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ANÁLISE
Opções arriscadas de Bush
DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES"
O debate cada vez mais intenso
sobre o serviço de inteligência
americano no período anterior à
Guerra do Iraque apresenta ao
presidente George W. Bush alternativas difíceis e arriscadas num
momento em que ele equilibra a
política de um ano eleitoral com
declarações para reformar o aparato da inteligência e para restaurar a credibilidade da nação no
restante do mundo.
Bush poderia ordenar o início
de uma investigação sobre o desempenho das agências de inteligência -como insistem democratas e o ex-inspetor-chefe de armas David Kay-, mas seus auxiliares temem que a decisão possa
provocar danos políticos. Quase
certamente, ela reabriria velhas
feridas com a CIA (Agência Central de Inteligência, o serviço secreto dos EUA).
Bush poderia continuar sustentando que a ação militar se justifica independentemente de quão
urgente fosse a ameaça de Saddam Hussein e adiar a investigação e uma possível reforma das
operações de inteligência por um
ano. No entanto sua equipe política teme que semelhante decisão
deixe o assunto vivo por todo um
longo período de campanha.
Ou o presidente, e aqueles da
sua equipe de segurança nacional
que já falaram sobre como Saddam poderia usar seu arsenal para
atacar a qualquer instante, poderia concluir que alguma coisa de
muito errado aconteceu durante
o longo trajeto até a guerra.
Mas a Casa Branca não tem o
hábito de admitir seus erros. E,
mesmo que o presidente Bush
prometesse consertar o que muitos dizem ser um sistema defeituoso, esse conserto não seria fácil
-como notam seus assessores de
segurança nacional.
Os funcionários da Casa Branca
não vão dar detalhes sobre por
que estão hesitando tanto para
começar uma investigação. Mas
estão diante de uma situação em
que os democratas procuram evidências para culpar o presidente
Bush e o vice-presidente Dick
Cheney, e alguns republicanos
vasculham por provas contra
George Tenet, o diretor da CIA
-que foi escolhido para o cargo
por Bill Clinton.
Um funcionário da Casa Branca
disse anteontem que havia um
claro risco de um inquérito poder
sair de controle. Exatamente o
que muitas autoridades do governo acham que aconteceu com o
inquérito sobre os ataques de 11
de setembro de 2001.
Ainda assim, alguns membros
da administração estão começando a argumentar, em conversas
reservadas, que essa investigação
é inevitável agora que Kay declarou ao Senado: "Estávamos quase
totalmente errados".
Fazer o que Kay diz ser necessário -realizar um inquérito e reformar a inteligência antes que erros similares sejam cometidos no
Irã ou na Coréia do Norte- tornou-se extremamente complexo.
O presidente Bush já defendeu
publicamente as agências de inteligência americanas em parte, segundo alguns funcionários do governo, por querer evitar outra
confrontação pública com Tenet e
o aparato da inteligência.
Muitos republicanos defendem
seguir o caminho de Kay e colocar
a culpa na avaliação da agência de
inteligência, não na Casa Branca.
De acordo com eles, essa seria a
melhor maneira de proteger o
presidente Bush da acusação de
que ele teria preferido destacar as
informações mais negativas.
Os conselheiros políticos do
presidente sabem muito bem que
o relatório de Kay deu aos pré-candidatos democratas algo que
eles havia muito procuravam:
uma maneira de colocar em discussão novamente se Bush foi imprudente e belicoso, disposto a
distorcer descobertas da inteligência para que se encaixassem
em sua própria agenda, mesmo à
custa da credibilidade do país.
O que resta disso é um, por enquanto, vagaroso recuo da Casa
Branca -uma meia-volta a cada
dia, a cada fato, nas declarações
feitas com tanta confiança nove
meses atrás. O presidente Bush
não mais afirma, como já fez, estar certo de que, cedo ou tarde, armas não-convencionais serão
descobertas no Iraque.
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