São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 2002

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DIPLOMACIA

Rammel compara ascensão de Lula à de Blair

Ministro britânico diz que Brasil é exceção na crise latino-americana

MARIA BRANT
DA REDAÇÃO

A situação de instabilidade política na Venezuela e na Argentina são preocupantes, mas o Brasil, ao eleger Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência, "passou pelo teste da democracia com notas altas". Essa é a opinião de Bill Rammel, o responsável pela América Latina do Ministério das Relações Exteriores britânico.
Rammel esteve no Brasil recentemente em sua primeira visita oficial a um país estrangeiro desde que assumiu o cargo, há dois meses.
Proveniente do movimento estudantil britânico -foi um dos dirigentes da União dos Estudantes da Universidade de Londres e trabalhou para a União Nacional de Estudantes do Reino Unido- e eleito deputado em 1997, ele substitui Denis MacShane, nomeado ministro do Reino Unido para a Europa em outubro.
Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida no último dia 18 por Rammel, que esteve com representantes do próximo governo federal em Brasília.

Folha - O governo britânico manteve muito boas relações com o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Quais são as expectativas do Reino Unido em relação ao governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva?
Bill Rammel -
Não gostaria de exagerar as semelhanças, mas há algumas, entre o novo governo, tendo a esquerda sido eleita pela primeira vez no Brasil, e o nosso [governo" no Reino Unido, em 1997, tendo o Partido Trabalhista voltado ao poder pela primeira vez em 18 anos.

Folha - E quais são os planos em relação à presença política do Reino Unido na América Latina? O Reino Unido não tem uma presença política muito forte na região... Rammel - Acho que cinco ou dez anos atrás seria justo dizer isso. Não tenho certeza se, nos últimos três, quatro ou cinco anos, isso continuou sendo verdadeiro.
Tony Blair fez, no ano passado, a primeira visita bilateral de um premiê britânico em exercício ao Brasil . Nas preparações para a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, nosso vice-premiê, John Prescott, visitou o Brasil em três ocasiões. E essa é minha primeira visita ao exterior como ministro das Relações Exteriores para a América Latina, o Nordeste Asiático e o Pacífico Sul, e escolhi vir ao Brasil.
Se olharmos para a questão pelo aspecto dos negócios, o desempenho de nossas exportações para o Brasil no último ano é um dos melhores do mundo. Somos um dos três países que aumentaram a fatia de comércio com o Brasil. Queremos que isso continue.

Folha - Quais são as questões que dão mais margem a uma cooperação entre o Brasil e o Reino Unido?
Rammel -
A liberalização comercial, particularmente para produtos agrícolas, é uma área em que temos um forte interesse comum. Nós estamos na dianteira da defesa de uma reforma da PAC (Política Comum Agrícola) européia, na qual sei que tanto o atual governo brasileiro quanto o novo governo gostariam de ver mudanças. E, em toda a agenda do desenvolvimento, também temos um interesse comum.

Folha - Como o sr. vê a instabilidade política em certos países da América Latina, como a Argentina e principalmente a Venezuela?
Rammel -
Acho que, em contraste, o Brasil tem uma situação muito positiva. Há uma situação muito estável aqui, tanto econômica quanto politicamente. E acho que a eleição de Lula é o teste de sua democracia, vocês passaram nele com notas altas.
A situação na Venezuela é muito preocupante. Quaisquer que sejam as discordâncias entre as pessoas, o Estado de direito e o respeito a vitórias eleitorais são muito importantes, e ficaríamos preocupados com qualquer medida para remover o presidente de forma inconstitucional.
Quanto à Argentina, o país passou por terríveis dificuldades financeiras e econômicas, e nós entendemos e respeitamos muito sacrifícios que o governo e a população da Argentina tiveram de fazer para tentar resolver essa situação. E queremos que a comunidade internacional apóie a Argentina tanto quanto for possível.
Mas acho que isso tem de ser feito através da concordância da Argentina em honrar seus compromissos com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.



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