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'Beleza me ajudou, mas não representa nada na política'
da Reportagem Local
Irene Sáez, 35, trocou cetro, capa
de veludo, coroa de diamantes e
faixa de miss por blazeres azuis, ci
tações do papa João Paulo 2º e li
vros de política e administração.
Hoje defende um modelo geren
cial de governar, sem determinar
sua posição política, apesar de ser
apoiada fundamentalmente pela
direita de seu país.
Na década de 80, Sáez cursou
ciências políticas e trabalhou em
programas de alfabetização e co
mo diretora da Associação de Da
mas Salesianas.
Em 1989, já formada, embarcou
para Nova York, onde trabalhou
na embaixada de seu país na Orga
nização das Nações Unidas.
Sáez governa os 185 mil habitan
tes da cidade de Chacao, mas pode
a partir de 1999 comandar os 22
milhões de venezuelanos.
Abaixo, os principais trechos de
sua entrevista por fax à Folha, feita
na semana passada.
(RB)
Folha - A srta. acredita que os
partidos tradicionais de seu país
não têm mais o respaldo popular?
Irene Sáez - O processo de des
gaste dos partidos políticos come
çou há muito tempo, quando o po
vo se cansou das promessas não
cumpridas. Isso afeta os partidos e
seus líderes.
O venezuelano é um ser muito
nobre, mas já não aguenta mais.
As pessoas querem alguém que de
monstre que pode fazer o que fala.
Sinceramente, acredito que a
substituição das lideranças está
acontecendo.
Folha - Os opositores a sua can
didatura à Presidência afirmam
que as pesquisas de popularidade
apontam a srta. em primeiro lugar
porque só consultam homens.
Qual é a sua opinião sobre essa
idéia?
Sáez - É mentira. Sinto um ca
loroso apoio das mulheres, que
querem ver uma outra mulher
mudar as coisas no país. Eu sou
querida por homens e mulheres.
Folha - Ser uma mulher bonita
ajuda ou atrapalha em sua vida
política?
Sáez - A beleza me ajudou, mas
não representa nada na política.
Quando me lancei candidata a
prefeita, as pessoas se lembravam
da mulher que representou a bele
za venezuelana, mas do que elas
mais gostavam é que eu tinha feito
algo mais do que desfilar.
Eu estudei, me formei e repre
sentava o país dentro e fora dele.
E ser criativa e corajosa é muito
mais importante do que ser boni
ta.
Folha - Como se definiria como
política? Qual é a sua ideologia?
Sáez - Sou uma servidora pú
blica, que concebe o Estado como
uma corporação de serviços. Este
final de século nos mostrou que as
ideologias de direita e de esquerda
já não respondem aos desafios que
enfrentamos. Mas a globalização
da economia deve ser compensada
com um maior humanismo nas
ações governamentais.
Folha - Quais são seus ídolos
dentro da política?
Sáez - Aprendo com todas as
personalidades, mas minha inspi
ração é a mulher venezuelana. Ela
trabalha, é dona-de-casa, esposa,
mãe e ainda tem tempo para dedi
car a ela mesma.
Isso não tem nada a ver com ser
mos melhores ou não do que os
homens. Homens e mulheres são
diferentes. Mas nós começamos a
provar que somos empreendedo
ras, porque não paramos frente às
adversidades.
Folha - A srta. se associaria a um
partido tradicional como o Copei
(centro-direita) para concorrer à
Presidência em 1998?
Sáez - Sim. Na Venezuela, pre
cisamos somar as vontades e aglu
tinar os esforços. Penso que deve
mos ir além de um partido, uma
cor ou uma ideologia. Nosso obje
tivo é transcender.
Folha - O que sonhava ser quan
do era pequena?
Sáez - A prefeita de Chacao!
Folha - Como explicar a produ
ção de misses na Venezuela?
Sáez - O concurso de Miss Ve
nezuela é algo como uma institui
ção. Este país ficou conhecido co
mo produtor de petróleo, mas co
meçou a exportar também a beleza
de suas mulheres. Mostramos que
não há só riquezas naturais e ma
teriais, mas também beleza.
Folha - A srta. dirige o município
mais rico do país, mas como pensa
governar um país que tem 76% do
povo abaixo do nível de pobreza?
Sáez - Como venezuelana, não
posso conceber isso em um país
com tantos recursos, com tanta
produtividade. A solução é termos
um esquema gerencial, visionário
e descentralizado. Os problemas
fundamentais da Venezuela são a
fome, o abandono e a falta de edu
cação, saúde e segurança.
Minha luta não vai ser para ocu
par uma cadeira, mas para trans
formar a realidade política, social
e econômica de meu país.
Folha - Não é muito personalis
mo pertencer a um partido cuja si
gla forma o seu nome, o Irene?
Sáez - A sigla Irene é um movi
mento que decidiu me acompa
nhar a partir das eleições de 1995.
Foram esses seguidores que fun
daram o Irene, não eu.
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