São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2010

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Farc libertam o seu refém mais antigo

Sequestrado aos 19 anos em dezembro de 1997, Pablo Moncayo é solto unilateralmente em missão que usou helicóptero brasileiro

Com soltura, guerrilha busca apoio para troca de presos com governo colombiano; operação tem cobertura exclusiva de TV chavista


William Martinez/Associated Press
Ao lado do pai, o sargento Pablo Moncayo acena ao público ao chegar a Florencia

DA REDAÇÃO

Após 12 anos e três meses em poder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o sargento Pablo Emilio Moncayo, 32, 1 dos 2 reféns mais antigos da guerrilha esquerdista, foi libertado ontem, em operação com a participação do Exército brasileiro.
Capturado aos 19 anos durante ataque a uma base militar, Moncayo foi recolhido em um ponto de selva ao sul do país, por uma missão humanitária integrada pela senadora oposicionista Piedad Córdoba e representantes da Cruz Vermelha e da Igreja Católica.
"Não sabem o quão assombroso é voltar a ver civilização", afirmou Moncayo na chegada. Magro, mas aparentando boa saúde, foi recebido pelo pai, Gustavo, que ficou famoso por promover caminhadas dentro e fora da Colômbia pela liberação do filho. "Tudo mudou, a tecnologia me deixa admirado, o pouco que vi até agora."
O sargento agradeceu aos presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Rafael Correa (Equador) e Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) por sua liberação e pediu mediação internacional para a soltura de outros reféns.
Com as liberações unilaterais de Moncayo e de Josué Daniel Calvo, 23, solto no domingo, a narcoguerrilha colombiana procura apoio na opinião pública para sua proposta de troca negociada com o governo dos cerca de 500 guerrilheiros presos hoje pelos 21 reféns militares que ainda mantém em cativeiro -estão sequestrados ainda outros 58 civis, não envolvidos na negociação.
A última leva de entregas unilaterais de presos, também realizada com o apoio logístico brasileiro, havia sido em fevereiro do ano passado -seis reféns foram liberados na ocasião. Ontem, contudo, as Farc afirmaram que daqui em diante a troca é a "única forma viável" para libertar outros reféns.
Em nota, a guerrilha agradeceu "ao povo brasileiro e a seu presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem cuja ação esse processo humanitário seria impossível". O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, também agradeceu a Lula. Disse que o país recebe Moncayo de "braços abertos", mas "rechaça com firmeza os sequestradores".
Um helicóptero brasileiro com 11 pessoas -entre eles seis militares brasileiros- deixou a cidade de Florencia (580 km ao sul de Bogotá) por volta das 13h15 (horário de Brasília) rumo a um local não revelado. Por volta das 19h40, retornou com Moncayo.

TV de Chávez
Imagens do militar pouco antes do resgate e durante o encontro com a missão humanitária na selva foram divulgadas pela rede estatal de TV Telesur, controlada pela Venezuela, o que causou reação imediata do governo colombiano.
O alto comissário para a Paz colombiano, Frank Pearl, exigiu explicações do canal sobre o que fazia no local do resgate. "Não se pode permitir que um meio de comunicação como a Telesur se preste para fazer propaganda a um grupo terrorista", disse. Chávez mostrava simpatia às Farc até, em junho de 2008, dizer que a região já não comporta guerrilhas.
A liberação dos reféns é uma tentativa das Farc de lançar o tema do "acordo humanitário" -troca de reféns por rebeldes presos- no debate eleitoral presidencial, avalia o cientista político Gerson Arias, da Fundação Ideias para a Paz.
O país elege novo presidente em maio, e o veto judicial a uma nova reeleição de Uribe -cuja política linha-dura contra as guerrilhas é responsável por grande parte de sua aprovação de 80%- deixou o cenário competitivo.

Com agências internacionais



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