São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

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Polícia retoma métodos de controle social da era Mao

Para evitar protestos como o de 89, governo alia consultoria estrangeira a táticas tradicionais

Estratégia de Pequim inclui volta do monitoramento pelos comitês de vizinhança e visitas de agentes à casa de potenciais manifestantes

DE PEQUIM

Autoridades chinesas redesenharam a atuação de suas forças de segurança nos últimos 20 anos, após o massacre da praça da Paz Celestial. Como em muitas outras áreas, da economia aos esportes, o governo importou os melhores consultores de segurança do mundo para impedir a possibilidade de um novo 4 de junho de 1989.
A tragédia da praça da Paz Celestial escancarou duas fraquezas: como os militares precisaram matar centenas de civis que faziam barricadas para desocupar uma praça; e o fracasso prévio em impedir que estudantes desarmados ocupassem o coração da capital, diante da sede do governo, ao longo de mais de seis semanas.
Um consultor europeu que deu cursos para a liderança militar chinesa nos últimos sete anos, contou à Folha que o sistema de controle social, usado na era de Mao Tse-tung, foi reabilitado nos anos 90.
Voltaram os comitês de vizinhança do Partido, onde o líder comunitário reporta qualquer atitude suspeita à polícia.
O sistema de inteligência foi modernizado, e a polícia adotou uma atitude mais preventiva. Dissidentes e possíveis manifestantes recebem visitas periódicas em um esforço de confiança, contenção e persuasão.
De moradores despejados a funcionários demitidos que não receberam salários ou indenizações, a polícia visita os aflitos, buscando evitar qualquer protesto. Dissidentes ouvidos pela Folha confirmam que são convidados a jantar ou almoçar com policiais com frequência, em tom amigável.
O consultor diz que o sistema tem funcionado, pois os protestos na China raramente descambam para violência. Ele diz que o governo também tem evitado grandes concentrações em espaços públicos. Marchas, shows em estádios ou grandes eventos são desestimulados.
O que aconteceu em 1989, segundo o consultor europeu, foi a ausência clara de comando, com as divisões no Partido Comunista e na Segurança.
Em 1983, foi criada a Polícia Armada do Povo, a força paramilitar com algumas funções antes exclusivas do Exército - de segurança pública a controle de incêndios. Polícia comum, Exército e os paramilitares não trabalharam juntos para evitar a tomada da praça e o bloqueio de avenidas em 1989.
As atribuições das três foram reescritas nos anos 90. O treinamento para controle de distúrbios, antiterrorismo e resgate têm sido intensificados.
Com as exceções de regiões de fronteiras ou de minorias étnicas separatistas, como Tibete, Sichuan, Xinjiang e a costa vizinha a Taiwan, o Exército foi retirado de questões de "ordem pública interna". (RJL)


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