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ÁSIA
EUA querem isolar Pyongyang, mas Seul diz que "isolamento não funciona contra países comunistas" e prefere negociar
Coréia do Sul rejeita sanções contra Norte
DA REDAÇÃO
A Coréia do Sul, num sinal de
divergência pública com os EUA,
disse ontem ser contra medidas
que visem isolar a Coréia do Norte e propôs que a crise nuclear envolvendo o país seja resolvida
com esforços diplomáticos.
"Pressão e isolamento nunca tiveram êxito contra países comunistas. Cuba é um exemplo", afirmou o presidente sul-coreano,
Kim Dae-jung. "Vamos trabalhar
de perto com nossos aliados para
solucionar o problema da península coreana e faremos uma oposição firme ao programa de armas
nucleares da Coréia do Norte,
mas buscaremos uma solução pacífica", afirmou Kim.
"Não podemos entrar em guerra com a Coréia do Norte nem retornar ao clima de confrontação
da Guerra Fria", disse. Ele anunciou o envio de missões diplomáticas à China e à Rússia, tradicionais aliados da Coréia do Norte.
A crise envolvendo a Coréia do
Norte começou em outubro,
quando os EUA revelaram que,
num encontro entre autoridades
americanas e norte-coreanas, as
últimas teriam admitido manter
um programa nuclear secreto.
Em novembro, os EUA anunciaram que deixariam de fornecer
combustível ao país, pois a Coréia
do Norte estaria desrespeitando
um acordo firmado em 1994. Segundo esse acordo, a Coréia do
Norte se comprometeu a abandonar seu programa nuclear em troca de fornecimento estável de
combustível pelos EUA.
A Coréia do Norte reagiu anunciando a reabertura de uma de
suas usinas nucleares sob o argumento de que precisa garantir seu
fornecimento de energia. A comunidade internacional teme, no
entanto, que a usina sirva para
produzir material radioativo utilizado em bombas nucleares.
A crise se agravou na semana
passada, quando a Coréia do Norte "convidou" os inspetores da
AIEA (Agência Internacional de
Energia Atômica), órgão ligado à
ONU cuja missão é fiscalizar atividades nucleares em todo o mundo, a deixar o país, o que deve
acontecer hoje.
A expulsão foi criticada pela
própria ONU e por diversos países. Ontem, foi a vez da Rússia. "A
decisão de Pyongyang de expulsar os inspetores da AIEA e retomar os trabalhos sem monitoramento em seu complexo de energia nuclear não ajuda em nada",
afirmou o ministro das Relações
Exteriores russo, Igor Ivanov. O
chanceler também pediu que os
EUA mantenham o fornecimento
de combustível à Coréia do Norte.
Analistas acreditam que o endurecimento norte-coreano tenha como objetivo forçar os EUA
a iniciar um diálogo com o país.
Apesar de uma aproximação
ocorrida no final do governo Clinton, as relações esfriaram durante
o governo Bush, que colocou a
Coréia do Norte na lista de países
que compõe o "eixo do mal".
O termo foi utilizado por George W. Bush após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001
para definir os três países -Irã,
Iraque e Coréia do Norte- que,
segundo ele, têm ligações com o
terrorismo internacional e buscam desenvolver armas de destruição em massa.
Preocupados em convencer a
comunidade internacional da necessidade de atacar o Iraque, os
EUA deixaram claro que não pretendem agir militarmente contra
a Coréia do Norte, mas pressionam pela adoção de sanções. O
assunto será discutido na ONU.
Segundo artigo publicado no
"New York Times", os EUA esboçam um plano para "estrangular"
a Coréia do Norte com sanções
econômicas, políticas e comerciais caso o país dê indícios de que
realmente pretende desenvolver
armas nucleares.
Diante da pressão americana, a
Coréia do Norte disse que sanções
seriam uma declaração de guerra
e voltou a propor negociações.
Pyongyang quer que os EUA assinem um pacto de não-agressão
com o país.
"É evidente que o diálogo é impossível sem que [as duas partes"
sentem cara a cara", afirmou o regime norte-coreano.
O secretário de Estado dos EUA,
Colin Powell, argumenta que a
abertura de negociações agora seria uma recompensa à Coréia do
Norte pela violação de tratados
internacionais que proíbem a
proliferação de armas nucleares.
Embora o regime norte-coreano seja um dos mais isolados do
mundo e enfrente sérios problemas econômicos, o país tem o
quinto maior Exército do mundo,
com 1,1 milhão de soldados, e
mísseis que poderiam atingir outros países asiáticos.
O conflito na península coreana
tem origem em 1948, ao final da
Segunda Guerra Mundial, quando o norte foi ocupado por tropas
soviéticas e o sul, por soldados
americanos. Em seguida, um regime comunista instalou-se na parte norte, e um governo pró-capitalista, sob a tutela da ONU (e dos
EUA), foi criado no sul.
Em 1950, iniciou-se uma guerra
na região. Os EUA apoiaram a
Coréia do Sul, e a China apoiou a
Coréia do Norte. Após 17 meses e
4 milhões de mortos, a guerra terminou sem um vencedor.
Nas décadas seguintes, a divisa
entre as duas Coréias foi a fronteira mais quente da Guerra Fria.
Desde a década de 90, os dois países iniciaram um lento processo
de diálogo, chamado de "política
do raio de sol".
Com agências internacionais
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