crimes contra a humanidade pelos quais vinha sendo processado.
Ele estava preso em Camp Cropper, prisão de segurança máxima, localizada num setor do aeroporto de Bagdá sob controle militar americano.
Ele chegou ao poder depois de um golpe de Estado. No ano seguinte, invade o Irã, com o qual o Iraque mantinha uma velha disputa fronteiriça. A guerra, que durou até 1988, provocou a morte de cerca de 1,5 milhão de pessoas e deixa uma dívida externa de US$ 30 bilhões para o Iraque.
Dois anos depois após o fim do conflito com o Irã, Saddam ataca o Kuait, provocando a primeira Guerra do Iraque. A coalizão liderada pelos EUA do presidente George Bush restaura as fronteiras originais, mas não o afasta do poder.
Em 2003, sob a falsa alegação de que o Iraque possuía um arsenal de armas de destruição em massa, o presidente George W. Bush comanda um ataque ao regime de Saddam, deposto em abril daquele ano.
Em dezembro de 2003, Saddam foi capturado por soldados americanos na região de Awja, onde nasceu. Desde então, enfrentou um processo judicial que resultou na condenação à morte pela morte de xiitas que estariam envolvidos num plano para assassiná-lo.

Mais tropas
O presidente George W. Bush definiu anteontem um plano que aumenta em 20 mil o número de combatentes americanos no Iraque. Analistas acreditam que Bush considerava pouco conveniente anunciar seu novo plano com o enforcamento de Saddam.


Com agências internacionais


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