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Obama faz "cúpula da cerveja" para abrandar polêmica racial
Presidente recebe na Casa Branca professor negro e policial que o prendeu
Maioria dos americanos crê que democrata conduziu mal o tema; em entrevista, ele chegou a qualificar de "estúpida" a ação policial
Jim Young/Reuters
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Obama e seu vice, Joe Biden(sem paletó), durante encontro com o professor de Harvard Henry Gates e o policial que o prendeu
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
No que deve ter sido o encontro de homens em torno de garrafas de bebida mais coberto e
debatido em tempo real da história dos Estados Unidos, o
presidente Barack Obama, seu
vice, Joe Biden, o intelectual
negro Henry Gates Júnior e o
policial branco James Crowley
sentaram-se ontem à mesa de
um jardim da Casa Branca para
degustar cervejas geladas.
Apelidada pela imprensa local em tom de galhofa de "Cúpula da Cerveja", a reunião teve
o exato momento em que um
garçom da residência presidencial servia os quatro homens
transmitido ao vivo pelas emissoras noticiosas do país, que
acompanharam tudo em programas especiais, com mesas-redondas e comentaristas especialmente convidados.
Tamanha histeria justifica-se
pelo contexto do encontro: no
dia 16, Crowley prendeu por
conduta desordeira Gates, que,
após voltar de viagem, não conseguiu abrir a sua própria casa
na cidade de Cambridge, onde
leciona na conceituada Universidade Harvard; Obama comentou o assunto em sua mais
recente entrevista coletiva, na
semana passada, chamando a
ação policial de "estúpida".
A intromissão executiva e a
qualidade dos atores do incidente -Gates é um respeitado
estudioso de raças; Crowley dá
cursos antirracismo a seus colegas- foi o suficiente para reacender com vigor o debate racial de um país que, supostamente, tinha virado "pós-racial" desde a eleição de seu primeiro presidente negro.
Ativistas negros reafirmaram o que chamam de tendência de discriminação racial da
polícia. Comentaristas conservadores passaram a chamar o
presidente abertamente de racista pela primeira vez desde a
posse. Analistas progressistas
registraram que, na esteira do
incidente, renasceu com força
o movimento dos que defendem que Obama na verdade
nem seria americano.
São os chamados "nascimentistas" ("birthers", no original),
que apontam para a inexistência da certidão original de nascimento de Obama como prova
de que ele não seria natural dos
EUA e, portanto, não poderia
exercer a Presidência. Desde o
episódio Gates-Crowley, 11 representantes (deputados federais) correram a copatrocinar a
chamada "Birther Bill".
É com esse pano de fundo
que nasceu a "cúpula da cerveja", um convite feito pelo presidente para que o professor e o
policial se encontrassem na Casa Branca e superassem o ocorrido. "O termo é inteligente,
mas isso não é uma cúpula",
afirmou ontem Obama, que se
disse "fascinado com a fascinação em torno dessa noite".
Tratava-se apenas, disse, de
"três caras" [na verdade quatro;
Biden foi convidado de última
hora] "bebendo algo ao fim do
dia" e dando chance "de ouvir
uns aos outros". O objetivo,
afirmou, era baixar a temperatura de um evento "que se tornou tão simbólico", reduzir a
raiva e promover a reflexão.
O esforço pode ter sido em
vão. Instados pelo instituto
Pew a opinar sobre o episódio
na última semana, 41% dos ouvidos acham que Obama lidou
mal com a questão da prisão de
Gates, ante apenas 29% que defendem a atitude do presidente. Além disso, a mulher que fez
a ligação que deu origem à
ocorrência reclamou de não ter
sido convidada ao encontro, no
que seu advogado sugeriu ser
preconceito sexual de Obama.
Manifestantes abstêmios em
frente à Casa Branca protestavam pelo encontro ter sido regado a álcool. E fabricantes de
cerveja locais chiaram por Obama ter escolhido beber uma
Bud Light, hoje da multinacional belgo-brasileira Inbev (Biden preferiu a holandesa Buckler; Gates foi de Sam Adams
Light, americana; Crowley tomou a canadense Blue Moon).
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