São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 2002

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ÁSIA

EUA querem isolar Pyongyang, mas Seul diz que "isolamento não funciona contra países comunistas" e prefere negociar

Coréia do Sul rejeita sanções contra Norte

DA REDAÇÃO

A Coréia do Sul, num sinal de divergência pública com os EUA, disse ontem ser contra medidas que visem isolar a Coréia do Norte e propôs que a crise nuclear envolvendo o país seja resolvida com esforços diplomáticos.
"Pressão e isolamento nunca tiveram êxito contra países comunistas. Cuba é um exemplo", afirmou o presidente sul-coreano, Kim Dae-jung. "Vamos trabalhar de perto com nossos aliados para solucionar o problema da península coreana e faremos uma oposição firme ao programa de armas nucleares da Coréia do Norte, mas buscaremos uma solução pacífica", afirmou Kim.
"Não podemos entrar em guerra com a Coréia do Norte nem retornar ao clima de confrontação da Guerra Fria", disse. Ele anunciou o envio de missões diplomáticas à China e à Rússia, tradicionais aliados da Coréia do Norte.
A crise envolvendo a Coréia do Norte começou em outubro, quando os EUA revelaram que, num encontro entre autoridades americanas e norte-coreanas, as últimas teriam admitido manter um programa nuclear secreto.
Em novembro, os EUA anunciaram que deixariam de fornecer combustível ao país, pois a Coréia do Norte estaria desrespeitando um acordo firmado em 1994. Segundo esse acordo, a Coréia do Norte se comprometeu a abandonar seu programa nuclear em troca de fornecimento estável de combustível pelos EUA.
A Coréia do Norte reagiu anunciando a reabertura de uma de suas usinas nucleares sob o argumento de que precisa garantir seu fornecimento de energia. A comunidade internacional teme, no entanto, que a usina sirva para produzir material radioativo utilizado em bombas nucleares.
A crise se agravou na semana passada, quando a Coréia do Norte "convidou" os inspetores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), órgão ligado à ONU cuja missão é fiscalizar atividades nucleares em todo o mundo, a deixar o país, o que deve acontecer hoje.
A expulsão foi criticada pela própria ONU e por diversos países. Ontem, foi a vez da Rússia. "A decisão de Pyongyang de expulsar os inspetores da AIEA e retomar os trabalhos sem monitoramento em seu complexo de energia nuclear não ajuda em nada", afirmou o ministro das Relações Exteriores russo, Igor Ivanov. O chanceler também pediu que os EUA mantenham o fornecimento de combustível à Coréia do Norte.
Analistas acreditam que o endurecimento norte-coreano tenha como objetivo forçar os EUA a iniciar um diálogo com o país. Apesar de uma aproximação ocorrida no final do governo Clinton, as relações esfriaram durante o governo Bush, que colocou a Coréia do Norte na lista de países que compõe o "eixo do mal".
O termo foi utilizado por George W. Bush após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 para definir os três países -Irã, Iraque e Coréia do Norte- que, segundo ele, têm ligações com o terrorismo internacional e buscam desenvolver armas de destruição em massa.
Preocupados em convencer a comunidade internacional da necessidade de atacar o Iraque, os EUA deixaram claro que não pretendem agir militarmente contra a Coréia do Norte, mas pressionam pela adoção de sanções. O assunto será discutido na ONU.
Segundo artigo publicado no "New York Times", os EUA esboçam um plano para "estrangular" a Coréia do Norte com sanções econômicas, políticas e comerciais caso o país dê indícios de que realmente pretende desenvolver armas nucleares.
Diante da pressão americana, a Coréia do Norte disse que sanções seriam uma declaração de guerra e voltou a propor negociações. Pyongyang quer que os EUA assinem um pacto de não-agressão com o país.
"É evidente que o diálogo é impossível sem que [as duas partes" sentem cara a cara", afirmou o regime norte-coreano.
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, argumenta que a abertura de negociações agora seria uma recompensa à Coréia do Norte pela violação de tratados internacionais que proíbem a proliferação de armas nucleares.
Embora o regime norte-coreano seja um dos mais isolados do mundo e enfrente sérios problemas econômicos, o país tem o quinto maior Exército do mundo, com 1,1 milhão de soldados, e mísseis que poderiam atingir outros países asiáticos.
O conflito na península coreana tem origem em 1948, ao final da Segunda Guerra Mundial, quando o norte foi ocupado por tropas soviéticas e o sul, por soldados americanos. Em seguida, um regime comunista instalou-se na parte norte, e um governo pró-capitalista, sob a tutela da ONU (e dos EUA), foi criado no sul.
Em 1950, iniciou-se uma guerra na região. Os EUA apoiaram a Coréia do Sul, e a China apoiou a Coréia do Norte. Após 17 meses e 4 milhões de mortos, a guerra terminou sem um vencedor.
Nas décadas seguintes, a divisa entre as duas Coréias foi a fronteira mais quente da Guerra Fria. Desde a década de 90, os dois países iniciaram um lento processo de diálogo, chamado de "política do raio de sol".


Com agências internacionais


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