São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2010

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O IMPÉRIO VOTA

'Revolução Republicana' assombra Obama

Democratas temem repeteco da eleição em que republicanos obtiveram vitória histórica no Congresso dos EUA

Analistas veem pontos em comum entre os dois momentos e creem que derrota democrata pode ser ainda maior agora

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Após meses de especulação sobre se 2010 seria um repeteco de 1994, quando republicanos ganharam maioria histórica no Congresso dos EUA, a conclusão de analistas a dias da eleição é que este ano, para os democratas, pode ser ainda pior.
Os dois anos têm várias características em comum, como as críticas à agenda progressista dos presidentes democratas no poder (Bill Clinton em 1994 e Barack Obama hoje). E onde diferem, como na situação econômica, o cenário de 2010 é bem mais delicado para o partido atualmente majoritário.
O ano de 1994 ficou marcado como o da "Revolução Republicana". O partido retomou controle de ambas as Casas do Congresso após quatro décadas de domínio democrata. Só na Câmara, conquistou 52 cadeiras.
Se não havia então crise econômica como hoje, crescia no país a percepção de que o presidente inchava perigosamente a máquina pública -mesmo discurso hoje.
"Clinton estava sendo comparado a [o presidente republicano] Ronald Reagan [1981-1989], que era muito conservador", disse à Folha Sean Trende, analista sênior do Real Clear Politics. "Perto dele, Clinton era um radical, apesar de sua agenda ser bem menos progressista que a de Obama."
Clinton tentou, por exemplo, universalizar o sistema de saúde americano. Fracassou, mas o debate feroz deixou feridas abertas no bloco democrata. Também promoveu aumentos de impostos e uma proibição da posse de armas pesadas, ao que o público reagiu furiosamente.
Os republicanos aproveitaram para criar uma campanha com argumentos de que ele gastava demais, elevava impostos e estava "do lado errado" em temas sociais como armas, gays e religião.
E, segundo Michael Barone, analista republicano, o clima em 1994 ainda mantinha resquícios da campanha de [Ross] Perot de 1992 [que perdeu a Presidência].
"Ele falava contra deficits, divisões partidárias e acordos de livre comércio, que Clinton defendia", disse.

SURPRESA
Em 1994, como em 2010, os presidentes enfrentam baixas recordes de popularidade -menos de 50% .
"Havia raiva no eleitorado naquele ano. Mas agora é pior. Não havia [grupos ultraconservadores como o] Tea Party, e a economia estava mais estável", diz Trende.
Talvez por isso em 1994 o partido não esperava a derrota que chegou em novembro.
A diferença em pesquisas sobre as intenções de voto não era tão grande. Em outubro, estavam apenas três pontos atrás e ainda chegaram a ultrapassar brevemente os republicanos antes de empatarem a dias do voto.
A situação das pesquisas é bem mais grave agora. Republicanos chegam ao último final de semana antes do voto com mais de seis pontos de vantagem no voto genérico, com 48,7% a 42,4% (média do site Real Clear Politics).
A situação das bases partidárias nos dois anos também tem semelhanças. Como em 1994, os democratas estão desanimados com o governo, enquanto conservadores foram incendiados por movimentos como o Tea Party.
A expectativa é que o comparecimento republicano seja bastante superior ao democrata, em níveis maiores do que em 1994.
Mas é preciso cautela. Se em 1994 os republicanos não esperavam dominar o Congresso, em 2010 é possível que uma motivação democrata de última hora freie a derrota do partido no poder.
A exemplo de 16 anos atrás, não seria a primeira vez que as pesquisas estariam erradas.


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