São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Na fronteira, israelenses apóiam ataque

Para população acostumada a fugir de foguetes palestinos, ação é apontada como saída para conter "ameaça diária" do Hamas

No posto de Erez, a principal passagem de fronteira, blindados israelenses se preparam para invasão terrestre iminente a Gaza

DO ENVIADO ESPECIAL A SDEROT

Na entrada de um centro comunitário de Sderot, cidade israelense a menos de um quilômetro da faixa de Gaza, um objeto chama a atenção entre as desajeitadas esculturas produzidas no curso infantil de cerâmica: um pequeno foguete, pintado de verde e com as letras em hebraico da palavra que tornou a cidade tragicamente famosa: "Qasam".
Nessa cidade de pouco menos de 20 mil habitantes, onde toda criança aprende mais cedo do que gostaria o nome de foguetes palestinos e a conviver com sirenes e abrigos antiaéreos, não é surpresa que haja apoio quase unânime ao ataque israelense a Gaza.
"Demorou, já era para ter acontecido há muito tempo", diz Yaron Arush, 17, que tem trabalhado como voluntário na polícia de Sderot desde que a cidade foi colocada em estado de emergência, no sábado. "Só quem mora aqui conhece o sofrimento de viver diariamente sob a ameaça de foguetes."
A população incentiva os tambores de guerra, e os sinais da escalada estão por toda a parte. Embora Israel tenha declarado a região próxima a Gaza "área militar isolada", a reportagem da Folha conseguiu chegar até Erez, a principal passagem de fronteira.
No caminho, é possível ver centenas de tanques e de outros blindados que, enfileirados, indicam um suposto prelúdio à invasão terrestre.
Vários ônibus descarregavam soldados abarrotados de equipamentos, juntando-se às tropas já posicionadas numa estrada de barro que leva à faixa de Gaza. Abordados pela reportagem, os soldados se recusaram a dar declarações.
Para a maioria dos moradores, é a única solução para o pesadelo dos ataques diários.
Pelo menos 25 foguetes atingiram Sderot ontem, que mesmo assim terminou o dia sem mortos. Talvez pela convivência com o perigo e pelo hábito de ir para os abrigos assim que a sirene toca. "Todos sabem que a distância entre a sirene e o impacto [do foguete] é de 20 segundos", diz, com ar indiferente, o assistente social Ronny de Souza, um indiano vindo de Goa que parece completamente adaptado aos selvagens códigos locais.
À medida que o alcance dos foguetes dos militantes islâmicos de Gaza foi aumentando, cresceu também o mundo que convive com os temidos Qasams.
Em Ashkelon, cidade na costa israelense que fica a apenas 20 quilômetros da fronteira com Gaza, esse círculo sangrento atingiu ontem um operário de 27 anos, que trabalhava na construção de uma biblioteca pública.

"Terror cego"
Numa trágica ironia típica do conflito árabe-israelense, o operário era árabe, assim como a maioria dos trabalhadores de construção no país. "Foguetes não escolhem nacionalidade", comenta Yigal, um judeu ortodoxo que prefere não dizer o sobrenome. "Isso só mostra como o terror do Hamas é cego."
Assim como Sderot, Ashkelon parecia ontem uma cidade fantasma. Grande parte do comércio ficou fechada. Quem pôde aproveitou o feriado judaico de Chanuká e viajou para longe do alcance dos foguetes. Os que ficaram comemoravam a resposta dura que Israel dava aos fundamentalistas em Gaza.
"País nenhum do mundo aceitaria ficar de braços cruzados enquanto suas cidades são atingidas por mísseis todos os dias", diz Elad Barak, dono de uma lanchonete no esvaziado centro de Ashkelon. "Imagine se a Argentina ou o Paraguai fizessem isso com o Brasil", compara. (MARCELO NINIO)



Texto Anterior: Israel anuncia "guerra total" ao Hamas
Próximo Texto: Artigo: A autodefesa é nosso direito básico
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.