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GUERRA SEM LIMITES
Especialistas militares dizem que ainda não existe o ambiente e o planejamento necessários para ação
Para analistas, ataque ao Iraque não é para já
DA REUTERS
Apesar dos tambores de guerra tocados pelo governo dos EUA, os planos da administração de George W. Bush permanecem encobertos de incerteza e o início de uma eventual guerra contra o Iraque poderia demorar ainda meses, segundo especialistas militares e em segurança. Os analistas consultados disseram ver poucos sinais até agora das condições necessárias para uma invasão terrestre do país ou mesmo de um consenso sobre que forma essa invasão teria.
"Há muita coisa que precisa ser trabalhada, e os planejadores deveriam ter um grau de concordância -como entre o Pentágono e o Departamento de Estado- sobre o que teriam de fazer", disse Timothy Garden, especialista militar da Royal Institute of International Affairs, de Londres.
"As necessidades são tantas que quando você quer lançar uma operação séria com um componente terrestre significativo, você não pode fazer tudo rapidamente", disse. "Todos com quem eu tenho falado dizem que não há ainda uma direção em termos de planejar algo específico."
O vice-presidente Dick Cheney subiu consideravelmente a temperatura do conflito nesta semana com discursos reafirmando a determinação do governo em derrubar o ditador iraquiano, Saddam Hussein, antes que ele pudesse usar seu suposto arsenal de armas de destruição em massa contra os EUA e os seus aliados.
Suas declarações foram alvo de críticas de muitos aliados árabes e europeus dos EUA, preocupados com a perspectiva de uma invasão do Iraque, especialmente se ela ocorrer sem estar baseada numa moção específica das Nações Unidas, num momento em que o conflito israelo-palestino já está inflamando o Oriente Médio.
Com o debate crescendo, o próprio presidente Bush fez pouco para esclarecer sua posição.
Questionado sobre uma conferência prevista para o mês que vem com dissidentes iraquianos para eleger um governo no exílio apoiado pelos EUA, o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, disse anteontem que a questão "ainda é prematura" porque Bush ainda não se decidiu a usar a força.
O bom senso diz que o momento ideal para uma grande invasão envolvendo até 250 mil soldados deveria ser entre novembro e março, para que os soldados não tivessem que lutar no árido e quente verão usando roupas de proteção contra armas químicas.
"Não creio que a guerra seja iminente, mas acho que ela acontecerá nos próximos seis meses. A preparação poderia começar em outubro, e poderíamos ver as coisas acontecendo em janeiro ou fevereiro", disse Paul Beaver, da revista especializada em temas militares "Jane"s Defense Weekly".
O analista iraquiano baseado em Londres Mustafa Alani disse que o planejamento está longe de estar completo. "As idéias militares e os cenários estão aí, mas eles ainda não foram maturados em um plano integrado sólido."
Alguns analistas argumentam que Bush poderia hesitar em lançar uma invasão antes das eleições ao Congresso, em novembro, por temor de algum revés militar imprevisto. Outros consideram que os candidatos republicanos poderiam se beneficiar nas urnas pelo surgimento de uma unidade nacional e de um patriotismo que uma guerra pode gerar.
Steven Simon, vice-diretor do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, disse que a administração Bush ainda tem muito trabalho para fazer
para obter um apoio da opinião pública interna e dos aliados externos para um ataque ao Iraque.
"Os veteranos do Partido Republicano ainda não estão apoiando,
exceto o [ex-secretário de Estado Henry] Kissinger", disse, em referência às críticas feitas por muitos dirigentes republicanos que trabalharam no governo do ex-presidente George Bush (1989-1993), pai do atual presidente.
"Internacionalmente, o trabalho do governo está interrompido. Eles consideram que não precisam de uma nova resolução da ONU, mas vozes mais experientes
estão sugerindo que eles consigam uma", disse Simon.
Recorrer à ONU, talvez para uma resolução do Conselho de
Segurança dando ao Iraque um ultimato para readmitir as inspeções de armas e cooperar com elas, poderia atender aos delicados aliados de Washington, mas
poderia atrasar uma ação militar.
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