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COMENTÁRIO
Ganhos serão mais sindicais
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O sindicalismo francês mantém
uma cultura de negociações que
não embolorou desde que, há 30
anos, suas entidades passaram a
perder poder e prestígio fora do
setor público e das estatais.
A lei do primeiro emprego não
era um tema de interesse primordialmente sindical. Tratava apenas de estágios experimentais para jovens recém-formados.
Mas os sindicatos embarcaram
num processo já em andamento
porque pretendiam tirar algum
proveito. As lideranças de secundaristas e universitários estavam
pulverizadas. Não tinham força
para negociar com o governo.
Assessores do palácio presidencial do Elysée disseram ontem
que o presidente Jacques Chirac
faria hoje pela TV a proposta de
"novas negociações de Grenelle".
Grenelle é o nome da rua em Paris onde funcionava o Ministério
do Trabalho na época da revolução estudantil de Maio de 1968. O
país estava literalmente paralisado por uma greve geral que tomou carona no movimento nascido em Nanterre e na Sorbonne.
O então primeiro-ministro
Georges Pompidou, que tinha em
sua equipe um jovem conselheiro
chamado Jacques Chirac, propôs
que o impasse se resolvesse por
concessões aos trabalhadores.
Os Acordos de Grenelle, assinados em 27 de maio de 1968, aumentaram o salário mínimo em
35% e reduziram o expediente semanal nas fábricas para 40 horas,
naquilo que os estudantes do
anarco-maoismo denunciaram
como "uma grande traição".
As confederações entraram desta vez em cena no último dia 22. A
CGT, ligada ao Partido Comunista Francês, abandonou o apoio
puramente verbal aos estudantes
e montou à frente da imensa passeata de Paris um dispositivo de
segurança que impedisse que os
estudantes fossem confundidos
com os "casseurs" (bagunceiros e
saqueadores).
No dia seguinte, era a CGT e
quatro outras confederações que
se reuniam com o primeiro-ministro e exigiam o arquivamento
da lei do primeiro emprego. Dominique de Villepin não a arquivou -ele seria desmoralizado se
o fizesse-, e o movimento passou por um novo crescimento.
É provável que, numa nova Grenelle, os sindicatos obtenham
mudanças na lei do primeiro emprego. Mas tirarão também previsível proveito para si próprios.
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