São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2006

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IRAQUE SOB TUTELA

Jill Carroll diz que foi bem tratada; EUA negam que tenha havido negociação com seqüestradores

Americana seqüestrada em janeiro é solta

France Presse/Baghdad TV
A jornalista dos EUA Jill Carroll concede entrevista à TV iraquiana após ser libertada em Bagdá


DA REDAÇÃO

Jill Carroll, americana que fazia reportagens para o jornal "Christian Science Monitor" e foi seqüestrada em 7 de janeiro, foi deixada ontem numa rua de Bagdá por seus seqüestradores.
Eles haviam ameaçado matá-la se não fossem libertadas todas as mulheres iraquianas presas pelas forças dos EUA. O prazo final era 26 de fevereiro. Depois de passado o prazo, nenhuma notícia de Carroll havia sido divulgada.
Carroll, 28, foi deixada perto de um escritório do Partido Islâmico Iraquiano, a maior organização política sunita do país, com uma carta em árabe instruindo o partido a ajudá-la. Tariq al Hashimi, líder do partido, negou envolvimento do partido no seqüestro.
A jornalista disse que ficou num lugar seguro e confortável e foi bem tratada: "Eles nunca disseram que iriam bater em mim, nunca me ameaçaram".
O embaixador dos EUA no Iraque, Zalmay Khalilzad, disse que nenhum seqüestrador foi preso e não houve pagamento de resgate pela embaixada. Khalilzad também disse que não há relação entre a recente soltura de prisioneiras iraquianas e a libertação de Carroll. "Ainda temos algumas mulheres detidas, quatro."
Casos recentes de seqüestros de ocidentais foram marcados por relatos de vultosos pagamentos de resgate, apesar das negativas oficiais. O jornal romano "La Repubblica", por exemplo, denunciou neste ano o pagamento de 5 milhões (cerca de R$ 13,4 milhões) pelo resgate de duas mulheres seqüestradas em 2004, o que a Chancelaria italiana nega.
Um homem foi preso na Alemanha por tentar extorquir US$ 2 milhões do jornal de Carroll. Kelvin Kamara, de origem africana, tentou o golpe por e-mail, foi identificado pela inteligência dos EUA e acabou preso pelas autoridades alemãs no último dia 16.

Mais perigo para iraquianos
Os estrangeiros seqüestrados no Iraque recebem publicidade, mas são uma pequena parte das vítimas no país. Segundo a Embaixada dos EUA, entre 10 e 20 iraquianos são seqüestrados diariamente no Iraque desde abril de 2003. O preço dos resgates equivale a algo em torno de R$ 45 mil e R$ 65 mil, segundo a embaixada.
Para o coronel da polícia iraquiana Ali Rashed, os seqüestros são organizados para arrecadar fundos para a insurgência e as operações terroristas. As vítimas são de todas as facções etno-religiosas. "Não se trata de uma questão sectária", disse Rashed.
A violência sectária ameaça os iraquianos de outras maneiras. A onda de vinganças entre árabes xiitas e árabes sunitas tem se manifestado em ataques a bomba em áreas públicas e em assassinatos.
Segundo a Organização Internacional para a Imigração, afiliada à ONU, cerca de 30 mil iraquianos deixaram seus lugares de origem no último mês por causa da violência sectária.
Ontem foi encontrado mais um homem assassinado em Bagdá, dessa vez estrangulado. Segundo conta da Associated Press, já foram descobertos 374 corpos de pessoas assassinadas na capital só em março. Ontem, atiradores mataram um policial de Bagdá e uma advogada de Basra. Bombas mataram mais um policial e feriram dezenas de pessoas no país.
O Exército dos EUA relatou mais duas baixas em seu contingente: um soldado morreu na terça-feira, e outro, ontem.

Com agências internacionais

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