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ARTIGO
Em busca das lições argelinas
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um livro publicado em 1977,
destaca o "Guardian", tornou-se celebridade "underground"
entre oficiais militares americanos. O assunto é contra-insurgência, o passado é a Argélia
e o presente é o Iraque.
Depois da circulação de cópias custando até US$ 150, e
mesmo assim objetos de disputa, uma nova edição, resultante
do interesse renovado, ficou
mais acessível, preço em torno
de US$ 20. Foi enriquecida
com um prefácio de "atualização", incluindo o Iraque como
um campo de insurgência que
deve buscar lições sobretudo
na Guerra da Argélia. Um "pesadelo sem fundo", como dizia
De Gaulle, que não viu outra
saída senão negociar.
A ressurreição da obra de
Allistair Horne pode ser vista
como atestado de que a busca
de uma saída no Iraque contamina o establishment militar,
principalmente o de contra-insurgência, dos Estados Unidos,
com olhos sobretudo na Argélia
e não tanto no Vietnã. O filme
"A Batalha de Argel" tem circuitos de projeções nos porões
do Pentágono.
No conjunto de lições se destaca a necessidade de reconhecer, antes de qualquer coisa,
que a insurgência, embora com
conteúdo de lutas sectárias,
parte da oposição a um poder
colonial. Também convencer-se de que sociedades ocidentais
em nenhuma circunstância devem recorrer à tortura. O nunca é repetido várias vezes, como
se aí repousasse um erro crucial, cometido na Argélia e também no Iraque.
Há uma velha história de trágicos erros. O primeiro centro
de contra-insurgência do Pentágono foi instalado no Japão,
já de olho no Vietnã, com assessoria francesa. Destacou-se na
época um coronel francês chamado Roger Triquier, ex-comandante das tropas especiais
na Guerra da Indochina, perdida pela França. Triquier justificava o emprego de "qualquer
meio" para conter a subversão.
Ou a insurgência. Defendia a
tortura como "veneno que acaba com terroristas, como foguetes acabam com aviões e
metralhadoras acabam com
soldados".
A França foi derrotada tanto
na Indochina como na Argélia,
por onde Triquier também andou, mas os códigos franceses
de contra-insurgência sobreviveram e invadiram as centrais
de repressão do Ocidente.
Agora talvez seja a fase aguda
de uma revisão, de entender o
que se passou na Argélia, transformada em codinome de contra-insurgência, e procurar não
repetir erros. A tortura foi central na batalha de Argel, os franceses massacraram a insurgência na capital argelina, mas acabaram perdendo a guerra.
Há quem veja semelhanças
entre a batalha de Argel e o que
o próprio Bush chama da batalha de Bagdá, o reforço com
mais tropas da repressão na capital iraquiana com o objetivo
de transformá-la em matriz da
"normalização" do Iraque. A
crença, de trágica memória para os franceses, de que a lei do
mais forte acaba se impondo,
não importam os meios empregados.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais
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