São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 2008

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Israel anuncia "guerra total" ao Hamas

Ministro da Defesa diz que usará "todos os meios necessários" contra grupo islâmico; mortos em bombardeios passam de 360

Israel ataca Universidade Islâmica e Ministério do Interior palestino; Ehud Barak cita Barack Obama, crendo em apoio dos EUA

Ali Ali/ Efe
Um familiar traslada o corpo de Dena Balosha, 4, morta em ataque israelense ao campo de refugiados de Yabalia, no norte da faixa de Gaza; um outro bebê morreu junto com dois irmãos adolescentes

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SDEROT (ISRAEL)

No terceiro dia do maior ataque aéreo já lançado contra alvos palestinos, Israel deu ontem novos sinais de que a operação militar na faixa de Gaza deverá em breve se desdobrar em uma invasão terrestre. O ministro da Defesa, Ehud Barak, disse que Israel está em "guerra total" com o grupo fundamentalista Hamas e confirmou que uma ação por terra poderá ser o próximo passo.
Enquanto a aviação israelense bombardeava bases operacionais e simbólicas do poder do Hamas, fazendo o número de mortos em Gaza ultrapassar 360 -cerca de 60 civis, segundo estimativa da ONU-, os militantes islâmicos respondiam com dezenas de foguetes.
Além de isolar a área próxima da fronteira, Israel elevou o tom da retórica. Numa acalorada sessão da Knesset (Parlamento), Barak disse que Israel usará "todos os meios necessários" para colocar um fim ao disparo de foguetes de Gaza e que a operação militar será "ampliada e aprofundada".
"Temos uma guerra total com o Hamas", disse o ministro, repetindo o que já usou para descrever o conflito entre Israel e o fundamentalismo islâmico. Barak aproveitou para citar o presidente eleito dos EUA, numa demonstração de confiança de que o novo governo manterá o apoio a Israel.
"Obama disse que, se foguetes fossem disparados contra sua casa enquanto suas duas filhas estivessem dormindo, ele faria tudo o que pudesse para impedir", disse Barak. A frase foi dita por Obama em julho, durante uma visita a Sderot, a cidade israelense mais castigada pelos foguetes palestinos.
O discurso de Barak e a referência ao apoio americano pareciam uma resposta à pressão internacional contra os três dias de ataques israelenses à infra-estrutura do Hamas -que prosseguiam com novos bombardeios hoje de manhã (noite de ontem no Brasil).
O território controlado pelo grupo islâmico desde junho de 2007 foi novamente cenário de caos e pânico, com a maioria dos moradores evitando sair às ruas ou ficar perto de janelas, temendo estilhaços dos ataques a alvos do Hamas.
Ontem eles incluíram a Universidade Islâmica, um dos bastiões intelectuais do Hamas, e o Ministério do Interior, que serve de comando central para os cerca de 13 mil membros da força de segurança do grupo. As casas de dois dos principais comandantes militares do Hamas também foram atingidas. Eles não estavam, mas vários membros de suas famílias foram mortos.

Bebê morto
Em um dos ataques, segundo fontes palestinas, um bebê e seus dois irmãos adolescentes foram mortos. Barak pediu aos civis de Gaza que se afastem das instituições ligadas ao Hamas.
Em conversa por telefone com a Folha de Gaza, o palestino Wael Alqarra, que trabalha numa organização humanitário, disse que o bombardeio é intermitente e que as ruas estão desertas. Mas admitiu que não observou desvios grosseiros dos objetivos declarados por Israel. "O próprio Hamas disse que 97% das baixas são de membros do grupo", disse.
O maior objetivo de Israel -impedir o lançamento de foguetes contra seu território ou ao menos reduzir a capacidade de lançamento do Hamas- parece longe de ser alcançada. Ontem cerca de 70 foguetes atingiram áreas israelenses próximas à fronteira, deixando um saldo de três mortos.
O primeiro a ser morto ontem foi um operário árabe de 27 anos que estava numa construção na cidade de Ashkelon. Outros 17 trabalhadores, a maioria estrangeira, ficaram feridos. No fim do dia, mais duas mortes: uma mulher na cidade de Ashdod e um homem no oeste do deserto do Neguev.

Retórica
Embora os principais líderes do Hamas tenham desaparecido de cena nos últimos dias, protegendo-se dos ataques em abrigos secretos, o grupo manteve o tom de desafio à ofensiva israelense por meio de porta-vozes. Eles reiteraram que não aceitarão novas condições para um cessar-fogo e que ele só ocorrerá quando Israel aceitar a abertura das fronteiras.
No dia 19, a liderança do Hamas decidiu não renovar a trégua que manteve com Israel durante seis meses, dando início a uma nova onda de lançamentos de foguetes contra o inimigo. Pressionado a reagir pela opinião pública e pela oposição de direita, que lidera as pesquisas de opinião para as eleições gerais de fevereiro, o governo decidiu atacar.
Segundo pesquisa de opinião divulgada ontem, 81% dos israelenses apóiam a ofensiva. Dois dos principais ministros são candidatos: além de Barak, a chanceler Tzipi Livni.


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