São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 2011

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Zelaya modera seu discurso e fala em "princípios liberais"

De volta a Honduras, presidente deposto em 2009 defende união da liberdade de empresa ao "melhor do socialismo"

Ex-mandatário nega recomposição com elite política tradicional do país e elogia a acolhida do governo brasileiro

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A TEGUCIGALPA

De volta a Honduras, o ex-presidente Manuel Zelaya aposta na moderação do discurso. O aliado do venezuelano Hugo Chávez prega "liberdade de empresa", sinaliza que não vai abandonar seu tradicional Partido Liberal e promete uni-lo a seus apoiadores pós-golpe para eleger o próximo presidente em 2013.
"Colhemos a visão do socialismo do século 21, o melhor do socialismo, que é não deixar tudo à mercê do capital. Tenho ideias socialistas, mas tenho princípios liberais: liberdade de empresa, propriedade privada", disse Zelaya à Folha ontem.
"É a união dos dois eixos que nos permitirá vencer a ortodoxia, vencer o status quo. É esse movimento que será a opção para chegar ao poder em dois anos", seguiu.
O ex-presidente afirma que proporá à assembleia da FNRP (Frente Nacional de Resistência Popular), formada pós-golpe, um modelo como o da Frente Ampla do Uruguai ou da Concertação chilena: uma coalizão de partidos do centro à esquerda, que não perdem suas identidades. "É a minha proposta, mas as bases decidirão."
Zelaya voltou a Tegucigalpa no sábado, quase dois anos após ser deposto, num avião da estatal venezuelana Conviasa, ao lado de uma constelação de esquerdistas.
O retorno foi possível graças a acordo entre ele e o atual presidente de Honduras, Porfirio Lobo, mediado por Colômbia e Venezuela. O pacto deve selar a reintegração do país à OEA (Organização dos Estados Americanos) em sessão extraordinária marcada para amanhã.
Em seu primeiro discurso, Zelaya evitou criticar o Partido Liberal, para decepção da ala mais dura da FNRP. No país, o centro-direitista Liberal e o conservador Nacional se revezam no poder há pelo menos três décadas.
Zelaya, um rico fazendeiro, foi eleito pelos liberais e, numa mostra dos laços da elite hondurenha, foi colega de colégio de Lobo. Alguns apoiadores desconfiam que o acordo seja também o começo de sua recomposição com a classe política tradicional.
Zelaya nega. "O Partido Liberal tem uma fissura mortal, ocorrida ao se envolver no golpe. Vamos inovar."
Com olhos marejados, o ex-presidente diz que passou o "momento de maior êxtase da sua vida" na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde permaneceu sitiado por quase quatro meses enquanto negociava sua frustrada volta ao poder em 2009.
"Quando [o ex-presidente] Lula e [o ex-chanceler] Celso Amorim anunciaram que me aceitavam na embaixada, foi o momento mais glorioso, porque eu estava na rua, exposto a que me assassinassem a qualquer momento."


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