São Paulo, domingo, 31 de julho de 2011

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ANÁLISE

Radicais reivindicam preservação de pureza étnica ameaçada

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma observação preliminar: a Europa não registra um crescimento generalizado das forças de extrema direita, embora o ventre político que gerou o terrorista norueguês Anders Behring Breivik esteja perigosamente fértil.
Cientistas políticos e serviços de inteligência acreditam que a carnificina de Oslo seja um caso isolado, como o foi, em 1980, a bomba neofascista da estação ferroviária de Bolonha, que matou 85.
Os ultranacionalistas se opõem à União Europeia e a seus desdobramentos, como a abertura interna das fronteiras. Também agitam o espantalho da xenofobia e da suposta chegada em massa de estrangeiros islâmicos.
Combatem o multiculturalismo e reivindicam a preservação de uma "pureza étnica", para eles ameaçada.
O que é um equívoco idiota. Os atuais países europeus são o produto de longa miscigenação, com etruscos, normandos, mouros ou visigodos se misturando às populações locais da Antiguidade à Idade Média.
Os partidos islamofóbicos têm fôlego eleitoral em Holanda, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Hungria, Noruega, Polônia e Suécia.
Estão em recuo na Áustria, estabilizados no Reino Unido e são uma incógnita na França.
Nada que se assemelhe, no entanto, a uma "onda neofascista" capaz de submergir o continente.
Nas eleições para o Parlamento Europeu de 2009 -elas obedecem rigoroso critério proporcional- em 13 dos 27 países da UE a extrema direita não elegeu ninguém.
No plenário europeu, são agora apenas 16 os extremistas em meio a 736 cadeiras.
Mas isso não permite um otimismo exagerado. Na Alemanha, por exemplo, sem eleitos extremistas, atuam, paralelamente ao ultranacionalista NPD, cerca de 15 mil neonazistas sem participação na vida parlamentar.
Outro problema está na ambiguidade da direita tradicional europeia em lidar com a xenofobia.
Dirigentes como Nicolas Sarkozy e Silvio Berlusconi, de um lado, favorecem o fortalecimento das instituições da União Europeia, como a unificação monetária.
Mas, de outro lado, assumem uma linguagem em que o estrangeiro, sobretudo o cigano, mesmo se europeu, é visto como indesejável.
A prolongada crise de crescimento na Europa gera, por fim, formas perigosas de preconceito que não têm só por alvo o muçulmano. A revista "Der Spiegel" discorreu recentemente sobre os ódios étnicos de adolescentes recrutáveis por neonazistas. Encabeçam a lista os albaneses ("todos traficantes") e os russos de origem germânica.


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