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AMÉRICA LATINA
Ex-presidente aguarda resultado de três processos contra ele e promete fazer comícios na época certa
Menem prepara sua volta à Argentina
CLÁUDIA DIANNI
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO
O ex-presidente Carlos Menem
(1989-1999) prepara seu retorno
para a Argentina enquanto espera
no Chile o resultado de três processos em que é investigado em
seu país. Para combater a corrupção na América Latina, ele sugere
"fazer o que fizemos na Argentina" durante seu governo.
Acusado de ter superafaturado
a construção de presídios, de ter
uma conta não declarada na Suíça
e de transferência indevida de patrimônio do Estado, Menem, 74,
acredita que a recusa da Justiça
chilena, na semana passada, a um
dos pedidos de extradição feitos
por dois juízes argentinos confirma que os processos são "perseguições políticas".
Ele promete "voltar aos comícios na época certa" e afirma estar
recebendo várias adesões. Na
quinta-feira, Menem recebeu a
Folha no apartamento de um elegante condomínio em Las Condes, em Santiago do Chile, onde
mora com sua mulher, a ex-miss
Universo chilena Cecília Bolocco,
e o filho Máximo, de seis meses.
Folha - Como é a sua vida no Chile, longe do poder?
Carlos Menem - Normal, saio, recebo muitas pessoas e muito
apoio. Vou alugar uma sala para
receber as pessoas, porque já está
ficando uma confusão aqui em
casa.
Folha - Quem são essas pessoas
que o senhor recebe?
Menem - Políticos e amigos,
principalmente políticos. Muita
gente jovem que está ingressando
na política e vem escutar o que eu
tenho a dizer. Estamos permanentemente falando do que é a
política como ciência, como arte e
fundamentalmente o que entendo por política.
Folha - Quando pretende voltar
para a Argentina?
Menem - Antes do final do ano.
Agora estou submetido aos juízes
do Chile, e falta outro pedido de
extradição, mas esse é ainda mais
fácil.
Folha - O mais fácil é sobre o superfaturamento de presídios? O
outro é sobre a conta na Suíça?
Menem - A conta não existe. Eu
não omiti nenhuma conta. Essa
conta não é minha, já cansei de falar. É de minha ex-mulher e dos
meus filhos.
E os resultados serão vistos a
partir do resultado do pedido de
extradição, porque eu suponho
que vão continuar investigando e
vão aparecer os informes com os
quais me ameaçaram permanentemente alguns homens do governo Kirchner. É uma perseguição.
Folha - O senhor acredita que é
possível governar a América Latina
sem corrupção?
Menem - Creio que sim. Nós governamos, por mais que se diga o
contrário, sem corrupção. E foi o
país que mais cresceu em toda a
região. A Argentina recebeu mais
de US$ 200 bilhões em investimentos durante o meu governo.
Folha - O que é preciso fazer para
se livrar dos corruptos?
Menem - O que fizemos durante
dez anos na minha gestão. Aplicar
a lei para todos. Para esse fim,
existe a Constituição e toda a legislação.
Folha - O senhor fala em aplicar a
lei, mas está sofrendo vários processos e sua funcionária de confiança, Maria Julia Alsogaray, foi
condenada por enriquecimento ilícito na semana passada.
Menem - O trabalho que eu encomendei a ela, as privatizações
da fabricante de aço e da empresa
de telefonia, foi espetacular. Nisso
ela foi muito boa. Depois ficou encarregada da Secretaria do Meio
Ambiente, que é o que está em investigação, e sua defesa vai apelar.
Os gastos estavam reservados
no Orçamento, mas, sobre a forma de usá-los, não tenho a menor
idéia.
Folha - Não dá para controlar
quem está em volta?
Menem - Sempre há problemas,
mas não é só em nossa região.
Também nos grandes países, no
Japão, nos EUA e nas grandes empresas. Por mais que se vigie, é
muito difícil eliminá-los. Os presidentes não podem estar em todos
os lugares.
Folha - O que o senhor acha do
presidente Lula?
Menem - Acho que é um homem
que priorizou totalmente o que
significa o crescimento do Brasil a
partir do capitalismo. Em várias
oportunidades, quando fui ao
Brasil, eu disse que Fernando
Henrique Cardoso deveria ganhar as eleições, porque foi um
grande presidente. Então Lula se
ressentiu da minha atitude e disse
algo sobre mim ou contra mim,
mas espero que o Brasil possa se
recuperar da crise.
Folha - Lula disse que o senhor é
corrupto.
Menem - A palavras estúpidas,
faça-se de surdo [tradicional ditado argentino].
Folha - Suas relações eram melhores com Fernando Henrique.
Menem - Ah! Muito melhores.
Folha - O senhor voltaria a ter
"relações carnais" com os Estados
Unidos no governo Bush?
Menem - Essa expressão foi usada pelo ex-chanceler Guido di Tella para sintetizar as relações que,
na realidade, foram muito boas.
Quando o Iraque invadiu o Kuait,
o presidente Bush pai pediu apoio
para a Argentina e mandamos um
navio de guerra ao Golfo. Voltaria
a ter relações muito boas com os
Estados Unidos, mas não mandaria homens para o Iraque.
Folha - O que pensa de Kirchner?
Menem - Eu me remeto às suas
próprias palavras. Ele disse que a
Argentina é um verdadeiro inferno e estamos dando um passo para sair. Se o presidente disse isso, o
que me resta dizer?
Folha - O senhor acha que a Argentina é um inferno?
Menem - Sim. É um inferno produto dos maus governos que se
sucederam a partir de 10 de dezembro de 1999 [quando Menem
deixou a Casa Rosada].
Folha - É verdade que o senhor
teve um romance com a Xuxa?
Menem - Não. Éramos muito
amigos, muito amigos, mas nenhum tipo de romance.
Folha - E com a Madonna?
Menem - Também não. Então
poderiam dizer a mesma coisa de
outras atrizes como a Sophia Loren, a Gina Lolobrigida, um monte de pessoas famosas, homens e
mulheres que foram à Argentina e
queriam me conhecer.
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