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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Principal comandante dos marines diz que informações sobre uso de armas químicas estavam erradas

CIA errou sobre armas, diz general dos EUA

DA REDAÇÃO

Um general americano jogou mais lenha na fogueira em que se transformou o debate sobre as armas não-convencionais do Iraque ao afirmar, ontem, que os serviços de inteligência dos EUA estavam "simplesmente errados" em levar os comandantes militares a acreditar que seus soldados poderiam ser atacados por armas químicas ou biológicas durante a guerra. As armas, justificativa para a invasão anglo-americana, ainda não foram encontradas.
"Estávamos simplesmente errados [na conclusão de que havia armas químicas prontas para serem usadas no sul do Iraque]", declarou o tenente-general James Conway, comandante da 1ª Força Expedicionária dos Fuzileiros Navais no Iraque. "Estivemos virtualmente em todos os depósitos de munições da fronteira com o Kuait até Bagdá, mas [as armas] simplesmente não estavam lá. Não foi por não tentarmos."
Conway contemporizou dizendo que ainda é cedo para dizer se o Iraque tinha ou não armas de destruição em massa quando a guerra começou, em 20 de março. "Se estávamos errados ou não em nível nacional, ainda falta muito para sabermos", afirmou o oficial -o mais graduado comandante dos marines na guerra- que concedeu entrevista coletiva em Hilla, 100 km ao sul de Bagdá, por meio de conferência telefônica.
No Reino Unido, o ex-analista da CIA (serviço secreto dos EUA) e conselheiro do ex-presidente George Bush (1989-93) Ray McGovern tachou as alegações do Pentágono sobre as armas do Iraque de "um fiasco de inteligência de proporções monumentais".
McGovern, que trabalhou por 27 anos para a CIA, declarou à rádio BBC que o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, montou sua própria unidade de inteligência porque não estaria conseguindo as "repostas certas" e que os relatórios teriam sido "feitos de acordo com a política" de guerra.

Relatórios políticos
A pedido de Rumsfeld, segundo alegações do jornal americano "The New York Times" atribuídas a membros do governo, o diretor da CIA, George Tenet, teria criado em outubro de 2002 uma equipe para investigar os relatórios da agência sobre o Iraque.
Na última terça-feira, o mesmo Rumsfeld -o mais eloquente defensor da invasão do Iraque- admitiu, em uma palestra, que o Iraque poderia ter destruído suas supostas armas químicas e biológicas antes do confronto.
Ontem, o secretário voltou atrás e disse que as armas não foram encontradas porque o regime de Saddam as escondeu bem, "e não porque elas não estão lá".
Na quarta-feira, foi divulgada uma entrevista para a "Vanity Fair" de julho com Paul Wolfowitz, subsecretário da Defesa, na qual ele afirma que a questão das armas foi usada como bandeira da administração Bush para a guerra por "razões burocráticas".
Segundo ele, um "enorme" motivo para a guerra era a possibilidade de Washington retirar suas tropas da Arábia Saudita, cuja presença enfurecia os fundamentalistas muçulmanos, incluindo terroristas.
Um membro do gabinete britânico declarou à edição de ontem do "Independent" que a falha da coalizão em achar as armas seria "a maior falha da inteligência britânica em todos os tempos", o que detonaria a reestruturação dos serviços desse setor.
Para ele, que pediu para não ser identificado, esses serviços seriam os responsáveis pela posição inflexível do governo britânico em relação à guerra. Um dia antes, uma autoridade da inteligência britânica dissera à BBC que o relatório havia sido moldado para ficar "mais sexy", o que o governo britânico negou.


Com agências internacionais


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