São Paulo, Terça-feira, 31 de Agosto de 1999
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VENEZUELA
Constituinte pró-Chávez tira de deputados últimas funções importantes deixadas após intervenção
Constituinte "fecha" Congresso

Reuters
Soldados da Guarda Nacional da Venezuela vigiam a entrada do Congresso, em Caracas, onde também funciona a constituinte


das agências internacionais

A Assembléia Constituinte da Venezuela decidiu ontem anular as funções do Congresso, o que, na prática, significa o fechamento do órgão.
A constituinte, dominada por partidários do presidente Hugo Chávez, tomou para si os poderes das únicas três comissões que estavam autorizadas a funcionar no Congresso, segundo decreto emitido na última quarta-feira.
A decisão da constituinte é uma reação a um desafio feito pelos congressistas à assembléia, mais um episódio da luta de poder entre partidários e opositores do presidente Hugo Chávez.
A constituinte havia limitado a atuação do Congresso a três comissões e proibiu que os parlamentares fizessem sessões extraordinárias. No Congresso, a oposição ao presidente é maioria.
Na sexta, parlamentares contrários a Chávez tentaram entrar à força na sede do Congresso, e manifestantes pró e contra o presidente se enfrentaram nas ruas de Caracas.
Ontem, os congressistas reagiram ao não comparecer à reunião da Comissão Delegada do Congresso. A comissão é formada por 23 parlamentares, a maioria de oposição, que ficam "de plantão" durante o recesso parlamentar. Além da Comissão Delegada, só estavam com funcionamento autorizado as Comissões de Finanças e Controladoria.
Na pauta de ontem estava a autorização para que Chávez viaje hoje ao Panamá e no sábado a Santarém, onde deve se reunir com o presidente Fernando Henrique Cardoso. A necessidade de aprovar a viagem seria uma das justificativas oficiais para o fechamento do Congresso.
Os deputados oposicionistas disseram que o boicote à reunião foi um "protesto cívico".
O presidente do Congresso, o governista Luis D'Ávila, disse que, devido à "irresponsabilidade" dos congressistas, suas funções deveriam ser assumidas pela constituinte, para evitar um "vácuo de poder".
A oposição a Chávez entrou com recurso na Suprema Corte para tentar anular o decreto da constituinte que transferiu poderes do Congresso para a assembléia. "Se aqui se elimina o Congresso ou se decreta o fechamento técnico, seria um golpe de Estado", disse o vice-presidente do Congresso, Henrique Caprilles, da oposição.
O oposicionista Henrique Salas Romer, derrotado por Chávez nas eleições presidenciais de dezembro último, disse nos EUA que o tenente-coronel da reserva está buscando o confronto com a oposição.
Na semana passada, os juízes da Suprema Corte sinalizaram que não devem entrar em confronto com Chávez. Eles aprovaram a decisão da constituinte que confere à assembléia poderes para reformular o Judiciário, inclusive destituindo juízes. A decisão causou a renúncia da presidente da corte, Cecilia Sosa.


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