São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Tropas invadem prédio onde terroristas mantinham reféns; ataque começou sábado e matou 20 estrangeiros

Sauditas resgatam reféns; 29 morrem

DA REDAÇÃO

Comandos sauditas saltaram ontem de helicópteros para invadir um condomínio na cidade saudita de Khobar e libertar dezenas de reféns estrangeiros que estavam em mãos de terroristas supostamente ligados à rede Al Qaeda, de Osama bin Laden. De acordo com as autoridades, a série de ataques terroristas, que teve início no sábado, matou 22 civis (20 estrangeiros) e sete agentes de segurança, num saldo de 29 mortos.
Forças de segurança mergulharam no telhado do condomínio Oásis depois de um drama que durou 25 horas na importante cidade petrolífera de Khobar, no leste da Arábia Saudita. Segundo o governo, três dos quatro terroristas fugiram, usando reféns como escudos humanos, mas seu líder foi capturado.
Um comunicado distribuído através da internet e atribuído à Al Qaeda reclama a autoria da ação envolvendo reféns, que não tem precedentes na Arábia Saudita. Um comunicado posterior, assinado pela "rede Al Qaeda na península Arábica", promete livrar a península dos "infiéis". "Reiteramos nossa determinação de rechaçar as forças dos cruzados e sua arrogância, de libertar a terra dos muçulmanos de nela aplicar a "sharia" [lei islâmica] e de limpar a península Arábica dos infiéis", diz o comunicado, cuja autenticidade não pôde ser comprovada.
Numa ação que pôs dramático fim ao seqüestro, testemunhas disseram que helicópteros lançaram comandos no telhado do complexo residencial. O Ministério do Interior disse que 41 estrangeiros foram resgatados e que outros 201 moradores do condomínio, que estavam presos em suas casas, puderam sair.
Membros das forças de segurança faziam sinais de vitória enquanto reféns e moradores abandonavam o condomínio. Muitos foram levados a hospitais e hotéis, informaram autoridades.
Esse foi o segundo grande ataque lançado contra a indústria do petróleo saudita em menos de um mês. Há temores de que a ação, no maior exportador mundial de óleo, venha a elevar ainda mais as cotações do barril, embora o governo saudita tenha dito que a produção não foi afetada e que a segurança nas instalações da indústria foi reforçada.
O número oficial de mortos não deixa claro quantas pessoas foram mortas durante o resgate e quantas pereceram quando o ataque foi lançado contra vários prédios de Khobar, no sábado. Um diplomata saudita afirmou que nove corpos foram encontrados no luxuoso Oásis. "Acredito que as forças de segurança invadiram o edifício quando [os terroristas] começaram a matar reféns", disse Jamal Khashoggi.

Estrangeiros mortos
A lista do ministério dá como mortos um americano, um britânico, um italiano, um sul-africano, um sueco, oito indianos, dois cingaleses, três filipinos, um garotinho egípcio e três sauditas. Mais 25 pessoas ficaram feridas.
A lista não inclui os sete agentes de segurança sauditas que foram mortos no sábado.
A crise começou anteontem, quando pistoleiros vestidos como militares atiraram contra firmas de petróleo ocidentais e condomínios, antes de buscar refúgio no Oásis. O corpo de um britânico foi arrastado pelas ruas, afirmaram testemunhas.
Autoridades sauditas disseram que a produção de petróleo permanecia normal. Altos funcionários do governo tiveram um encontro com executivos de empresas ocidentais para tranqüilizá-los em relação à segurança. Um dos executivos disse não temer um êxodo em massa de trabalhadores ocidentais. No sábado, a embaixada dos EUA na Arábia Saudita orientou os cidadãos norte-americanos a abandonar o país.
Nas últimas seis semanas, o mercado de petróleo já entrou em pânico duas vezes em conseqüência de ataques terroristas no Oriente Médio. No final de abril, os preços dispararam depois que terroristas suicidas detonaram botes carregados com explosivos perto do principal terminal petrolífero do Iraque, no golfo de Basra.
No começo de maio, as cotações voltaram a subir depois que cinco funcionários de uma companhia de petróleo suíça foram mortos por terroristas na cidade petrolífera saudita de Yanbu.
A Al Qaeda, de Osama bin Laden (saudita que teve a cidadania cassada), tenta desestabilizar o regime saudita e depor a família real, a quem acusa de subserviência ao Ocidente. Em 1996, o então pouco conhecido grupo extremista escolheu Khobar para lançar um de seus primeiros grandes ataques, explodindo um prédio e matando 19 soldados dos EUA.
O príncipe saudita Abdullah, o governante do país, prometeu anteontem "caçar esse grupo de desviados até erradicá-lo".


Com agências internacionais


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