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DIPLOMACIA
Rammel compara ascensão de Lula à de Blair
Ministro britânico diz que Brasil é exceção na crise latino-americana
MARIA BRANT
DA REDAÇÃO
A situação de instabilidade política na Venezuela e na Argentina
são preocupantes, mas o Brasil, ao
eleger Luiz Inácio Lula da Silva
para a Presidência, "passou pelo
teste da democracia com notas altas". Essa é a opinião de Bill Rammel, o responsável pela América
Latina do Ministério das Relações
Exteriores britânico.
Rammel esteve no Brasil recentemente em sua primeira visita
oficial a um país estrangeiro desde que assumiu o cargo, há dois
meses.
Proveniente do movimento estudantil britânico -foi um dos
dirigentes da União dos Estudantes da Universidade de Londres e
trabalhou para a União Nacional
de Estudantes do Reino Unido-
e eleito deputado em 1997, ele
substitui Denis MacShane, nomeado ministro do Reino Unido
para a Europa em outubro.
Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida no último dia 18
por Rammel, que esteve com representantes do próximo governo federal em Brasília.
Folha - O governo britânico manteve muito boas relações com o governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso. Quais são as expectativas do Reino Unido em relação ao governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva?
Bill Rammel - Não gostaria de
exagerar as semelhanças, mas há
algumas, entre o novo governo,
tendo a esquerda sido eleita pela
primeira vez no Brasil, e o nosso
[governo" no Reino Unido, em
1997, tendo o Partido Trabalhista
voltado ao poder pela primeira
vez em 18 anos.
Folha - E quais são os planos em
relação à presença política do Reino Unido na América Latina? O Reino Unido não tem uma presença
política muito forte na região...
Rammel - Acho que cinco ou dez
anos atrás seria justo dizer isso.
Não tenho certeza se, nos últimos
três, quatro ou cinco anos, isso
continuou sendo verdadeiro.
Tony Blair fez, no ano passado,
a primeira visita bilateral de um
premiê britânico em exercício ao
Brasil . Nas preparações para a
Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, nosso vice-premiê, John Prescott, visitou o
Brasil em três ocasiões. E essa é
minha primeira visita ao exterior
como ministro das Relações Exteriores para a América Latina, o
Nordeste Asiático e o Pacífico Sul,
e escolhi vir ao Brasil.
Se olharmos para a questão pelo
aspecto dos negócios, o desempenho de nossas exportações para o
Brasil no último ano é um dos
melhores do mundo. Somos um
dos três países que aumentaram a
fatia de comércio com o Brasil.
Queremos que isso continue.
Folha - Quais são as questões que
dão mais margem a uma cooperação entre o Brasil e o Reino Unido?
Rammel - A liberalização comercial, particularmente para produtos agrícolas, é uma área em que
temos um forte interesse comum.
Nós estamos na dianteira da defesa de uma reforma da PAC (Política Comum Agrícola) européia,
na qual sei que tanto o atual governo brasileiro quanto o novo
governo gostariam de ver mudanças. E, em toda a agenda do
desenvolvimento, também temos
um interesse comum.
Folha - Como o sr. vê a instabilidade política em certos países da
América Latina, como a Argentina
e principalmente a Venezuela?
Rammel - Acho que, em contraste, o Brasil tem uma situação
muito positiva. Há uma situação
muito estável aqui, tanto econômica quanto politicamente. E
acho que a eleição de Lula é o teste
de sua democracia, vocês passaram nele com notas altas.
A situação na Venezuela é muito preocupante. Quaisquer que
sejam as discordâncias entre as
pessoas, o Estado de direito e o
respeito a vitórias eleitorais são
muito importantes, e ficaríamos
preocupados com qualquer medida para remover o presidente
de forma inconstitucional.
Quanto à Argentina, o país passou por terríveis dificuldades financeiras e econômicas, e nós entendemos e respeitamos muito
sacrifícios que o governo e a população da Argentina tiveram de
fazer para tentar resolver essa situação. E queremos que a comunidade internacional apóie a Argentina tanto quanto for possível.
Mas acho que isso tem de ser
feito através da concordância da
Argentina em honrar seus compromissos com o FMI (Fundo
Monetário Internacional) e o
Banco Mundial.
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