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Na fronteira, israelenses apóiam ataque
Para população acostumada a fugir de foguetes palestinos, ação é apontada como saída para conter "ameaça diária" do Hamas
No posto de Erez, a principal passagem de fronteira, blindados israelenses se preparam para invasão terrestre iminente a Gaza
DO ENVIADO ESPECIAL A SDEROT
Na entrada de um centro comunitário de Sderot, cidade israelense a menos de um quilômetro da faixa de Gaza, um objeto chama a atenção entre as
desajeitadas esculturas produzidas no curso infantil de cerâmica: um pequeno foguete, pintado de verde e com as letras
em hebraico da palavra que tornou a cidade tragicamente famosa: "Qasam".
Nessa cidade de pouco menos de 20 mil habitantes, onde
toda criança aprende mais cedo
do que gostaria o nome de foguetes palestinos e a conviver
com sirenes e abrigos antiaéreos, não é surpresa que haja
apoio quase unânime ao ataque
israelense a Gaza.
"Demorou, já era para ter
acontecido há muito tempo",
diz Yaron Arush, 17, que tem
trabalhado como voluntário na
polícia de Sderot desde que a cidade foi colocada em estado de
emergência, no sábado. "Só
quem mora aqui conhece o sofrimento de viver diariamente
sob a ameaça de foguetes."
A população incentiva os
tambores de guerra, e os sinais
da escalada estão por toda a
parte. Embora Israel tenha declarado a região próxima a Gaza
"área militar isolada", a reportagem da Folha conseguiu chegar até Erez, a principal passagem de fronteira.
No caminho, é possível ver
centenas de tanques e de outros blindados que, enfileirados, indicam um suposto prelúdio à invasão terrestre.
Vários ônibus descarregavam soldados abarrotados de
equipamentos, juntando-se às
tropas já posicionadas numa
estrada de barro que leva à faixa de Gaza. Abordados pela reportagem, os soldados se recusaram a dar declarações.
Para a maioria dos moradores, é a única solução para o pesadelo dos ataques diários.
Pelo menos 25 foguetes atingiram Sderot ontem, que mesmo assim terminou o dia sem
mortos. Talvez pela convivência com o perigo e pelo hábito
de ir para os abrigos assim que
a sirene toca. "Todos sabem
que a distância entre a sirene e
o impacto [do foguete] é de 20
segundos", diz, com ar indiferente, o assistente social
Ronny de Souza, um indiano
vindo de Goa que parece completamente adaptado aos selvagens códigos locais.
À medida que o alcance dos
foguetes dos militantes islâmicos de Gaza foi aumentando,
cresceu também o mundo que
convive com os temidos Qasams.
Em Ashkelon, cidade na costa israelense que fica a apenas
20 quilômetros da fronteira
com Gaza, esse círculo sangrento atingiu ontem um operário de 27 anos, que trabalhava na construção de uma biblioteca pública.
"Terror cego"
Numa trágica ironia típica do
conflito árabe-israelense, o
operário era árabe, assim como
a maioria dos trabalhadores de
construção no país. "Foguetes
não escolhem nacionalidade",
comenta Yigal, um judeu ortodoxo que prefere não dizer o
sobrenome. "Isso só mostra como o terror do Hamas é cego."
Assim como Sderot, Ashkelon parecia ontem uma cidade
fantasma. Grande parte do comércio ficou fechada. Quem
pôde aproveitou o feriado judaico de Chanuká e viajou para
longe do alcance dos foguetes.
Os que ficaram comemoravam
a resposta dura que Israel dava
aos fundamentalistas em Gaza.
"País nenhum do mundo
aceitaria ficar de braços cruzados enquanto suas cidades são
atingidas por mísseis todos os
dias", diz Elad Barak, dono de
uma lanchonete no esvaziado
centro de Ashkelon. "Imagine
se a Argentina ou o Paraguai fizessem isso com o Brasil", compara.
(MARCELO NINIO)
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