São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2006

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COMENTÁRIO

Ganhos serão mais sindicais

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O sindicalismo francês mantém uma cultura de negociações que não embolorou desde que, há 30 anos, suas entidades passaram a perder poder e prestígio fora do setor público e das estatais.
A lei do primeiro emprego não era um tema de interesse primordialmente sindical. Tratava apenas de estágios experimentais para jovens recém-formados.
Mas os sindicatos embarcaram num processo já em andamento porque pretendiam tirar algum proveito. As lideranças de secundaristas e universitários estavam pulverizadas. Não tinham força para negociar com o governo.
Assessores do palácio presidencial do Elysée disseram ontem que o presidente Jacques Chirac faria hoje pela TV a proposta de "novas negociações de Grenelle".
Grenelle é o nome da rua em Paris onde funcionava o Ministério do Trabalho na época da revolução estudantil de Maio de 1968. O país estava literalmente paralisado por uma greve geral que tomou carona no movimento nascido em Nanterre e na Sorbonne.
O então primeiro-ministro Georges Pompidou, que tinha em sua equipe um jovem conselheiro chamado Jacques Chirac, propôs que o impasse se resolvesse por concessões aos trabalhadores.
Os Acordos de Grenelle, assinados em 27 de maio de 1968, aumentaram o salário mínimo em 35% e reduziram o expediente semanal nas fábricas para 40 horas, naquilo que os estudantes do anarco-maoismo denunciaram como "uma grande traição".
As confederações entraram desta vez em cena no último dia 22. A CGT, ligada ao Partido Comunista Francês, abandonou o apoio puramente verbal aos estudantes e montou à frente da imensa passeata de Paris um dispositivo de segurança que impedisse que os estudantes fossem confundidos com os "casseurs" (bagunceiros e saqueadores).
No dia seguinte, era a CGT e quatro outras confederações que se reuniam com o primeiro-ministro e exigiam o arquivamento da lei do primeiro emprego. Dominique de Villepin não a arquivou -ele seria desmoralizado se o fizesse-, e o movimento passou por um novo crescimento.
É provável que, numa nova Grenelle, os sindicatos obtenham mudanças na lei do primeiro emprego. Mas tirarão também previsível proveito para si próprios.


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