São Paulo, quinta-feira, 31 de maio de 2007

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entrevista

Protestos são espontâneos, diz estudante

DE CARACAS

Filho de militante comunista, Stalin González, 26, converteu-se no principal porta-voz das manifestações estudantis registradas desde segunda-feira nas principais cidades da Venezuela contra o fim da RCTV. É a primeira vez, em oito anos de governo Hugo Chávez, que o presidente enfrenta manifestações universitárias. Estudante de direito, González é presidente da Federação dos Centros Universitários da Universidade Central de Venezuela (UCV), a maior do país, com cerca de 60 mil estudantes e financiada pelo governo federal.
González foi, até no ano passado, militante da minúscula organização de extrema esquerda Bandera Roja, crítica do presidente Hugo Chávez. Hoje, faz parte do social-democrata Um Novo Tempo (UNT), principal partido da oposição, liderado pelo ex-candidato a presidente Manuel Rosales. A seguir, a entrevista que ele deu à Folha ontem de manhã, antes de mais uma jornada de protestos. (FM)

 

FOLHA - Como o sr. responde à acusação de Chávez de que os protestos são parte de um plano desestabilizador?
STALIN GONZÁLEZ -
O discurso de Chávez [anteontem] foi altamente ofensivo e faz um claro chamado à confrontação, mas hoje vamos sair novamente levando um documento à Defensoria do Povo pedindo que defenda o povo, uma vez que a polícia está sendo usada de maneira exacerbada e violenta contra os estudantes que, de maneira pacífica, tomamos as ruas para defender o direito à liberdade de expressão.

FOLHA - Deputados chavistas acusam os estudantes de representarem a oligarquia do país e exortaram o "povo" a retomar as ruas. Quem são vocês?
GONZÁLEZ -
Eu vivo na Candelária, vivi toda a minha vida na paróquia Sucre [regiões de classe média baixa] e não sou filhinho de mamãe. Meus pais são trabalhadores, e somos estudantes. Mas o problema não é qual classe está aqui, o problema é a liberdade de expressão e outras formas de liberdade na Venezuela. Não é possível que, sempre que existe uma reclamação contra uma decisão governamental, seus autores sejam acusados de oligarcas, lacaios do império ou agentes da CIA. As favelas de Caracas estão tranqüilas, não estão saindo às ruas, sabem que a decisão contra a RCTV foi unilateral.

FOLHA - As manifestações são espontâneas?
GONZÁLEZ -
As manifestações foram totalmente espontâneas. Na segunda de manhã, ligamos para a Universidade Católica e perguntamos: "O que vocês estão fazendo?", e depois fomos coordenando.

FOLHA - Vocês também estão contra a reforma universitária anunciada por Chávez na semana passada. Por quê?
GONZÁLEZ -
Somos contrários porque não foi discutida com ninguém e ninguém conhece o projeto de lei que está para ser aprovado na Assembléia. Queremos conhecer qual é a proposta e discuti-la na universidade.


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