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Vice de Bush admite depor sobre atos da CIA
Cheney critica iniciativa do governo Obama de investigar supostos abusos, mas diz que falaria "dependendo das circunstâncias"
Republicano afirma que defendia o ataque militar contra o programa nuclear iraniano, mas que decisão sobre tema não cabia a ele
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Pela primeira vez, o ex-vice-presidente americano Dick
Cheney admitiu que, se convocado e dependendo das circunstâncias, pode dar seu testemunho na investigação sobre
as denúncias de abusos cometidos pela CIA, a agência de inteligência americana, durante a
chamada "guerra ao terror" levada a cabo no governo de
George W. Bush (2001-2009).
Há uma semana, o presidente Barack Obama deu sinal verde para que seu secretário da
Justiça, Eric Holder, nomeasse
um promotor especial para investigar o assunto. Indagado
ontem pela Fox News sobre o
assunto, Cheney criticou duramente a decisão de Obama,
chamando-a de "terrível", movida por interesses políticos e
"devastadora" para a comunidade de inteligência.
Ainda assim, deixou a porta
aberta para falar com o promotor John Durham, responsável
pelas investigações. "Dependerá das circunstâncias e do que
eu achar que são as atividades
em que eles [os investigadores]
estão envolvidos", respondeu
Cheney ao ser indagado se falaria. "Tenho sido muito franco
sobre minha visão nesse assunto e muito direto publicamente
ao falar de meu envolvimento
nessas políticas."
Cheney é tido como o autor
intelectual do conjunto de medidas de exceção adotadas em
missões contraterrorismo pós-11 de Setembro, que, segundo
relatórios tornados públicos
desde então, levaram à tortura
de suspeitos sob custódia dos
EUA durante interrogatórios.
A agência que comandou grande parte das sessões foi a CIA.
Cheney disse ter "muito orgulho do que nós fizemos em
termos de defender a nação pelos últimos oito anos de maneira bem-sucedida". Disse ainda
que não será preciso um promotor para descobrir o que ele
pensa. Na entrevista, ele voltou
a falar que sabia do uso da prática de "waterboarding", que
provoca no interrogado a sensação de afogamento.
Segundo os documentos, um
dos detidos, Khalid Sheik Mohammed, foi submetido à prática 183 vezes apenas em março
de 2003. Cheney e os que defendem as chamadas "técnicas
melhoradas de interrogatório",
eufemismo empregado pela
gestão Bush, dizem que o resultado foram informações valiosas contra a organização terrorista Al Qaeda.
Críticos discordam. É o caso,
por exemplo, de Jane Mayer,
autora de um dos melhores livros sobre o assunto e o período, "The Dark Side - The Inside
Story of How the War on Terror Turned into a War on American Ideals" (O Lado Escuro
-Os Bastidores de Como a
Guerra ao Terror Virou Uma
Guerra contra os Ideais Americanos, Doubleday, 2008).
Segundo a jornalista, KSM,
como o detido ficou conhecido
depois, já havia dado as mesmas informações que os agentes conseguiram por força antes mesmo de ser preso, em entrevistas para TVs árabes. "Ele
tinha orgulho de seu papel como autor intelectual do 11 de
Setembro", disse Mayer. "Ele
adora falar sobre o assunto."
Ataque ao Irã
Na mesma entrevista à Fox
News, Cheney diz que era a favor da opção militar como forma de deter o programa nuclear iraniano. "Quem tinha de
tomar a decisão não era eu",
disse ele -desde o fim do governo, vazaram relatos que dão
conta de uma tensão entre o vice e Bush no fim da gestão.
"Eu era provavelmente um
defensor maior da ação militar
do que qualquer um de meus
colegas", disse ele. "Achava que
as negociações não seriam
bem-sucedidas a menos que os
iranianos realmente acreditassem que nós estávamos preparados para o uso de força militar." Desde a posse, Obama optou pela tática de abertura ao
diálogo com Teerã, que, no entanto, ainda não respondeu
afirmativamente à iniciativa.
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