São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 2008

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Ofensiva limita ação de Obama por diálogo

Para analistas nos EUA, ataque israelense manda recado a novo governo americano

Equipe que toma posse no dia 20 dá pistas de que não mudará alinhamento total com Israel vigente durante a Presidência de Bush

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Depois de prometer durante a campanha eleitoral atuação engajada no conflito entre israelenses e palestinos, Barack Obama terá de rever seu plano antes mesmo de tomar posse, no próximo dia 20. Os recentes ataques de Israel à faixa de Gaza não apenas limitam o escopo do que o presidente eleito poderá fazer como ainda colocam em xeque qualquer perspectiva de negociações de paz.
"Claramente, [a situação atual] complica qualquer tentativa de esforço diplomático de Obama", afirma Steve Cook, membro sênior para o Oriente Médio do centro de estudos Council on Foreign Relations. "Não dá para negociar com Israel em meio a esse ataque aos palestinos."
"O que Israel está dizendo a Obama agora é: "Neste momento, você precisa nos dar espaço para lidar com este problema'", disse Dan Senor, também do Council on Foreign Relations.
Para os analistas, que participaram de uma teleconferência ontem, os israelenses se agarram a uma fala de Obama na cidade de Sderot durante a campanha à Presidência. Na época, o democrata afirmou que, "se alguém estivesse lançando foguetes contra a casa onde minhas filhas dormem, eu tentaria pôr um fim a isso".
"Eles querem garantir a cobertura política de Obama", disse Senor.
Até agora, o presidente eleito se manteve silencioso. Mas membros da equipe de transição dizem que ele está acompanhando as ações de perto.
Pouco, porém, do que foi dito pelo democrata até agora indica que sua abordagem do problema seria substancialmente diferente da do governo de George W. Bush, que mantém apoio irredutível a Israel.
Apesar de no início da campanha eleitoral ter dito não se opor a negociações diretas com o Hamas, em julho Obama se moveu para uma posição mais próxima da de Bush e disse que não incluiria o grupo islâmico em negociações sem que ele, antes, reconhecesse Israel e os acordos já assinados entre os israelenses e a Autoridade Nacional Palestina, controlada pelo partido rival Fatah.

Processo morto
A divisão da liderança palestina é considerada um empecilho ao avanço de negociações com Israel. Um exemplo é a falta de resultados do diálogo promovido pelo governo Bush a partir da Conferência de Annapolis, em novembro de 2007.
Agora, mesmo os esforços falhos dos EUA retrocederam. "O processo de paz está morto", afirmou ao "Financial Times" o professor de relações internacionais da Universidade do Kuait Abdullah Alshayji. "Os israelenses estão destruindo toda a confiança e queimando todas as pontes [de diálogo]."
O jornal britânico observa que a situação criada pelo ataque a Gaza contrasta com o clima mais promissor existente na região há poucos meses, com as negociações mediadas pela Turquia entre Síria e Israel, a trégua entre Israel e o Hamas e o acordo, mediado pelo Qatar, que reincorporou o Hizbollah ao governo ao libanês.
"[O ataque a Gaza] foi um golpe nessa tendência de esfriar as crises e se mover na direção de solução conciliatórias, pavimentando o caminho para que o novo governo americano embarcasse numa nova atitude", disse um analista sírio. "As pessoas tinham esperança, depois do fracasso de Bush, mas agora só há gente morrendo."
Apesar disso, nos EUA há quem mantenha o otimismo. "A diplomacia pró-acordos de paz é uma alta prioridade para Obama. Depois que a poeira baixar, o governo poderá ter uma chance de exercer influência", disse Cook. "Israel não quer uma briga com os EUA, de quem depende."
Na Casa Branca atual, o apoio a Israel foi reiterado ontem. Gordon Johndroe, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, voltou a responsabilizar o Hamas pela situação em Gaza e não pediu a Israel o fim dos ataques. "O Hamas deve parar de lançar foguetes contra Israel e concordar em respeitar um cessar-fogo sustentável e duradouro", disse Johndroe.


Com o "Financial Times"


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