São Paulo, domingo, 31 de março de 2002

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ANÁLISE

Crença na força do Exército move Israel

SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO

Desde o nascimento ameaçado de destruição pelos vizinhos árabes, Israel sempre teve no seu Exército a única garantia de sobrevivência. Não foram argumentos ou pressão externa que fizeram o país resistir à hostilidade árabe e impor acordos de paz, mas a força de seus soldados.
Daí a crença israelense na solução pela força, evidente na atual ofensiva.
Muitos em Israel pensarão sempre que seu formidável Exército tem um recurso ainda não tentado que poderá esmagar a revolta dos palestinos e forçá-los de volta à negociação. E que, cedendo agora diante dos atentados terroristas, estarão enviando uma mensagem de fraqueza numa região brutal e implacável com os fracos.
Já muitos palestinos seguirão apoiando a Intifada, pois acreditam que não tenham nada a perder ou que vale perder o pouco que resta pela nobre causa de um Estado nacional palestino.
O pior dessa guerra assimétrica -os palestinos não têm Exército regular- é que nenhuma das partes possui força suficiente para impor seu desejo à outra e ambas têm uma boa dose de razão em seus argumentos: receita certa para um conflito sem fim.
Israel merece fronteiras seguras e reconhecimento árabe de sua existência, enquanto os palestinos merecem seu Estado e uma solução satisfatória para os milhões de refugiados pelo mundo.
É trágico e sintomático que os velhos inimigos Iasser Arafat e Ariel Sharon, ambos com as mãos imundas de sangue, estejam liderando palestinos e israelenses em mais um momento decisivo.
Arafat, mesmo após Oslo, nunca tirou o uniforme de guerrilheiro e a pistola da cintura, falando de paz e convivência pacífica para a platéia internacional e de guerra e destruição de Israel em árabe.
Sharon sempre acreditou na força bruta para lidar com a hostilidade árabe e teve a carreira quase encerrada após a Justiça israelense o responsabilizar indiretamente pelos massacres de Sabra e Chatila. Mas a revolta iniciada por Arafat em setembro de 2000 o levou de volta ao poder.
Não sabemos ainda como vai parar mais esta ação belicosa de Sharon, mas é pouco provável que detenha o exército de suicidas palestinos. Seguindo a crença na resolução pela força, o próximo passo então seria uma reocupação mais abrangente dos territórios palestinos, com a reinstalação da administração colonial.
Mas a força não dobrará os palestinos. A razão de suas vidas miseráveis é o sonho de ter o seu Estado nacional ou voltar a suas casas no que hoje é Israel.
A saída para tudo isso é óbvia: negociações de paz. O processo iniciado em Oslo, em 1993, teve grandes falhas -Israel seguiu expandindo suas colônias em Gaza e Cisjordânia e os palestinos seguiram cometendo atentados e incitando o ódio anti-Israel. Mas a alternativa é a carnificina atual.



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