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Sem Benazir, militares devem reforçar ligações com radicais
AZIZ HUQ
A morte de uma importante
líder oposicionista facilitará a
Pervez Musharraf a criação de
uma coalizão parlamentar que
aja de acordo com seus desejos,
se forem realizadas as eleições
previstas para janeiro. E também torna mais distante a possibilidade de eleições que não
sejam manipuladas, e de líderes
que respondam ao povo, e não
aos seus comandantes uniformizados. Além disso, agora é
ainda mais difícil que os militares paquistaneses abandonem
seu relacionamento simbiótico
com a linha dura religiosa, nas
urnas e nas ruas.
Minha aspiração e esperança
de democracia no Paquistão
não é um sonho romântico. Em
lugar disso, a democracia paquistanesa representa a melhor esperança de redimir o desastre que o Paquistão veio a se
tornar para a política de segurança nacional dos EUA.
Não deveria escapar à atenção de ninguém que Musharraf
até o momento vem dependendo abertamente do Jamiat Ulema-e-Islam (JUI), um partido
religioso favorável ao Taleban,
especialmente na Província do
Baluquistão. Muitas reportagens consistentes e plausíveis
identificaram a região como o
local de refúgio de líderes importantes da Al Qaeda, a exemplo de Osama bin Laden, que
podem confiar no apoio de líderes tribais e religiosos simpáticos à sua causa.
Musharraf depende, para sua
sobrevivência política, de facções políticas no mínimo simpáticas ao maior inimigo dos
Estados Unidos, e possivelmente culpadas de cumplicidade com o terrorismo. Em meio
ao lodaçal da política interna
paquistanesa, o amigo de nosso
amigo pode bem ser nosso inimigo. Bush vem apoiando um
líder militar que, embora alegue ter contido os religiosos
militantes, depende dele para
seu sucesso nas urnas.
Espiões e Al Qaeda
Sem democracia, porém, não
existe a mais remota possibilidade de romper esse elo fatal e
de remover o refúgio da liderança da Al Qaeda. Sem democracia, há escassas chances de
que os líderes tribais e religiosos que oferecem proteção estratégica ao Taleban sejam
conquistados como aliados.
Sem democracia, não há chance de uma reforma das madrassas, que não só formam "mártires" para a Caxemira e o Afeganistão como ajudam e reconfortam o pequeno número de
muçulmanos ocidentais que
desejam justificar a violência.
Um agravante é a incompetência americana. Como no
Iraque, bilhões de dólares em
assistência foram desperdiçados por incompetência e descuido, e por isso o Exército paquistanês continua incapaz ou
pouco disposto a invadir as
áreas de refúgio do Taleban.
Pior, não existe plano alternativo em vista. Sob a tutela dos
EUA, os militares paquistaneses engordaram e se tornaram
ainda mais toscos.
A política do governo Bush
para o Paquistão constitui, em
resumo, um desastre. Como de
hábito, a Casa Branca presumiu
que força militar -no caso
exercida por um Estado vassalo- seria capaz de restringir o
terrorismo.
Como de hábito, os líderes
americanos fracassaram em
compreender relacionamentos
complexos, no caso o elo entre
a ISI [agência de espionagem
paquistanesa] e a Al Qaeda, que
remonta à guerra soviética do
Afeganistão, e a maneira pela
qual a corrupção e a inclinação
cada vez maior a uma política
de base religiosa conduzem
mais e mais pessoas a aderir à
ideologia maniqueísta de nossos inimigos.
Estados falidos
A política do governo americano para o Paquistão é pior
que um desastre. Ela está fomentando a erosão do limitado
sucesso conquistado no Afeganistão. Está alimentando a propaganda de que os EUA apóiam
tiranos. E está impedindo a realização do objetivo de longo
prazo: um Paquistão que não
sirva de refúgio a terroristas ou
campo de treinamento para recrutas do Ocidente.
A morte de Benazir Bhutto
prova que o governo Bush se
colocou em uma situação sem
saída. Além da repetição cruel
da trágica história paquistanesa, a morte de Benazir deveria
servir como marco das dimensões do fracasso do governo
Bush na região.
Porque, em 12 de setembro
de 2001, existia um Estado falido, o Afeganistão, que poderia
servir de refúgio a terroristas.
Agora, as políticas do governo
americano criaram dois novos
Estados em falência, que não só
podem como provavelmente
vão sustentar atividades terroristas no futuro.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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