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ORIENTE MÉDIO
Para analistas americanos, grupo induz Washington a agir a seu favor mesmo contrariando interesses nacionais
Lobby pró-Israel ameaça EUA, diz estudo
CORINE LESNES
DO "LE MONDE", EM WASHINGTON
Em um ensaio intitulado "O
lobby israelense e a política externa dos Estados Unidos", os professores Stephen Walt, diretor de
estudos da Kennedy School of
Government, da Universidade
Harvard, e John Mearsheimer,
professor de ciência política na
Universidade de Chicago, afirmam que os EUA, com demasiada freqüência, confundem seus
interesses com os do Estado judaico, ao ponto de "comprometer
sua segurança".
Eles culpam por isso o "lobby
pró-israelense", grupo que definem como sendo composto de indivíduos e organizações que "trabalham ativamente" para influir
sobre a diplomacia americana.
"Outros grupos de interesse conseguiram direcionar a política externa americana no sentido que
desejavam, mas nenhum conseguiu distanciá-la tanto daquilo
que o interesse nacional americano recomendaria, e, ao mesmo
tempo, convencer os americanos
de que os interesses dos EUA e de
Israel são quase idênticos", escrevem os dois pesquisadores.
Divulgado no site de Harvard
na internet, o texto não foi retirado, apesar dos protestos de associações pró-israelenses. Mas a
universidade acrescentou à sua
página um parágrafo indicando
que as opiniões expressas no texto
são apenas dos autores.
A tese contraria o raciocínio habitual nos EUA, segundo o qual a
ameaça terrorista aproximou Israel dos EUA. Para os dois professores, que se incluem na escola
"realista" em matéria de política
internacional, se os EUA têm um
problema com o terrorismo, "é
em grande medida porque são
aliados de Israel, e não o inverso".
Desde o fim da Guerra Fria, dizem os dois pesquisadores, Israel
deixou de ser um "trunfo estratégico" que ajuda a conter a expansão soviética na região, e passou a
ser um "fardo". Para eles, que se
opuseram à guerra no Iraque, o
lobby pró-Israel e o governo israelense foram, não o único fator,
mas "um elemento crítico" na decisão de derrubar o regime de
Saddam Hussein.
Espionagem
Walt e Mearsheimer recordam
que Israel é o maior beneficiário
da ajuda econômica e militar
americana, seguido pelo Egito
(cerca de US$500 por habitante
por ano), sendo que sua receita
per capita é equivalente à da Espanha ou da Coréia do Sul.
Apesar disso, acusam os dois
autores, o Estado judaico não se
comporta como "aliado leal". Ele
vendeu tecnologia delicada à China. Walt e Mearsheimer também
citam um relatório do organismo
orçamentário do Congresso
(GAO), segundo o qual, entre todos os aliados dos EUA, é Israel
que empreende "as mais agressivas operações de espionagem"
contra os Estados Unidos.
Dois integrantes da principal
organização do lobby, a Aipac
(Comitê de Assuntos Públicos
Americano-Israelense), estão
sendo processados por terem repassado informações confidenciais sobre o Irã obtidas do analista do Pentágono Larry Franklin.
Desde que foi divulgado, o texto
vem suscitando críticas virulentas, especialmente com relação à
parte em que acusa os institutos
de reflexão e a imprensa de parcialidade pró-Israel. Mearsheimer
disse ao "Le Monde" que nenhuma publicação dos EUA aceitou
publicar o artigo.
Os pesquisadores começaram
seu estudo em 2002, depois que
lhes chamou a atenção a maneira
como Ariel Sharon ignorou o pedido do presidente Bush de adiar
a retomada de controle sobre cidades da Cisjordânia, num momento em que essa operação prejudicava a imagem dos EUA no
mundo árabe.
"Nosso desejo é fazer com que
os EUA sigam uma política que
atenda a seu interesse nacional",
disse Mearsheimer. "Não achamos que a guerra no Iraque corresponda a esse interesse. Nos pareceu claro que essa política era
movida, em grande medida, pelo
lobby israelense."
Tradução de Clara Allain
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