São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2005

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DESASTRE

Já se fala no furacão, que matou 100 até agora, como a pior catástrofe dos EUA; há risco de inundação total de Nova Orleans

Katrina pode deixar centenas de mortos

David J. Phillip/Associated Press
Ponte fica destruída após passagem do Katrina em rodovia interestadual perto de Nova Orleans


IURI DANTAS
DE WASHINGTON

O saldo da destruição provocada pelo furacão Katrina, que já se estima como um dos principais desastres naturais dos EUA, pode chegar às centenas de mortos, à interrupção da distribuição e do refino de petróleo no golfo do México, ao isolamento de cidades e à recessão econômica.
Até o início da noite de ontem, já eram contabilizados mais de cem mortos nos cinco Estados mais atingidos (Flórida, Geórgia, Louisiana, Mississippi e Alabama), com os três últimos sob estado de emergência federal. "É o mais significativo desastre natural a atingir os EUA", disse Bill Lokey, da agência federal de gerenciamento de emergências.
Em Nova Orleans (Louisiana), parcialmente inundada e atacada por saqueadores, foi decretada lei marcial. As equipes de resgate desprezam os corpos que encontram para procurar sobreviventes. Sob risco de inundação total -fendas surgiram na barragem que contém um lago-, desabrigados terão de deixar a cidade e se juntar a quem já saiu desde a desocupação, no último domingo.
Os consulados do Brasil em Houston e Miami informaram ontem que nenhum brasileiro os procurou pedindo auxílio. Representantes brasileiros nas comunidades não foram localizados.
Por causa do Katrina, o presidente George W. Bush antecipou em um dia a volta de seu rancho no Texas, onde passava férias.
O caos dominou parte do caminho do furacão: inundações, prédios derrubados, casas submersas, navios arrastados para a costa, plataformas de petróleo sob pontes, cassinos quase submersos, estradas bloqueadas. Corpos foram vistos boiando em rios no Mississippi e no Alabama. Fábricas ficaram ilhadas, impedindo a retirada de corpos. Durante todo o dia, equipes resgataram mais de 1.300 pessoas em telhados.
O governo Bush anunciou o envio de água, refeições e remédios às vítimas, mas ainda não há certeza sobre o saldo de mortos e desabrigados. Até 5,75 milhões de pessoas já ficaram sem energia elétrica nos locais atingidos.
Nova Orleans, onde o Katrina chegou na manhã de segunda, está sob risco de ficar totalmente debaixo d'água nas próximas horas. Na manhã de ontem, 80% da cidade estava inundada. Após o rompimento de um segundo dique, à tarde, o governo estadual determinou a retirada de todas as pessoas que ocupavam os dez estádios usados como abrigos.
Com as forças policiais deslocadas para outros trabalhos, houve saques e tumulto em Nova Orleans. Numa loja no famoso bairro francês, um grupo, apesar do policiamento, conseguiu levar alimentos, bebidas e fraldas. De outras lojas, pessoas carregavam roupas e eletrodomésticos. Denise Bollinger, turista, ficou chocada: "É Bagdá. Isso é insano. Queria vir para cá havia anos. Achava que era uma cidade sofisticada".
O prefeito de Biloxi (Mississippi), A. J. Holloway, comparou a ação do Katrina ao tsunami que devastou a Ásia em dezembro. "Foi o nosso tsunami." O furacão chegou à litorânea Biloxi produzindo ondas de até 9 metros. Só em um prédio de apartamentos da cidade, morreram 30.
"Quase nos afogamos na nossa casa", disse a moradora Linda Boldt. "Havíamos acabado de nos mudar da Flórida para fugir dos furacões. Não temos onde ficar."
A estimativa de prejuízos a serem cobertos pelas seguradoras chega a US$ 26 bilhões, o que deixaria o Katrina como o furacão mais caro, superando o Andrew, de 1992. As autoridades, porém, ainda começam a estimar danos.
O primeiro Estado atingido pelo Katrina foi a Flórida, na semana passada. Anteontem, aproximou-se de Nova Orleans com a categoria 4 (a segunda maior). No mesmo dia, seguiu para o Mississippi e o Alabama, com a categoria 1 (tempestade tropical).

Com agências internacionais

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