|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Crença na força do Exército move Israel
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO
Desde o nascimento ameaçado
de destruição pelos vizinhos árabes, Israel sempre teve no seu
Exército a única garantia de sobrevivência. Não foram argumentos ou pressão externa que fizeram o país resistir à hostilidade
árabe e impor acordos de paz,
mas a força de seus soldados.
Daí a crença israelense na solução pela força, evidente na atual
ofensiva.
Muitos em Israel pensarão sempre que seu formidável Exército
tem um recurso ainda não tentado que poderá esmagar a revolta
dos palestinos e forçá-los de volta
à negociação. E que, cedendo agora diante dos atentados terroristas, estarão enviando uma mensagem de fraqueza numa região
brutal e implacável com os fracos.
Já muitos palestinos seguirão
apoiando a Intifada, pois acreditam que não tenham nada a perder ou que vale perder o pouco
que resta pela nobre causa de um
Estado nacional palestino.
O pior dessa guerra assimétrica
-os palestinos não têm Exército
regular- é que nenhuma das
partes possui força suficiente para
impor seu desejo à outra e ambas
têm uma boa dose de razão em
seus argumentos: receita certa para um conflito sem fim.
Israel merece fronteiras seguras
e reconhecimento árabe de sua
existência, enquanto os palestinos
merecem seu Estado e uma solução satisfatória para os milhões de
refugiados pelo mundo.
É trágico e sintomático que os
velhos inimigos Iasser Arafat e
Ariel Sharon, ambos com as mãos
imundas de sangue, estejam liderando palestinos e israelenses em
mais um momento decisivo.
Arafat, mesmo após Oslo, nunca tirou o uniforme de guerrilheiro e a pistola da cintura, falando
de paz e convivência pacífica para
a platéia internacional e de guerra
e destruição de Israel em árabe.
Sharon sempre acreditou na
força bruta para lidar com a hostilidade árabe e teve a carreira quase encerrada após a Justiça israelense o responsabilizar indiretamente pelos massacres de Sabra e
Chatila. Mas a revolta iniciada por
Arafat em setembro de 2000 o levou de volta ao poder.
Não sabemos ainda como vai
parar mais esta ação belicosa de
Sharon, mas é pouco provável
que detenha o exército de suicidas
palestinos. Seguindo a crença na
resolução pela força, o próximo
passo então seria uma reocupação mais abrangente dos territórios palestinos, com a reinstalação
da administração colonial.
Mas a força não dobrará os palestinos. A razão de suas vidas miseráveis é o sonho de ter o seu Estado nacional ou voltar a suas casas no que hoje é Israel.
A saída para tudo isso é óbvia:
negociações de paz. O processo
iniciado em Oslo, em 1993, teve
grandes falhas -Israel seguiu expandindo suas colônias em Gaza
e Cisjordânia e os palestinos seguiram cometendo atentados e
incitando o ódio anti-Israel. Mas a
alternativa é a carnificina atual.
Texto Anterior: No gabinete de Arafat, slogan diz "não passarão" Próximo Texto: Conselho da ONU pede retirada de Israel Índice
|