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entrevista
Protestos são espontâneos, diz estudante
DE CARACAS
Filho de militante comunista, Stalin González, 26,
converteu-se no principal
porta-voz das manifestações
estudantis registradas desde
segunda-feira nas principais
cidades da Venezuela contra
o fim da RCTV. É a primeira
vez, em oito anos de governo
Hugo Chávez, que o presidente enfrenta manifestações universitárias.
Estudante de direito, González é presidente da Federação dos Centros Universitários da Universidade Central
de Venezuela (UCV), a maior
do país, com cerca de 60 mil
estudantes e financiada pelo
governo federal.
González foi, até no ano
passado, militante da minúscula organização de extrema
esquerda Bandera Roja, crítica do presidente Hugo
Chávez. Hoje, faz parte do
social-democrata Um Novo
Tempo (UNT), principal
partido da oposição, liderado
pelo ex-candidato a presidente Manuel Rosales. A seguir, a entrevista que ele deu
à Folha ontem de manhã,
antes de mais uma jornada
de protestos.
(FM)
FOLHA - Como o sr. responde à
acusação de Chávez de que os
protestos são parte de um plano
desestabilizador?
STALIN GONZÁLEZ - O discurso
de Chávez [anteontem] foi
altamente ofensivo e faz um
claro chamado à confrontação, mas hoje vamos sair novamente levando um documento à Defensoria do Povo
pedindo que defenda o povo,
uma vez que a polícia está
sendo usada de maneira exacerbada e violenta contra os
estudantes que, de maneira
pacífica, tomamos as ruas
para defender o direito à liberdade de expressão.
FOLHA - Deputados chavistas
acusam os estudantes de representarem a oligarquia do país e
exortaram o "povo" a retomar as
ruas. Quem são vocês?
GONZÁLEZ - Eu vivo na Candelária, vivi toda a minha vida na paróquia Sucre [regiões de classe média baixa] e
não sou filhinho de mamãe.
Meus pais são trabalhadores,
e somos estudantes.
Mas o problema não é qual
classe está aqui, o problema é
a liberdade de expressão e
outras formas de liberdade
na Venezuela.
Não é possível que, sempre
que existe uma reclamação
contra uma decisão governamental, seus autores sejam
acusados de oligarcas, lacaios do império ou agentes
da CIA. As favelas de Caracas
estão tranqüilas, não estão
saindo às ruas, sabem que a
decisão contra a RCTV foi
unilateral.
FOLHA - As manifestações são
espontâneas?
GONZÁLEZ - As manifestações foram totalmente espontâneas. Na segunda de
manhã, ligamos para a Universidade Católica e perguntamos: "O que vocês estão fazendo?", e depois fomos
coordenando.
FOLHA - Vocês também estão
contra a reforma universitária
anunciada por Chávez na semana
passada. Por quê?
GONZÁLEZ - Somos contrários porque não foi discutida
com ninguém e ninguém conhece o projeto de lei que está para ser aprovado na Assembléia. Queremos conhecer qual é a proposta e discuti-la na universidade.
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