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PRIMEIRO MUNDO
Superávit por causa do aumento dos preços do petróleo e do gás rendeu R$ 770 por habitante de Alberta
Província do Canadá dá dinheiro à população
FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL
Você gostaria de morar num lugar sem maiores preocupações
com desemprego, violência e pobreza e ainda ser pago por isso?
Foi o que aconteceu neste ano a
praticamente todos os 2,3 milhões
de moradores da próspera Alberta, Província do centro-sul canadense rica em petróleo.
Por causa do superávit recorde
obtido pelo governo provincial no
ano passado, cada um dos moradores, inclusive mortos recentes,
mendigos e bebês, está recebendo
um cheque individual de 400 dólares canadenses, o equivalente a
R$ 770. Apenas os presidiários ficaram de fora.
"Eu tentei incluir os meus dois
cachorros, mas não deu certo",
brinca o engenheiro paulistano
Hélio Colaço, 45 anos, dos quais
seis em Calgary, onde trabalha como motorista de ônibus adaptados a deficientes físicos.
Animado com o dinheiro, ele
escreveu ontem um e-mail à Folha contando a notícia junto com
uma reprodução do cheque. "Enviei a foto para vocês porque, se
contasse, ninguém acreditaria."
Colaço, que ganha R$ 5.800 por
mês e mora em casa própria, disse
que é a primeira vez que o governo faz isso, mas a restituição é
uma prática comum entre as empresas. Recentemente, recebeu R$
170 de um supermercado em razão dos lucros obtidos e deixou de
pagar um mês de gás de R$ 115 pelo mesmo motivo.
O brasileiro disse que optou depositar o cheque na poupança.
Mas na mídia local, que registra a
euforia provocada pela chegada
dos cheques pelo correio, há relatos de moradores que gastaram
tudo no cassino e de doações às
igrejas, enquanto os bancos reclamam da falta de notas devido ao
volume de cheques descontados.
Já as empresas da região lançaram várias promoções para captar o dinheiro, como pacotes turísticos no valor exato do cheque.
"E outra: está dizendo que o governo federal vai também emitir
cheque para todo mundo. Dizem
que vai ser uns 140 dólares (R$
270). Uma mixaria, vê se pode?",
desdenha Colaço.
A operação, que custará ao governo local cerca de 1,4 bilhão do
superávit de 8,7 bilhões de dólares
canadenses, não foi unanimidade. A oposição ao premiê (governador) Ralph Klein, um dos principais líderes do Partido Conservador canadense, disse que o dinheiro deveria ter sido usado em
obras de infra-estrutura e em doações para programas sociais.
O popular Klein, que governa a
Província desde 1992, se defende
dizendo que a maior parte do superávit será gasta com infra-estrutura. E, para o ano que vem, os
moradores podem receber um
cheque ainda mais polpudo -o
superávit deste ano deve ficar em
19 bilhões de dólares locais.
Essa não é a única distribuição
de dinheiro feita recentemente
pelo governo conservador, que se
beneficia dos altos preços internacionais do petróleo e do gás. Em
2005, na comemoração do centenário da Província, foi criada uma
poupança de quase R$ 1.000 para
toda criança filha de residentes
nascida a partir do ano passado.
Mas o Canadá tem uma pegadinha: o longo e rigoroso inverno.
Ontem, conta Colaço, foi um dos
dias mais quentes do ano em Calgary até agora, com 5C.
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