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UNIÃO EUROPÉIA
Chanceler do Vaticano critica esboço de Constituição do bloco, que não põe cristandade como valor europeu
Igreja e direita querem Deus na Carta da UE
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O chanceler do Vaticano, o arcebispo Jean-Louis Tauran, acusou
ontem a União Européia de desrespeitar a história do continente
ao não colocar a cristandade no
esboço de Constituição do bloco,
que foi divulgado nesta semana e
está sendo debatido em Bruxelas.
O texto, cuja versão final deverá
ser apresentada numa cúpula da
UE em três semanas, não contém
nenhuma referência a Deus ou a
Jesus Cristo apesar do forte lobby
realizado pelo papa João Paulo 2º,
por líderes de outras igrejas cristãs e por partidos de direita, sobretudo democrata-cristãos.
"Trata-se de uma manobra
ideológica, que revela uma tentação inaceitável de reescrever a história por parte daqueles que redigiram esse texto", declarou Tauran em entrevista ao diário italiano "Corriere della Sera".
O Vaticano se disse "surpreso"
com a omissão da referência à
cristandade e pediu que a palavra
fosse inserida na versão final "por
respeito à verdade histórica e para
equilibrar mais o texto".
No preâmbulo do esboço, que
foi redigido pela Convenção sobre
o Futuro da Europa (CFE), há
uma menção à "herança humanista, religiosa e cultural" da Europa, uma à civilização greco-romana e outra ao Iluminismo, mas
nenhuma a Deus ou a Cristo.
De acordo com Françoise de la
Serre, do Centro de Estudos e de
Pesquisas Internacionais (Paris),
a "preocupação da CFE é não impossibilitar a eventual adesão da
Turquia ao bloco", pois o país é
"majoritariamente muçulmano".
"A situação da Turquia será revista em 2004, e as negociações
poderão começar em 2005. Os
países da UE fizeram promessas
aos turcos e não podem agora
simplesmente estabelecer que
pretendem ser um clube judaico-cristão. Isso seria uma afronta aos
muçulmanos que já vivem no bloco, além de inviabilizar as negociações com a Turquia", explicou
De la Serre à Folha.
Ademais, vale ressaltar que a
Europa atual tem uma forte tradição secular. Assim, não são poucos os cientistas políticos que não
querem ver a religião e a política
combinadas. "Não teria sentido
fazer a UE voltar aos tempos em
que a igreja tinha muita força política. A Europa já virou essa página de sua história", apontou Michael Kreile, professor na Universidade Humboldt, de Berlim.
De la Serre lembrou que pode
haver razões políticas específicas
para a defesa da inclusão da cristandade na Constituição por parte de alguns partidos políticos de
direita ou de centro-direita.
"Não se deve esquecer que, se
for aceita, a Turquia se tornará o
maior país da UE num futuro não
muito distante, transformando o
modelo de integração do bloco
existente até agora. O país terá
perto de 100 milhões de habitantes em 30 anos se as atuais tendências demográficas se mantiverem", analisou De la Serre.
A Turquia tem hoje cerca de 67
milhões de habitantes, enquanto
a Alemanha tem 81 milhões. Porém a população turca cresce quase cinco vezes mais rápido que a
alemã, segundo a ONU.
Com agências internacionais
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