São Paulo, domingo, 31 de março de 2002

Próximo Texto | Índice

TENSÃO NO ORIENTE MÉDIO

Arafat segue sitiado; israelenses prendem 145 pessoas, fazem buscas de porta em porta em Ramallah e entram também em Hebron

Israel amplia ofensiva na Cisjordânia

Reuters
Palestinos deitados diante de um tanque israelense, após terem sido presos em Ramallah


DA REDAÇÃO

Israel ampliou ontem sua ofensiva militar na Cisjordânia e continuou a ocupar o complexo presidencial do líder palestino Iasser Arafat, em Ramallah.
Sem água, luz ou telefone -as baterias de seu telefone celular já estavam no fim na manhã de ontem, segundo assessores-, Arafat estava praticamente isolado do mundo, sitiado em um andar de sua residência oficial. O dirigente apelou à "comunidade internacional" para que pressione Israel a se retirar.
Na manhã de anteontem, o governo do premiê Ariel Sharon declarou Arafat um "inimigo" a ser isolado e ordenou uma grande operação para destruir a infra-estrutura do terror na Cisjordânia.
A ação veio em resposta a um atentado suicida do Hamas em um hotel em Netania, que deixou 22 mortos no início da Páscoa judaica (Pessach). O Exército invadiu o QG de Arafat, matando, na troca de tiros, ao menos dez palestinos -dois soldados israelenses também morreram. As autoridades não revelam quando pretendem deixar o local.
Os corpos de cinco pessoas foram encontrados num dos edifícios do quartel-general -dois deles levaram tiros na cabeça.
"Eles foram executados a sangue-frio", disse o negociador palestino Hassan Asfour. "É um exemplo claro da política de execuções coletivas adotada pelo governo israelense."
Um porta-voz do Exército de Israel disse que os soldados tomaram o prédio onde estavam as vítimas após terem disparado e lançado um granada.
Cerca de dez tanques cercaram o quartel-general do coronel Jibril Rajoub, chefe dos serviços de segurança da Autoridade Nacional Palestina (ANP), em Beitunia, próximo a Ramallah.
Além de neutralizar Rajoub, um dos mais altos funcionários da ANP, a iniciativa israelense teria também como objetivo capturar prisioneiros de grupos extremistas como Hamas e Jihad Islâmica, mantidos no local.
Tropas realizaram buscas porta a porta em Ramallah, à procura de militantes ligados a ações terroristas em Israel. Cerca de 150 tanques estão na cidade.
Por meio de alto-falantes, os homens de 15 a 50 anos receberam ordens de se dirigir ao centro de Ramallah para interrogatórios.
Pelo menos 145 suspeitos foram detidos, entre eles o número dois da Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP), Abdelkarim Qais (conhecido como Abu Leila), e um dos fundadores da Fatah (partido de Arafat), Sajer Habache. Ambos seriam membros do Tanzim, um dos braços armados do Fatah.
Tropas também realizaram buscas no hospital central da cidade e ocuparam o edifício da rádio Voz da Palestina, que foi retirada do ar.
Cinco veículos blindados israelenses ingressaram na tarde de ontem em bairros palestinos na cidade de Hebron, na Cisjordânia. Segundo testemunhas, os militares dispararam contra homens armados que tentavam impedir o seu avanço.
Tanques entraram também na cidade de Beit Jala, de onde atiradores palestinos costumam disparar contra residentes de bairros próximos de Jerusalém.
A direção do Fatah convocou a população palestina a resistir à campanha militar israelense. Em comunicado, conclamou todos os seus militantes a lançar ataques contra colonos judeus na faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Em Gaza, cerca de 50 mil pessoas participaram de manifestação em solidariedade a Arafat.

Confrontos
Em outro episódio que já se tornou comum ao longo de 18 meses de Intifada (levante palestino contra a ocupação), dois palestinos das Brigadas dos Mártires de Al Aqsa abriram fogo contra um posto de controle policial israelense, próximo ao vilarejo árabe de Baka al Garbyie.
Um oficial israelense e os dois terroristas morreram -um deles após a aparente explosão de um cinto de explosivos que carregava para uma missão suicida.
Se já não bastassem os confrontos generalizados na Cisjordânia, as Forças Armadas de Israel travou batalhas ontem também com o grupo extremista islâmico Hizbollah, na fronteira com o Líbano.
Os militantes libaneses dispararam morteiros contra seis posições israelenses na região das Fazendas de Chebaa, porção da fronteira israelo-libanesa que ainda é motivo de disputa. A aviação israelense retaliou bombardeando pelo menos três alvos do Hizbollah no sul do Líbano.


Com agências internacionais


Próximo Texto: No gabinete de Arafat, slogan diz "não passarão"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.