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Rússia e Ocidente disputam energia centro-asiática
Boas relações com governos locais e pesados investimentos dão aos russos a dianteira no Grande Jogo pela hegemonia
EUA vêem na região uma alternativa ao Oriente Médio; Rússia depende de suprimentos da Ásia Central para cumprir compromissos
ANDREW E. KRAMER
DO "NEW YORK TIMES", EM BUKHARA, UZBEQUISTÃO
Na quase desértica região ao
sul de Bukhara, as fontes de gás
natural são construídas sobre
modestas plataformas de concreto que têm as dimensões
aproximadas de quadras de
basquete. Como o gás é pressurizado naturalmente, não são
necessárias bombas para puxá-lo para a superfície. As tubulações simplesmente encostam
no chão e recebem jorros de
gás. O problema é para onde o
gás vai a partir dali.
Após a fragmentação da
União Soviética, os EUA e seus
aliados europeus procuraram
assegurar que as enormes reservas energéticas da Ásia Central fossem escoadas por gasodutos e oleodutos que passassem longe da Rússia. Era a versão mais recente do Grande Jogo, a disputa travada no século
19 entre a Grã-Bretanha imperial e a Rússia czarista pela hegemonia na região. Ultimamente, porém, o Ocidente vem
ficando para trás.
"Temos uma dianteira boa e
vamos aproveitá-la", disse o vice-primeiro-ministro russo
Sergei Ivanov, em um pódio
improvisado no meio no deserto de Kyzylkum, no Uzbequistão, na inauguração do mais recente campo de gás centro-asiático em operação. Desenvolvido pela petrolífera russa
Lukoil, o campo tem estimados
400 bilhões de metros cúbicos
de gás natural, que a Lukoil já
vendeu antecipadamente pelos
próximos 32 anos à também
russa Gazprom.
A administração Bush identificou a Ásia Central como alternativa ao explosivo Oriente
Médio. Os EUA promovem
uma política de incentivo às exportações energéticas que passam ao largo da Rússia e procuram abrir a região aos investimentos ocidentais.
A Rússia está reagindo, aumentando seus investimentos
centro-asiáticos. Os trunfos em
jogo são grandes: maior produtora mundial de gás e fornecedora européia de importância
maior, a Rússia depende do suprimento da região para cumprir seus compromissos.
"Os russos estão muito interessados em brigar para conservar o domínio", disse Jonathan Stern, especialista em gás
natural do Instituto Oxford de
Estudos Energéticos. Armados
com o dinheiro de seu próprio
boom petrolífero e com suas
boas relações com líderes autocráticos locais, os russos desafiam companhias ocidentais
como ExxonMobil e Chevron,
ansiosas para ampliar suas operações centro-asiáticas.
Em 2005, tropas do presidente do Uzbequistão, Islam
Karimov, abriram fogo contra
uma multidão, num incidente
descrito por organizações humanitárias como o pior massacre de manifestantes desde o da
praça Tienanmen, na China,
em 1989. O episódio causou
tensão nas relações com os
EUA. As perspectivas de participação ocidental no setor de
gás natural perderam força.
Contrastando com a posição
do Ocidente, o presidente russo
Vladimir Putin visitou Karimov após o massacre e ratificou
sua justificativa do que acontecera. Em 2006, a Lukoil ampliou sua presença no país. No
vizinho Turcomenistão, Putin
selou, em maio, o mais importante contrato energético fechado pelo país naquele ano.
Na década de 1990, empresas
ocidentais chegaram a ter grandes ganhos no Cazaquistão. O
principal deles foi Kashagan, a
maior descoberta petrolífera
do mundo desde os anos 1970.
Mas o acordo está atolado em
disputas, e as autoridades cazaques forçaram a renegociação
dos termos com seus parceiros
no consórcio.
Tradução de CLARA ALLAIN
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