São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

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HOLOCAUSTO

Documentos foram pedidos por um grupo de trabalho do governo americano; agência desrespeita lei de 1998

CIA esconde papéis sobre recrutamento de ex-nazistas

DOUGLAS JEHL
DO ""NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

A CIA está se negando a entregar a um grupo de trabalho do governo dos EUA documentos relacionados a criminosos de guerra nazistas. A informação foi divulgada por deputados republicanos e democratas no Congresso.
Em obediência a uma lei de 1998, a CIA já forneceu mais de 1,2 milhão de páginas de documentos, a maioria vinda dos arquivos de seu predecessor da época da Segunda Guerra Mundial, o Escritório de Serviços Estratégicos (OSS, sigla em inglês). Muitos documentos foram tornados públicos. Alguns deles, divulgados no ano passado, indicam que houve uma relação mais estreita do que se imaginava até agora entre o governo americano e criminosos de guerra nazistas e que essa relação incluiu o recrutamento, pela CIA, de suspeitos criminosos de guerra ou colaboradores nazistas.
Há quase três anos, a CIA vem aplicando uma interpretação restrita da lei de 1998, rejeitando os pedidos para registros adicionais.
O grupo de trabalho diz que, em alguns casos, a CIA concordou em fornecer informações sobre ex-nazistas, mas não sobre a extensão dos vínculos que a agência teve com eles. Em outros casos, ela se negou a fornecer informações sobre indivíduos e sua conduta durante a guerra, a não ser nos casos em que o grupo de trabalho pudesse primeiro fornecer provas de que os suspeitos foram cúmplices de crimes de guerra.
O comportamento da agência cria um impasse. Há a relutância da CIA em trazer a público detalhes sobre qualquer operação da inteligência e, por outro lado, a decisão, expressa em lei, de que seja erguido o véu que recobre as relações entre o governo americano e criminosos de guerra.
Essa disputa não tinha, até agora, sido trazida a público. Críticos da CIA, entre eles três pessoas que integram o grupo de trabalho, disseram que estão trazendo a disputa a público na esperança de resolver o impasse até março, quando termina o prazo para o grupo de trabalho encerrar sua pesquisa.
""Penso que a CIA desobedeceu a lei, e, ao fazê-lo, menosprezou a importância do Holocausto, desprezou os sobreviventes do Holocausto e também os americanos que sacrificaram suas vidas para derrotar os nazistas na Segunda Guerra Mundial", disse Elizabeth Holtzman, ex-congressista de Nova York e integrante do grupo.
""Nós já fizemos todo o possível, já oferecemos à CIA todas as oportunidade possíveis de cumprir o que manda a lei."
Atendendo a pedido do senador republicano Mike DeWine, a Comissão de Justiça do Senado planeja realizar uma audiência pública sobre o assunto no início do próximo mês. A comissão deverá convocar como testemunhas funcionários da CIA e integrantes do grupo de trabalho.
Um porta-voz da CIA disse que a agência já trouxe a público 1,25 milhão de páginas de documentos, atendendo ao previsto na lei, incluindo documentos relacionados a 775 nomes diferentes. ""A CIA não reteve nenhum material que seja relacionado a crimes de guerra cometidos por autoridades, agentes ou colaboradores da Alemanha nazista", disse ele.
O porta-voz reconheceu que a CIA vem se negando a trazer a público outros materiais ""não relacionados aos crimes de guerra propriamente ditos" e que a agência está redigindo um relatório ao Congresso para justificar seus atos, segundo as instâncias de isenção previstas na lei.
O Grupo de Trabalho Interagências sobre Registros dos Crimes de Guerra Nazistas e do Governo Imperial Japonês disse que não comentaria a disputa.


Tradução de Clara Allain


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