São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMÉRICA LATINA

Ex-presidente aguarda resultado de três processos contra ele e promete fazer comícios na época certa

Menem prepara sua volta à Argentina

CLÁUDIA DIANNI
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO

O ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) prepara seu retorno para a Argentina enquanto espera no Chile o resultado de três processos em que é investigado em seu país. Para combater a corrupção na América Latina, ele sugere "fazer o que fizemos na Argentina" durante seu governo.
Acusado de ter superafaturado a construção de presídios, de ter uma conta não declarada na Suíça e de transferência indevida de patrimônio do Estado, Menem, 74, acredita que a recusa da Justiça chilena, na semana passada, a um dos pedidos de extradição feitos por dois juízes argentinos confirma que os processos são "perseguições políticas".
Ele promete "voltar aos comícios na época certa" e afirma estar recebendo várias adesões. Na quinta-feira, Menem recebeu a Folha no apartamento de um elegante condomínio em Las Condes, em Santiago do Chile, onde mora com sua mulher, a ex-miss Universo chilena Cecília Bolocco, e o filho Máximo, de seis meses.
 

Folha - Como é a sua vida no Chile, longe do poder?
Carlos Menem -
Normal, saio, recebo muitas pessoas e muito apoio. Vou alugar uma sala para receber as pessoas, porque já está ficando uma confusão aqui em casa.

Folha - Quem são essas pessoas que o senhor recebe?
Menem -
Políticos e amigos, principalmente políticos. Muita gente jovem que está ingressando na política e vem escutar o que eu tenho a dizer. Estamos permanentemente falando do que é a política como ciência, como arte e fundamentalmente o que entendo por política.

Folha - Quando pretende voltar para a Argentina?
Menem -
Antes do final do ano. Agora estou submetido aos juízes do Chile, e falta outro pedido de extradição, mas esse é ainda mais fácil.

Folha - O mais fácil é sobre o superfaturamento de presídios? O outro é sobre a conta na Suíça?
Menem -
A conta não existe. Eu não omiti nenhuma conta. Essa conta não é minha, já cansei de falar. É de minha ex-mulher e dos meus filhos.
E os resultados serão vistos a partir do resultado do pedido de extradição, porque eu suponho que vão continuar investigando e vão aparecer os informes com os quais me ameaçaram permanentemente alguns homens do governo Kirchner. É uma perseguição.

Folha - O senhor acredita que é possível governar a América Latina sem corrupção?
Menem -
Creio que sim. Nós governamos, por mais que se diga o contrário, sem corrupção. E foi o país que mais cresceu em toda a região. A Argentina recebeu mais de US$ 200 bilhões em investimentos durante o meu governo.

Folha - O que é preciso fazer para se livrar dos corruptos?
Menem -
O que fizemos durante dez anos na minha gestão. Aplicar a lei para todos. Para esse fim, existe a Constituição e toda a legislação.

Folha - O senhor fala em aplicar a lei, mas está sofrendo vários processos e sua funcionária de confiança, Maria Julia Alsogaray, foi condenada por enriquecimento ilícito na semana passada.
Menem -
O trabalho que eu encomendei a ela, as privatizações da fabricante de aço e da empresa de telefonia, foi espetacular. Nisso ela foi muito boa. Depois ficou encarregada da Secretaria do Meio Ambiente, que é o que está em investigação, e sua defesa vai apelar.
Os gastos estavam reservados no Orçamento, mas, sobre a forma de usá-los, não tenho a menor idéia.

Folha - Não dá para controlar quem está em volta?
Menem -
Sempre há problemas, mas não é só em nossa região. Também nos grandes países, no Japão, nos EUA e nas grandes empresas. Por mais que se vigie, é muito difícil eliminá-los. Os presidentes não podem estar em todos os lugares.

Folha - O que o senhor acha do presidente Lula?
Menem -
Acho que é um homem que priorizou totalmente o que significa o crescimento do Brasil a partir do capitalismo. Em várias oportunidades, quando fui ao Brasil, eu disse que Fernando Henrique Cardoso deveria ganhar as eleições, porque foi um grande presidente. Então Lula se ressentiu da minha atitude e disse algo sobre mim ou contra mim, mas espero que o Brasil possa se recuperar da crise.

Folha - Lula disse que o senhor é corrupto.
Menem -
A palavras estúpidas, faça-se de surdo [tradicional ditado argentino].

Folha - Suas relações eram melhores com Fernando Henrique.
Menem -
Ah! Muito melhores.

Folha - O senhor voltaria a ter "relações carnais" com os Estados Unidos no governo Bush?
Menem -
Essa expressão foi usada pelo ex-chanceler Guido di Tella para sintetizar as relações que, na realidade, foram muito boas. Quando o Iraque invadiu o Kuait, o presidente Bush pai pediu apoio para a Argentina e mandamos um navio de guerra ao Golfo. Voltaria a ter relações muito boas com os Estados Unidos, mas não mandaria homens para o Iraque.

Folha - O que pensa de Kirchner?
Menem -
Eu me remeto às suas próprias palavras. Ele disse que a Argentina é um verdadeiro inferno e estamos dando um passo para sair. Se o presidente disse isso, o que me resta dizer?

Folha - O senhor acha que a Argentina é um inferno?
Menem -
Sim. É um inferno produto dos maus governos que se sucederam a partir de 10 de dezembro de 1999 [quando Menem deixou a Casa Rosada].

Folha - É verdade que o senhor teve um romance com a Xuxa?
Menem -
Não. Éramos muito amigos, muito amigos, mas nenhum tipo de romance.

Folha - E com a Madonna?
Menem -
Também não. Então poderiam dizer a mesma coisa de outras atrizes como a Sophia Loren, a Gina Lolobrigida, um monte de pessoas famosas, homens e mulheres que foram à Argentina e queriam me conhecer.


Texto Anterior: Bush fica com a arma que Saddam tinha ao ser preso
Próximo Texto: Menem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.